‘Nosso desafio é transformar a pesquisa em produtos ou serviços’
Titular da Seplan-CTI, Thomaz Nogueira ressalta a importância da Ciência e Pesquisa no Amazonas como aliada à nova matriz econômica da região
O Amazonas se prepara para implantar uma nova matriz econômica e, dessa forma, sair desse círculo vicioso de que a economia local é focada apenas no Distrito Industrial. A proposta é aproveitar as potencialidades que o Estado possui em vários segmentos e fomentar o desenvolvimento econômico a partir disso. Mas, para que isso aconteça, a pesquisa é uma aliada fundamental que vai contribuir desde a base até o produto final.
E, consciente que o papel da Ciência e Pesquisa tem nesse novo cenário, o secretário de Estado de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Seplan-CTI), Thomaz Nogueira fala à Agência Fapeam dos projetos em torno do assunto e reconhece que o grande desafio do Estado, a partir de agora, é transformar a pesquisa realizada no Amazonas em produtos ou serviços.
E um dos grandes vetores para difundir esse conhecimento produzido localmente é a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que já entra em sua 13ª edição e este ano acontece durante 39 dias no Amazonas, tanto na capital quanto no município de Itacoatiara, distante a 174 quilômetros de Manaus.
Agência Fapeam – Secretário, o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano é “Ciência Alimentando o Brasil” e foi escolhida baseada na decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que proclamou 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas (AIL). Como o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos, qual é o papel da Ciência e Tecnologia no agronegócio?
Thomaz Nogueira – A Ciência e Tecnologia permeia, hoje, qualquer iniciativa de desenvolvimento econômico e social. Não há mais espaço para você pensar no crescimento econômico sem que não haja o envolvimento da Ciência e Tecnologia. No caso específico da alimentação, nós temos dois desafios: a produtividade e o aspecto ambiental. Ou seja, nós precisamos aumentar a produtividade, mas sem avançar na utilização da área agriculturável, pois precisamos preservar o meio ambiente. Para isso, nós temos um planejamento para o desenvolvimento dessa atividade numa forma totalmente sustentável, que é o que chamamos de “Nova Matriz Econômica”. Essa matriz utilizará recursos naturais, incentivando ainda mais a piscicultura e fruticultura no nosso Estado. O Amazonas tem capacidade para gerar proteína animal de qualidade dentro do mercado mundial. Na área de fruticultura, o Estado pode focar na alimentação nutracêutica – que é aquela alimentação que produz uma reação orgânica positiva mais forte – com alimentos da própria região, como o açaí e cupuaçu, por exemplo. Já na área de piscicultura, nós podemos citar o Jaraqui, que tem uma expectativa de possuir mais Ômega 3 que o salmão, que é uma espécie marítima. Porém, para nós termos chegado a essas descobertas, foi preciso a Ciência ajudar, com as pesquisas e experimentos nessa área, pois nós estamos falando de uma atividade econômica que não anda sem o investimento da Ciência e Tecnologia.
AF – Criada em 2004, a SNCT vem despertando a cada ano o gosto pela Ciência de crianças, jovens e adultos. Qual é o impacto que se espera deste evento anual?
Thomaz Nogueira – A Semana Nacional tem dois objetivos: a disseminação da Ciência e Tecnologia e o estímulo à participação no desenvolvimento científico e tecnológico. Ano passado, eu fiquei impactado com as soluções que alguns estudantes de escolas públicas apresentaram, especialmente na área de robótica. Por exemplo, havia uma solução que foi exposta em que os alunos fizeram um painel que capturava energia solar e, da acumulação da energia, eles fizeram funcionar uma mão biônica e um robô e, fizeram todo esse ciclo com papelão e materiais absolutamente rústicos. É o conhecimento aliado à criatividade e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia desperta isso. Assim sendo, ela é fundamental para suscitar essa curiosidade científica e tecnológica nas pessoas.

Conforme o secretário, o Governo possui um planejamento em que pretende focar nos investimentos de pesquisas na região para contribuir para o desenvolvimento econômico local
AF – Como está o investimento do Governo na área da Ciência?
