Economia verde é alternativa para preservação ambiental, aponta pesquisador
09/08/2010 – Usar a natureza, respeitando seus ritmos. Essa é a premissa defendida pelo membro fundador da Sociedade Internacional da Economia Ecológica, Clóvis Cavalcanti, que também é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Durante a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho na cidade de Natal (RN), Cavalcanti destacou o conceito de Ecologia Verde, demonstrando a preocupação com o chamado desenvolvimento econômico, que deve estar atrelado à manutenção dos sistemas de apoio à vida. "Isso não implica que a economia fique parada ou estagnada, mas é preciso colocar a ecologia como sistema que sustente a economia". Confira a entrevista exclusiva concedida à Agência FAPEAM.
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Agência Fapeam – O senhor defende a ideia da economia sustentável. Explique como se constitui essa tese.
Clóvis Cavalcanti – A base da economia sustentável é a necessidade de fazer funcionar o sistema econômico, respeitando os limites impostos pela natureza especialmente, mas também os limites impostos pela ética e pelo que é desejável.
Agência Fapeam – Como essa economia verde pode ser aplicada às populações amazônicas?
Clóvis Cavalcanti – Na verdade, essas populações já praticam a economia verde. Tanto que eu pesquisei o assunto e escrevi um trabalho que foi publicado em uma revista científica da Europa a respeito do que eu chamo de etnoeconomia, que é a economia verde dos povos tradicionais indígenas, não somente da Amazônia, mas do mundo inteiro. Publiquei e saiu na revista da Associação Internacional de Sociologia, no mês de janeiro de 2002.
Agência Fapeam – E este trabalho trata exatamente sobre o quê?
Clóvis Cavalcanti – A questão é que os indígenas sabem aplicar o conhecimento ecológico para usar a natureza sem que ela perca a vitalidade. Para que o processo se reproduza continuamente, sem limites. Isso que é exatamente a ideia de sustentabilidade.
Agência Fapeam – O senhor afirma que o hiperconsumo pode desequilibrar a economia do país. Nesse sentido, há possibilidade da formação de uma bolha?
Clóvis Cavalcanti – Sem dúvida, porque o consumo excessivo representa o endividamento, pois as pessoas, para consumirem mais, precisam usar artifícios. Com o dinheiro que você recebe, com sua renda mensal, você já sabe quais os limites dos seus gastos, mas muitas pessoas que têm o cartão de crédito, por exemplo, o utilizam como passaporte para ampliar o seu consumo. Compram o DVD, o celular, e gastam mais no supermercado. Isso é uma ilusão, porque as pessoas vão se confrontar com a realidade mais cedo ou mais tarde, pois terão que pagar a conta. Às vezes a conta é muito salgada por causa dos juros, que no Brasil são muito altos, assustadores, isso tira o sossego de qualquer um.
Agência Fapeam – O senhor falou que a sociedade deve passar por uma transfiguração a fim de atingir a Ecologia da Consciência. Explique do que se trata esse conceito para melhor compreensão da sociedade.
Clóvis Cavalcanti – É saber que a natureza é uma entidade superior. Superior no sentido de que ela vem antes da gente. Ela dita as regras. A água vem da natureza, a gente não pode viver sem água. Então, não custa nada ter uma atitude de reverência à natureza.
Agência Fapeam – Como o senhor avalia o Amazonas dentro dessa economia verde? O Estado está no caminho certo para essa economia?
Clóvis Cavalcanti – Acho que o Estado do Amazonas sofreu muito por conta de questões políticas. O ex-governador já falecido, Gilberto Mestrinho, em 1981, num seminário realizado em Manaus, disse que o Amazonas tinha floresta demais, que não fazia mal cortar um pouco da floresta para criar indústrias e outras atividades econômicas.
O problema é que você corta um pouco aqui, outro acolá. Aos poucos você vai tirando uma riqueza que ainda não foi bem aproveitada porque a floresta presta serviços gratuitos, mas que poderiam se transformar em serviços pagos. Quem pagaria pelos serviços da Amazônia? O mundo inteiro.
Como? Criando mecanismos que remunerassem o Brasil pela conservação da Floresta Amazônica. E o dinheiro resultante dessa remuneração seria utilizado pelo Estado para pagar as pessoas que conservam a floresta. A ideia é que, ao invés de cortar uma castanheira, deixem a árvore em pé. Ao invés de cortar uma árvore de andiroba, deixem ela em pé. Se as pessoas forem pagas para isso, vai aumentar o nível de renda, sem precisar destruir a floresta.
Cristiane Barbosa – Agência Fapeam