Esgoto ecológico é solução para o meio ambiente
Preocupado com o meio ambiente, o engenheiro civil Antônio Bento Neves, diretor técnico da empresa Ecoete Tecnologia de Preservação Ambiental disponibiliza aos amazonenses uma forma ecologicamente correta para o tratamento esgoto por meio de utilização de plantas da região.
O tratamento de esgotos é obrigatório para as novas construções e está previsto na Lei Municipal nº 1192/07, que criou o Programa de Tratamento, Uso Racional e Conservação das Águas nas Edificações de Manaus. Por outro lado, pesquisas realizadas sobre o uso de determinadas plantas tem se revelado uma alternativa eficiente e de baixo custo em relação aos sistemas convencionais.
Nesse processo, é fundamental o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do programa PAPPE Subvenção, que consiste em liberar recursos financeiros para micro e pequenas empresas desenvolverem tecnologias inovadoras. Em entrevista exclusiva à Agência Fapeam, Neves fala um pouco sobre a relevância de seu projeto e como isso pode contribuir para a preservação do meio ambiente. Confira!
Agência Fapeam – O tratamento de esgotos é uma tecnologia nova? Como surgiu essa ideia?
Antônio Bento Neto – O tratamento de esgotos com plantas não é uma tecnologia nova. Na Europa, em países como a Alemanha e a Suíça, esse método já é utilizado há mais de cem anos. Resolvemos aplicar ele em Manaus porque não há tratamento de esgoto público e todos os dejetos acabam indo para os rios. Por isso, procuramos formas de tratamento dessa água antes de despejá-la na natureza.
Agência Fapeam – O tratamento ecológico de esgotos desenvolvido pela Ecoete consiste em utilizar plantas que atuam como agentes naturais de limpeza. Quais tipos de plantas podem ser usadas nesses processos?
AN – Plantas que tenham boa capacidade de liberar oxigênio e nitrogênio. A planta utiliza esses gases no seu metabolismo para sobreviver. Ao retirar os nutrientes necessários para sua manutenção, automaticamente, realiza a limpeza do esgoto. O interessante é que essas plantas eliminam até os resíduos de metais pesados. Em nossos sistemas, trabalhamos com a monguba (Bombacaceae Pseudo Bombax), e matapasto (Senna Obtusifolia) e vamos começar uma pesquisa com a canarana, uma espécie de gramínea da própria região amazônica que tem grande potencial para esse trabalho.
Agência Fapeam – O resultado do tratamento do esgoto é total?
AN – Quase. As análises físico-biológicas garantem cerca de 95% de remoção dos detritos da poluição do esgoto. O interessante disso tudo é o retorno da água para a natureza é realizado de forma “ecologicamente correta”.
Agência Fapeam – Qual o estágio atual da pesquisa hoje?
AN – Estamos avaliando as espécies já citadas anteriormente. Temos dois projetos no Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa). A primeira estação Inpa, localizada no laboratório temático de tecnologia de alimentos, e a segunda estação, que será no igarapé que circula no terreno instituição. Nosso desafio é melhorar e conhecer mais esse sistema por meios dos incentivos da FAPEAM e do Inpa.
Agência Fapeam – Há receptividade das instituições públicas, em novas obras para a aplicação desse sistema de tratamento?
AN – Sim. Atualmente a Lei Municipal nº 1192/07 do Pró-águas torna obrigatório a construção de tratamento de águas. Já realizamos estações de tratamento em escolas públicas, Inpa, FAPEAM e a Prefeitura também está utilizando nosso projeto para colocar em concorrências públicas.
Agência Fapeam – Que vantagens o esgoto ecológico proporciona ao consumidor?
AN – Além da redução de 95% dos detritos, as principais vantagens são a baixa produção de biomassa, baixo consumo de energia, de custo operacional e dispensa mão de obra especializada para fazer a manutenção. Além disso, depois do processo de limpeza, a água pode ser reutilizada para lavar de carros e irrigar as plantas.
Agência Fapeam – O senhor afirmou que não é algo novo. Então qual é o diferencial da Ecoete nesse sistema de tratamento?
AN – O nosso diferencial é fazer com que o custo do sistema chegue a ser 30% a 40% inferior aos sistemas convencionais. O funcionamento do sistema se dá por gravidade, sem utilização de componentes mecânicos ou elétricos, e a área destinada à zona de raízes se transforma em atraente jardim ornamental. A média de implantação também é diferente e dura, em média, 30 dias.
Agência Fapeam – Como o senhor avalia o apoio da FAPEAM por meio de Programas como o PAPPE Subvenção para o desenvolvimento do Estado?
AN – O aporte financeiro concedido pela Fundação ao projeto é fundamental. As inovações precisam ser incentivadas. Precisamos dar soluções para problemas como a poluição e preservação do meio ambiente e o apoio da FAPEAM é essencial nesse sentido.
(Fotos: Experimento no Inpa, Ricardo Oliveira/Fapeam)
Kelly Mello e Carlos Fábio Guimarães – Agência Fapeam