Amazônia precisa de mais capital intelectual, afirmam gestores em Conferência


“Sabemos do que a Amazônia precisa. Um dos grandes gargalos é a falta de capital intelectual. Não há outra forma de tirar proveito das riquezas da região se não for por meio da geração de conhecimento”. A declaração é do diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Odenildo Teixeira Sena, durante a 2ª Conferência Regional Norte de Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorre em Belém (PA).

Segundo ele, não há nada de novo nos discursos sobre a Amazônia, bem como na formação de recursos humanos e investimentos, que foram ditos nesta quinta (18) e sexta-feira (19). Isso ocorre porque o que é dito não está tendo ressonância. “Estou cansado de ouvir falar sobre a Amazônia sem que isso se reverta em ações. Os resultados obtidos foram por meio de iniciativas próprias dos Estados do Amazonas e do Pará, por exemplo”, salientou.

De acordo com Sena, o problema da falta de ressonância ocorre porque não há compreensão do brasileiro sobre o que representa a Amazônia. Ele explicou que falta compreensão, sensibilidade e ações políticas, como as que criaram a Universidade de Campinas (Unicamp) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). “O resto do Brasil já pagou caro pelo crescimento de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro”, frisou.

/Durante a conferência, Sena apresentou os resultados dos investimentos feitos pelo Governo do Estado, por meio da Fapeam, na formação de recursos humanos, em infra-estrutura para laboratórios e em grupos de pesquisa. Claro que, segundo ele, muito já foi feito, mas é pouco para o que a Amazônia precisa.

“De 2003 a 2009, o Amazonas investiu mais de R$ 198 milhões em ciência. Desse total, as instituições mais beneficiadas foram o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa, com R$ 53,27 milhões), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam, com R$ 48,5 milhões) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA, com R$ 25,5 milhões)”, informou e acrescentou que a região está vivendo um momento diferente, todavia, é indiscutível dizer que a ainda carece de recursos.

Não há outra saída a não ser considerar a Amazônia como estratégica, defendeu Sena, e reforçou que é preciso assumir o desafio de reduzir desigualdades, como aumentar o número de mestres e doutores e incentivar que outras instituições também façam pesquisa. Ele citou como exemplo os casos bem sucedidos da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) e Hemoam.

A diretora técnico-científica da Fapeam, Patrícia Sampaio, lembrou que a Amazônia permaneceu separada do Estado brasileiro por mais de 200 anos e compõe esse Estado que insistem de chamar de nacional. Por isso, é preciso reconhecer que se deve reunir esforços para homogeneizar formação de recursos humanos e doutores para desenvolver a região. “Temos que marcar posição, precisamos formar competências, mas não temos pesquisadores suficientes”, frisou.

Todas as ações implementadas pela Fapeam, conforme Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (Musa), que participou do debate, é feito por meio de bolsas. Ele salientou que não há como viver dependendo sempre das bolsas de doutorado. É preciso negociar ações políticas para a criação de vagas para as instituições de ensino e pesquisa do Norte. “A Receita e a Polícia Rodoviária Federal conseguem. Por que as instituições de pesquisa não conseguem?”, questionou.

Segundo ele, é preciso oferecer emprego para fixar os doutores na Amazônia por meio de uma política de longo prazo. Dessa forma, será possível transformar o Polo Industrial de Manaus, por exemplo, em um local produtor de tecnologia. “É um desafio, mas precisa ser feito”, observou.   

Foto da mesa: Antônio Neto/Fapespa

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

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