Brincadeiras e jogos ajudam na recuperação de crianças com câncer
“Brincar faz bem à saúde”. Certamente em algum momento da sua vida você já ouviu esta frase. Mas uma pesquisa decidiu investigar o assunto e revelou que esse ato, tão corrente na vida das crianças, representa um mecanismo poderoso para ajudar a recuperar crianças e adolescentes sob os efeitos, por exemplo, da quimioterapia.
Segundo a pesquisadora e professora da Escola de Enfermagem de Manaus da Universidade Federal do Amazonas (EEM/Ufam), Arinete Veras Fontes Esteves, a pesquisa, realizada em parceria com a USP de Ribeirão Preto, constatou cientificamente que as atividades lúdicas, desenvolvidas junto a pacientes internados e em tratamento contra câncer, permitem a melhoria da saúde.
A professora explicou que, durante toda sua vida acadêmica, sempre teve interesse pelo ato de brincar, acreditando que isso poderia ser utilizado como uma ferramenta importante de educação e ajuda na memorização dos fatos e ações cognitivas.
Partindo dessa observação, Esteves realizou a pesquisa com o título “Compreendendo a criança e o adolescente com câncer em tratamento quimioterápico durante a atividade de utilização do brinquedo” cujo objetivo foi verificar a taxa de recuperação de pacientes na faixa etária entre 6 a 14 anos de idade, submetidos a atividades lúdicas. O trabalho, já concluído, rendeu uma tese de doutorado que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Amazonas /Rh-Insterinstitucional.
Descobertas
Segundo Esteves, a criança se vê doente por conta do tratamento a que é submetida. A quimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células cancerígenas. Dentro do corpo humano, cada medicamento age de uma maneira diferente. “Por este motivo são utilizados vários tipos de medicamentos a cada vez que o paciente recebe o tratamento. Normalmente, estes medicamentos causam efeitos colaterais intensos, como um profundo mal estar e vômito, e a criança não tem interesse, nem vontade de brincar e comer”, salientou.
A pesquisa teve início em decorrência da necessidade de comprovar se o ato de brincar era importante ou não para recuperação destes pacientes. A coleta de dados durou três meses com visitas diárias à Fundação Hemoam que implicavam no desenvolvimento de atividades para as crianças. “Durante a quimioterapia, momento em que realizamos as atividades, as crianças estavam em pulsão venosa, ou seja, com agulhas na veia para acessar a corrente sanguínea, algumas com bolsa de infusão ou até duas entradas de infusão. Mesmo assim, não deixamos de desenvolver atividades com vídeo games, desenho, pintura, bingo, olimpíada de matemática, dentre outras”, explicou.
Esteves disse que ficou surpresa por não detectar nenhuma recusa de participação nas atividades por parte das crianças no decorrer do processo. A pesquisadora acredita que as atividades lúdicas são um meio de socialização e descoberta do mundo. “Simultaneamente, a cada dia, eram oferecidos brinquedos e jogos diferenciados, e realizadas as observações de como as crianças se relacionavam e respondiam às atividades, mesmo fazendo um tratamento pesado”, completou.
Para a professora, nessa faixa etária, o sentimento expressa com maior clareza a relação entre eles, tornando as atividades prazerosas, pois as crianças recebem um atendimento individualizado em razão da influência de outras crianças.
Depois da etapa das atividades com brinquedos, a pesquisa passou para as atividades de leitura e escuta das entrevistas, no sentido de entender todo processo evolutivo no quadro dos participantes da pesquisa.
“O trabalho de pesquisa explorou a fenomenologia, para entender o existir da criança, na realização da análise, transformando suas falas em unidades de significados. Após isso, foi feita a descrição dessas unidades em que se observou a fala de cada uma, relacionando com o brincar de acordo com a faixa etária”, finalizou Esteves.
Continuidade
Os resultados da pesquisas foram tão positivos que atualmente as atividades continuam sendo realizadas na Fundação Hemoam, por meio de uma Ação Curricular de Extensão (ACE/UFAM) com o projeto “O brincar no hospital” envolvendo professores e 10 alunos voluntários dos cursos de Enfermagem, Medicina e Biologia.
O projeto atende as crianças em tratamento e a família do paciente. É realizado todas as quartas-feiras e utiliza-se de bingos, vídeo games, videokê, violão, jogos didático, entre outros recursos.
Sobre o RH-Interinstitucional
O Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Amazonas consiste em apoiar, com bolsa de curta duração, alunos de mestrado e doutorado formalmente matriculados em curso de pós-graduação fora de sede ofertados em Manaus e credenciados pela Capes, para desenvolvimento de atividades acadêmicas na instituição parceira.
Foto 1 – Dra Arinete continua as atividades na Fhemoam (Sebastião Alves)
Foto 2 – Quimioterapia deixa pacientes debilitados (Divulgação)
Sebastião Alves – Agência Fapeam