Pesquisas sobre água e meio ambiente ganham reforço
Criado com o objetivo de desenvolver tecnologias verdes com foco na solução dos problemas da Amazônia e do país relacionados à energia, combustíveis, biodiversidade e decomposição de material orgânico prejudicial ao meio ambiente, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Energia, Ambiente e Biodiversidade (INCT-EAB), afiliado à Universidade do Estado do Amazonas (UEA), é uma instituição que se dedica a compreender e propor alternativas para minimizar os efeitos das questões cruciais globais que a humanidade está enfrentando como as mudanças do clima e as condições ambientais.
Na última semana de fevereiro, o workshop sobre a qualidade da água e remediação ambiental serviu para integrar pesquisadores dos INCT Ambientais – CEAB/UEA e o Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA/USP) – que abordaram temas como abastecimento e qualidade da água, tipos de contaminações e técnicas de recuperação de águas contaminadas.
Nesta entrevista exclusiva para a Agência Fapeam, o PhD e coordenador geral do INCT/CEAB/UEA, José Carlos Verle Rodrigues, fala dessa experiência e sobre os avanços deste que é um dos seis INCTs aprovados no Amazonas e que recebem recursos do Estado por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
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Agência Fapeam – Qual a importância do INCT/EAB/UEA para a região amazônica?
José Carlos Rodrigues– O Instituo busca colocar juntos os pesquisadores e a sociedade, como o evento que realizamos para discutir nossas atividades em fevereiro. Tivemos aqui no Estado do Amazonas um encontro que reuniu a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a sociedade e empresas que atuam com o mesmo objetivo e precisam trabalhar juntas buscando solucionar problemas da água, do setor ambiental.
Agência Fapeam – Em termos de estrutura e parcerias, como está o funcionamento do INCT com outras instituições para viabilização de pesquisas?
JCR – Estamos trabalhando com mais de 24 instituições ligadas ao INCT, como a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e a politécnica de São Paulo, que tem uma experiência muito grande com a qualidade e abastecimento de água, problemas que temos em Manaus. Os pontos fortes que estamos trabalhando aqui envolvem também áreas como química, bioquímica, biologia molecular, antropologia e educação. Nós temos parcerias com outras instituições e com outras faculdades e institutos, como Ufam e Inpa, além de outras instituições sediadas no Amazonas.
Agência Fapeam – Já existe algum resultado prático resultante da instalação do INCT?
JCR – A criação do Instituto é bem recente, tem meses que começamos a operar e nem todos os recursos foram liberados. Atualmente, estamos montando o corpo de pesquisadores e auxiliares. Para isso, bolsas estão sendo concedidas tanto em Manaus quanto no interior para a formação de recursos humanos. O Instituto teve recentemente um resultado positivo atuando nos estudos sobre a invasão de uma praga nova na região Norte, o àcaro vermelho, que atacou as plantações de banana. O Instituto trabalhou nesse problema com pesquisadores que já tinham informações sobre a praga em regiões do Caribe de modo que, no momento em que essa praga chegou aqui, nós já tínhamos materiais selecionados para estudos. Este é um resultado fantástico não só para o Amazonas ou para o Norte do país, mas também para todo o país. O Brasil é e continuará sendo um dos grandes produtores mundiais de banana e um grande produtor de espécies importantes no ambiente natural em toda Amazônia. Só essa conquista paga todos os programas dos 123 institutos. Isso foi conseguido em menos de seis meses e mostrou que, quando temos pessoas e instituições trabalhando juntas, é possível atingir resultados práticos com mais facilidade. Mas ainda tem muito a ser feito.
Agência Fapeam – Quais os resultados esperados nas diversas áreas em que o Instituto vem atuando?
JCR – Temos boas expectativas quando se trata da qualidade da água, sedimentos, atmosfera, floresta, meio ambiente, entre outros temas, mas o mais importante é que existe por parte dos participantes do INCT, dos colaboradores e da sociedade uma demanda grande de serviços e pesquisas para a solução de problemas que devem ser resolvidos pelo Instituto. Para isso temos um excelente corpo técnico que atua não só no Amazonas ou no Brasil, mas no mundo todo.
Agência Fapeam – Atualmente, como está a situação da qualidade da água consumida no Amazonas? É possível ter uma noção?
JCR – Sabemos que necessitamos melhorar muito. A situação da empresa Águas do Amazonas é preocupante, apesar do trabalho excelente desenvolvido nos últimos anos em termos de investimentos, melhorando o sistema de abastecimento. Como bem colocou o presidente da empresa, ainda há muito a se fazer e isso não depende de companhia de águas ou do governo, depende de todos nós como indivíduos para colaborar nesse processo. Isto é o que a UEA, como um centro pesquisa e de educação, quer: fazer com que as pessoas tenham não só uma carteira de identidade, mas uma carteira de cidadão.
Agência Fapeam – Existem pessoas no mundo que dizem que a água pode ser motivo de conflito no futuro, o senhor acredita nisso?
JCR – Infelizmente esse conflito já existe, não só entre países ou entre Estados, mas também dentro de uma comunidade. Lembro que estávamos nos mês de janeiro trabalhando num projeto na Califórnia (EUA), onde há um conflito entre municípios, entre as companhias que fazem o uso da água para a agricultura e as que abastecem as cidades. Trata-se de um conflito enorme e interno, não um conflito disperso ou atrofiado. Nós assemelhamos esse fato a um conflito entre pessoas que se preocupam em manter e preservar os mananciais e as nascentes e aquelas pessoas que jogam lixo e não procuram manter ou melhorar as condições de esgoto. Isso é a prova que já vivemos um conflito.
Ulysses Varela e Filipe Augusto– Agência Fapeam