Confira discurso de Braga na inauguração da Fapeam
Confira, na íntegra, o discurso do governador do Estado do Amazonas, Carlos Eduardo de Souza Braga, durante a solenidade de inauguração da sede definitiva da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), na última sexta-feira (23/10), em Manaus.
Durante mais de 15 minutos, Braga destacou a importância da Fapeam para o Estado do Amazonas, em face de seus investimentos no incremento da ciência, da tecnologia e da inovação, ressaltando sobretudo a formação de recursos humanos especializados.
Em vários momentos, o discurso do governador arrancou aplausos entusiasmados da comunidade científica e dos demais convidados presentes na solenidade.
Leia, abaixo, como foi o discurso.
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Eduardo Braga, governador do Amazonas:
Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar todos aqui presentes. Em segundo lugar, eu poderia dizer a vocês o seguinte:
– Odenildo, eu poderia, na véspera dos 340 anos da cidade de Manaus, escolher qualquer obra do nosso governo, entre tantas, para que nós inaugurássemos em homenagem à capital. Mas dentre essas obras nós escolhemos a Fapeam. E quando escolhemos inaugurar a Fapeam, não foi por acaso. Não é porque a Fapeam represente, talvez, a maior obra física do nosso governo. Mas é porque, se nós queremos vencer as desigualdades econômicas, sociais e ambientais desta região, será exatamente por meio da formação de mestres e doutores, dos investimentos em ciência e tecnologia no Amazonas e da preparação do nosso povo que nós conseguiremos reverter o quadro de pobreza, exclusão social e de falta de desenvolvimento para as comunidades mais isoladas.
(aplausos)
Quando eu fui relator da Constituição do Estado do Amazonas, eu era um jovem de 25 anos de idade que sonhava com um Amazonas diferente. Eu entendia que se Deus quisesse que esse povo fosse miserável, não teria dado ao Amazonas tanta riqueza como a que Ele nos deu. O que falta, e ainda falta muito, é conhecimento e tecnologia para nós transformarmos essa riqueza em desenvolvimento sustentável, justiça, renda e vida melhor para esse povo. E eu, quando relator, fiz uma emenda criando a Fapeam.
Meus amigos, na época, eu quase fui trucidado, porque as pessoas não entendiam a importância, àquela altura, de uma Fapeam. E não é à toa que o Amazonas, por exemplo, tem 35 anos de Cecon e tem apenas cinco quimioterapeutas formados no Amazonas. Não é á toa, também, que o Cecon tem apenas uma dúzia de radioterapeutas formados no Estado. É porque há 35 anos não existia uma Fapeam para formar especialistas que o povo precisa para resolver os seus problemas.
Esta Fapeam teve a coragem e a ousadia de criar uma estrutura enxuta e, ao mesmo tempo, fazer dos seus recursos prioridade absoluta no investimento para formação de especialistas, mestres e doutores que o Brasil e o Amazonas precisavam.
Para nós melhorarmos a qualidade da educação, em matemática, português, química, física e biologia, é preciso que os professores se tornem especialistas nessas matérias e que passem a ter conteúdo para poder ter na sala de aula, lá em nossa São Gabriel da Cachoeira, em Parintins, em Boca do Acre, aqui no bairro do Jorge Teixeira, mestres e doutores formando as futuras gerações para que o Amazonas possa sair do último ou penúltimo lugar nas avaliações dessas disciplinas.
Sete anos depois… eu tenho muito orgulho de poder ter contribuído para que o Amazonas tenha transformado esse passivo em uma vantagem comparativa. Eu disse para o Omar:
– Omar, o que nós estamos inaugurando aqui talvez tenha custado um pouco mais de dois milhões de reais (R$ 2 mi) com todos os seus equipamentos. Mas só em formação de recursos humanos, hoje, a Fapeam anuncia cinquenta milhões de reais (R$ 50 mi) em investimentos para o futuro.
(aplausos)
E ainda pouco, nosso companheiro, representante do CNPq, José Roberto, veio aqui para dar um anúncio que eu gostaria muito que fosse interpretado da dimensão que verdadeiramente é.
