Pesquisa aprimora exame de úlcera genital


Um protocolo baseado em ferramentas de biologia molecular, por meio do ácido desoxirribonucleico (DNA), promete mudar o quadro de incertezas na identificação da síndrome de úlcera genital. Com o novo exame, a precisão é de 70%. No Estado do Amazonas mais de 600 casos da doença foram diagnosticados entre os anos de 2005 e 2006, o que corresponde a quase um por dia.

A úlcera genital é uma doença transmitida sexualmente e atinge pessoas de qualquer idade que tenham vida sexualmente ativa e não fazem uso de preservativo. Geralmente a incerteza do diagnóstico correto inicia por causa dos exames de microscopia e cultura adotados hoje pelos hospitais, que não determinam com exatidão o agente causador do problema.

A questão é que a doença pode ser causada por cinco agentes infecciosos. Os três principais são o vírus Herpes, Herpes genital, as bactérias agentes da sífilis, Treponema pallidum, e o causador do cancro mole, Haemophilus ducreyi.

As informações fazem parte do projeto “Etiologia das úlceras genitais em centro de referência no Amazonas”, desenvolvido no âmbito do programa Desenvolvimento Científico Regional (DCR), mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Segundo pesquisador da Fiocruz e coordenador do projeto, Felipe Naveca, para identificação da doença os médicos seguem uma abordagem sindrômica, ou seja, o que está sendo visto, que é determinada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS).

“O problema é que os sintomas das doenças são semelhantes, o que dificulta ao médico, apenas baseado no exame físico, ter a certeza do agente causador para que possa prescrever o melhor tratamento ao paciente. O novo exame permitirá medidas mais eficazes para o tratamento dos pacientes”, observou, acrescentando que, por exemplo, no caso do Herpes é prescrita uma droga antiviral; mas no caso de suspeita de um agente bacteriano, são receitados antibióticos.

De acordo com Naveca, como existem diferentes tratamentos, conhecer o principal agente causador da úlcera genital no Amazonas contribuirá para tratamentos mais eficazes.

Novo exame

Sobre a identificação por meio do DNA, o cientista explica que esta é a primeira que se adota o exame para um tipo de Doença Sexualmente Transmissível (DST). O custo é alto, mas a meta é elevar o nível de certeza e diminuir os custos fazendo-o chegar ao custo de um exame comercial, que está entre R$ 30 e R$ 100, por exemplo. Procedimento já adotado para diagnosticar malária e dengue. “Quando trabalha-se em grande escala é possível baixar o preço”, salientou.

A pesquisa iniciou em janeiro de 2008 e está sendo realizada na Fundação Alfredo da Matta (FUAM), que é referência no tratamento e pesquisas em DST. Naveca salientou que o trabalho começou bem antes, pois teve de fazer o levantamento do número de casos atendidos no ambulatório de DST da FUAM.

O cientista afirmou que até o momento foram coletadas amostras de 360 pacientes, que apresentaram uma ou mais úlceras genitais. “Vale ressaltar que sem a contrapartida da FUAM, o projeto não teria sido possível, por meio de material descartável para coleta, armazenamento e processamento das amostras, além da mão-de-obra de funcionários que auxiliam em várias etapas do projeto. Ao todo, o investimento foi de aproximadamente 150 mil reais”, informou.

Sobre as doenças

Herpes – É uma doença que aparece e desaparece sozinha, de tempos em tempos, dependendo de certos fatores, como estresse, cansaço, esforço exagerado, febre, exposição ao sol, traumatismo e menstruação. Nas mulheres, o herpes pode também se localizar nas partes internas do corpo. Uma vez infectada pelo vírus da Herpes simples, a pessoa permanecerá com o vírus em seu organismo para sempre. Manifesta-se através de pequenas bolhas localizadas principalmente na parte externa da vagina e na ponta do pênis, que podem arder e causam coceira intensa. Ao se coçar, a pessoa pode romper a bolha, causando uma ferida.

Cancro mole – Conhecida popularmente como cavalo, a doença manifesta-se com feridas dolorosas na base mole. Os primeiros sintomas aparecem dois a cinco dias após a relação sexual desprotegida com um portador da doença, período que pode se estender até duas semanas.

Sífilis – Manifesta-se em três estágios: primária, secundária e terciária. Os dois primeiros estágios apresentam as características mais marcantes da infecção, quando se observam os principais sintomas. Ela desaparece durante um longo período. A pessoa não sente nada e apresenta uma aparente cura das lesões iniciais. A doença pode ficar estacionada por meses ou anos, até o momento em que surgem complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral, problemas cardíacos, podendo inclusive levar à morte.

Luís Mansuêto – Agência Fapeam 

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