Thomaz Nogueira – Nós investimos bastante na área da Ciência, mas o que nós queremos agora é investir melhor, com foco. Por exemplo, eu pessoalmente tenho o interesse em pesquisar Direito Público, mas o nosso foco no momento, a nossa contribuição para a humanidade é a Biotecnologia, pois nós temos acesso a uma grande biodiversidade. Às vezes nós ficamos pensando em eletroeletrônica, em microeletrônica, em nanotecnologia, e esquecemos que nós temos a nossa contribuição específica, que é a biotecnologia. Nós não vamos deixar de tratar das outras questões, como as que eu citei, mas o nosso foco é a biodiversidade.
AF – A Seplan-CTI incentiva, sempre por meio de instituições de pesquisas e da Agência de Fomento, projetos quem têm como foco a inovação. De que forma a instituição ajuda ou acompanha esses projetos na geração de produtos e, consequentemente, de emprego e renda para a população?
Thomaz Nogueira – Já existe há algum tempo uma série de pesquisas absolutamente relevantes para esse processo de desenvolvimento. O que nós queremos agora é inseri-las no que nós chamamos de Arranjos Produtivos Locais (APL), porque a pesquisa não existe sozinha. O conhecimento isolado tem um valor, mas é pequeno, ele precisa ir para a sua aplicabilidade, então o nosso desafio de agora é exatamente esse: transformar a pesquisa em produtos ou serviços. A pesquisa básica é fundamental, mas ela precisa ter consequência. Por conta disso, nós realizamos um mapeamento para acompanhar o perfil dessas pesquisas e foram verificados poucos estudos na parte de desenvolvimento tecnológico, que é o um dos maiores contribuintes em retorno financeiro. Então, a solução para isso é incentivar mais projetos na área de pesquisas aplicadas e fazer com que esses projetos saiam do papel e se tornem serviços ou produtos.
AF – O que o Estado planeja para a CT&I, em 2017?
Thomaz Nogueira – Nós estamos fomentando a pesquisa aplicada, que faz parte do início de um processo de desenvolvimento tecnológico, porém, essa etapa de implementação é um pouco mais lenta, devido a contratos anteriores que ainda estão em andamento. Nós honraremos esses contratos e, noutro momento – que nós esperamos que seja a partir de 2017 – iniciaremos esse conjunto de pesquisas destinadas ao desenvolvimento tecnológico, mantendo a pesquisa básica, mas focando naquilo que o Amazonas tem para contribuir para a Ciência e para o mundo. Então, o grande desafio da administração para 2017 é dar um foco nas nossas maiores potencialidades em relação à produção de Ciência e Tecnologia no Estado, e este foco é, muito claramente, a Biotecnologia, com ênfase na produção de alimentos, cosméticos, preservação do meio ambiente e recursos hídricos.
AF – Na sua avaliação, qual a importância da Fapeam, um braço da Secretaria de Ciência e Tecnologia e com 13 anos de existência, no fomento à pesquisa científica e inovação no Amazonas?
Thomaz Nogueira – O Estado do Amazonas reserva parte do seu orçamento para pesquisas. Em termos constitucionais, a Fapeam dá organicidade nisso. Se nós não tivéssemos um instrumento como a Fapeam, isso teria uma dispersão enorme. Então, essa instituição tem uma história vitoriosa no desenvolvimento de pesquisas e de formação de quadros de pesquisadores e cientistas. O nosso desafio nesse ponto é a retenção desses talentos para que permaneçam conosco, pois muitas vezes nós formamos pesquisadores e acabamos perdendo-os para outros Estados e países. Nós só iremos conseguir manter esses pesquisadores no nosso Estado se nós tivermos um ambiente de pesquisa estimulante e interessante para esse quadro de cientistas que nós formamos. Esse é o nosso objetivo e a Fapeam vem trabalhando nisso.
Ada Lima – Agência Fapeam
Fotos: Érico Xavier – Agência Fapeam