(referindo-se ao anúncio de mais 70 bolsas de doutorado financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
O Odenildo, em sua fala, disse:
– Estamos criando um programa hoje, e lançando um edital para 100 bolsas de doutorado para amazonenses.
Cem bolsas, com as quais nossos profissionais poderão entrar ou na USP ou em Minas Gerais, ou na Unicamp, ou na Fundação Getúlio Vargas, ou em alguma universidade, até mesmo fora do Brasil, e ir buscar a sua formação.
Com uma simplicidade histórica, nosso companheiro do CNPq veio aqui e disse “olha, nós vamos dar mais 70 bolsas”, o que significa que nós estamos quase dobrando. Estamos indo de 100 para 170.
(aplausos)
Alguém deve dizer: “Isso é nada”.
Meus amigos, quando chegamos ao governo, entre mestres e doutores, esse Estado tinha 345. Nesses sete anos, nós já formamos mais de 700 mestres e doutores. Fizemos mais em sete do que foram feitos em 35.
(aplausos)
Nós fizemos por quê? Por obra nossa? Não. Uma obra da coragem e da ousadia daqueles que precisavam apenas da oportunidade e do mecanismo para fazer o Amazonas.
O Amazonas deixou de ficar questionando por que a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] não fazia, por que a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] não fazia, por que o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] não fazia, e passou a fazer. E, passando a fazer, ganhou credibilidade. E ganhando credibilidade, hoje, os nossos principais financiadores, os nossos principais apoiadores são exatamente a Capes, o CNPq e a Finep. Por isso, muito obrigado. Em nome das futuras gerações, pela diferença que isso representa. (aplausos)
Então, nós optamos por comemorar o tricentésimo quadragésimo aniversário da cidade de Manaus inaugurando a nova sede da Fapeam. Não pela obra, mas pelo conjunto da obra que a Fapeam está construindo. A construção da Fapeam não está no tijolo, nem na cerâmica desse prédio, está no conhecimento que ela está trazendo para aqueles que multiplicarão esse conhecimento para as futuras gerações.
(aplausos)
Está na ponte tecnológica que vai ser capaz de transformar as riquezas em desenvolvimento sustentável.
Eu fiz muito discurso na época da minha universidade, da minha juventude, defendendo a demarcação de terra indígena. O que mudou na vida dos índios? Pouco ou quase nada. Porque se demarcou, mas não se criou políticas de desenvolvimento dentro das terras indígenas. No nosso governo, no governo do presidente Lula, nós estamos começando a resgatar isso. O passivo ainda é muito grande, mas esta Fapeam tem sido pioneira, junto com a nossa universidade, para a formação de jovens índios, que estão se transformando em mestres e doutores para que os nossos índios amanhã sejam exemplo de desenvolvimento étnico e responsável com o ambiental, o econômico e o social.
(aplausos)
Portanto, dizer que uma releitura do homem com a natureza está acontecendo no Amazonas não pode ser feito sem que se discuta a importância da ciência e da tecnologia. Ciência e tecnologia não podem ser discutidas hoje no Brasil sem que a Fapeam esteja presente.
Hoje, se nós temos condições para nos integrarmos a uma força-tarefa do governo e do presidente para ajudarmos na elaboração de uma proposta que será não apenas do Amazonas, mas da Amazônia e do Brasil em Copenhague, é porque temos atrás de nós um Inpa, uma Fapeam, uma UEA, uma Ufam e uma série de instituições de ciência e tecnologia e de pesquisa que habilitam o Amazonas a formar inteligências.
(aplausos)
Portanto, esta inauguração é o reconhecimento do trabalho de muitos, mas acima de tudo um agradecimento a cada um e a cada uma que nos ajudou a construir a Fapeam, a transformar o sonho em realidade, e que está nos ajudando a preparar o Amazonas para o futuro, investindo e qualificando para melhores gerações.
A minha homenagem ao povo do Amazonas se dá aqui, onde se forma o conhecimento, se desenvolve tecnologia, se desenvolve a ciência e se escreve e se reescreve um futuro digno para o nosso povo e para a nossa vida. Que Deus abençoe a todos.
Muito obrigado a todos e que Deus esteja presente em cada uma das decisões dessa casa.
(aplausos)
Rômulo Araújo – Agência Fapeam