Opinião: Amazonas faz ciência, artigo de Odenildo Sena


Há revoluções que, por natureza, são silenciosas. Estou me referindo ao campo da ciência, onde pesquisas, em geral, exigem um tempo de maturação que não se confunde com outras atividades. Muitas vezes, o final de um longo experimento acaba sendo apenas um indicador de que o cientista deve buscar outro percurso. O que se contabiliza aí não é tempo perdido, mas conhecimento acumulado que potencializa novas descobertas. Acontece que essa revolução se faz com gente altamente preparada. No caso particular da Amazônia, é ingenuidade achar que teremos domínio sobre ela sem produzirmos o maior volume possível de conhecimento acerca de suas riquezas. É fato óbvio: só se tem poder sobre aquilo que se conhece. Mas como dar conta de tamanho desafio, quando se conta com um número tão reduzido de pesquisadores. No caso particular do Amazonas, há uma revolução silenciosa em processo que, em apenas seis anos, colocou-o numa privilegiada posição de destaque ao lado de estados que têm longa tradição de investimentos em ciência e tecnologia, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Algumas ações pinçadas do relatório de atividades da Fapeam no período 2003-2008 podem ilustrar esse importante avanço. Se o maior dos desafios para a ciência no Estado é o reduzido número de pesquisadores responsáveis pela geração de novos conhecimentos sobre a região, é confortável registrar que, nesse período, a instituição investiu na formação de 277 doutores. Esse número solto pode não representar muito, mas se considerarmos que a Ufam, hoje, conta com 360 doutores e esse quadro começou a ser formado a partir de meados da década de 70, o salto é extraordinário. Para os que desconhecem o processo, é bom ressaltar que um pesquisador-doutor demanda quatro anos de formação para, a partir daí, começar a construção de sua efetiva carreira. Portanto, do total dos bolsistas citados, apenas 10% já defenderam suas teses, mas há de se imaginar o enorme impacto futuro desse investimento em capital intelectual para o Amazonas. Isso sem contar com os 825 bolsistas em nível de mestrado financiados no mesmo período. É certo que ainda é muito pouco para o muito de que precisamos, mas é revolucionário diante do que se deixou de fazer ao longo de tantas décadas.

Fonte: www.odenildosena.info

 

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