Artigo: Quebra de paradigma


Durante quase toda minha experiência acadêmica, queixava-me da quase total impossibilidade de o Brasil ter cientistas jovens. Parecia necessário às pessoas inclinadas à produção científica terem a obrigação da idade avançada. Raramente se viam jovens cientistas, como se fosse impossível incluir nos níveis mais baixos da escolaridade a preocupação com a pesquisa.

 

O resultado era o encurtamento da vida do cientista, por todos os títulos prejudicial ao país. A causa parecia estar no hábito temporão (sem qualquer segunda intenção) de só tratar da pesquisa e ciência nos cursos de mestrado e doutorado. Nos bancos universitários começava-se a ouvir falar do assunto, apenas tímida e superficialmente, quando disciplinas ligadas aos métodos e técnicas de pesquisa ou de estudo eram ministradas. Penso ter testemunhado, na semana passada, tentativa séria de quebrar o que parecia paradigmático da escola brasileira.

 

A feira e a exposição de projetos de pesquisa executados por alunos dos níveis básico e médio das escolas públicas de Manaus rompe o círculo inibidor da atividade científica. Financiados pela FAPEAM, os projetos revelam a possibilidade de falar de ciência desde os primeiros dias da escola, não importa seu nível. Descobrir a linguagem a ser utilizada e as formas de entusiasmar crianças e jovens à investigação científica é o que se tem a fazer, como confia a Fundação e mostraram professores e alunos cujos trabalhos foram expostos.

 

Com certeza, não demorará muito a vermos despontar no universo científico do país jovens pesquisadores, que buscarão no mestrado e no doutorado não sua primeira experiência como profissionais, mas a consolidação de carreira antes iniciada. Não houvesse outras vitórias a festejar, a FAPEAM, só por essa iniciativa já justificou sua criação.

 

Publicado no Jornal A crítica de 16 de março de 2010

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