Especial Magníficas: Gisélle Lins, reitora do UniNilton Lins


Em 2001, aos 32 anos, ela recebeu do pai, o saudoso professor Nilton Costa Lins, a tarefa de comandar uma das maiores instituições particulares de ensino superior da Amazônia, o Centro Universitário Nilton Lins. Criada em 1988,  a instituição chega aos 20 anos de atuação com milhares de profissionais no mercado de trabalho e dimensões que chegam a mais de 40 cursos de graduação, 16 mil alunos, um campus principal com 1 milhão de metros quadrados de área (campus horizontal Parque das Laranjeiras), em Manaus, e outros dois campi na capital amazonense (Japiim e Ponta Negra), além de uma IES em Fortaleza, com dois campi e mais 4 mil alunos. Graduada em Direito, pela Universidade Federal do Amazonas, mestre em Gestão Universitária, pela Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro, e doutoranda pela Universidad de Valladolid – Barcelona/Espanha, Gisélle Vilela Lins encerra, com chave de ouro, a série de entrevistas do Especial Magníficas elaborada pela Agência Fapeam no mês de maio. Aqui vamos conhecer um pouco mais sobre a trajetória dessa mulher, mãe e empresária, os desafios e as perspectivas para gerir uma das maiores IES particulares da região Norte do Brasil.

 

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Agência Fapeam – Como foi a trajetória para assumir o cargo de magnífica reitora da UniNilton Lins?

Gisélle Lins – Após concluir minha graduação em ciências jurídicas decidi que queria trabalhar na área acadêmica. Fui muito apoiada e incentivada por meu pai, professor Nilton Lins. Fiz então uma especialização na área de gestão acadêmica e comecei a trabalhar no Nilton Lins. Logo percebi que a educação é algo realmente apaixonante. Amo o que eu faço. Passei por várias funções dentro da instituição até ter sido indicada pelo professor Nilton Lins para ocupar a reitoria. 

Agência Fapeam – Como é fazer parte de um grupo de mulheres que hoje está à frente das principais IES do Amazonas?

Gisélle Lins – Uma honra, sem dúvida, estar entre grandes mulheres e grandes nomes, respeito e admiro todas. Somos guerreiras, cada uma com um desafio e um ideal em prol de uma mesma causa.

Agência Fapeam – Qual é o maior desafio para seguir a carreira de gestão no ensino superior?

Gisélle Lins – São muitos os desafios, porém, quem gosta de educação traz uma motivação interna, pois o ensino superior é dinâmico. Vivemos num país de muitas desigualdades, de muitas mudanças. Numa região diferenciada que exige muito do gestor, isso já é um grande desafio. Ser corajoso, audacioso, paciente e justo são requisitos fundamentais ao bom gestor. 

Agência Fapeam – Após esse período de nove anos como reitora, o fato de ser mulher faz diferença na execução das atividades a frente de uma IES? Ajuda ou atrapalha?

Gisélle Lins – As mulheres trazem consigo naturalmente características que facilitam o dia a dia em funções que exigem muita dedicação, como a de reitora, a capacidade de executar várias tarefas e saber planejar uma agenda múltipla pode ser um exemplo. Hoje vivemos num mundo em que tentar ser igual é só mais um caminho. O fato de ser mulher nem ajuda nem atrapalha, eu diria que as vantagens e desvantagem são iguais para homens e mulheres. Hoje o reitor é um executivo, portanto, são desfeitas as diferenças.

Agência Fapeam – Já houve alguma situação de discriminação de qualquer natureza pelo fato de ser mulher ao tratar de assuntos referentes à instituição que dirige.

Gisélle Lins – Não, nunca fui descriminada por ser mulher, mas claro que já presenciei ares surpresos por ser jovem e ser mulher. Talvez a combinação gere essa surpresa, mas nada que tenha afetado concretamente nenhuma ação da reitoria. A avaliação pela imagem logo se desfaz quando mostramos que somos competentes.

Agência Fapeam – Como é conciliar as atividades de Reitora de uma IES, que necessita viajar constantemente e de ser mãe, que precisa estar próximo dos filhos e família?

Gisélle Lins – Sem dúvida esse é uma arte. Sempre tive o apoio da minha família e, principalmente, dos filhos. Eles têm orgulho da mãe e já estão acostumados. Nós também fomos criados assim. Meus pais sempre viajaram muito, e nós sempre soubemos que era por uma boa causa. Hoje os meus três filhos me acompanham e até participam bastante. Eles vêem a instituição de uma forma especial, sentem-se parte dela e ficam bem à vontade para conversar sobre ela e até já arriscam palpites. Não criei muros entre meu trabalho e minha vida como mãe, sou capaz de exercer as duas coisas muito bem sem ver isso como um dilema.

Agência Fapeam – Como a senhora avalia a situação do ensino superior hoje no país?

Gisélle Lins – Tem sido um tema presente na mídia e no cotidiano da população brasileira. Temos ainda muitos problemas a resolver. Somos um país da América Latina com o menor número de jovens em idade adequada, 18 a 24 anos, no ensino superior. Temos visto por parte do poder público em esforço para expansão de vagas e uma parceria das IES privadas com o Governo Federal, através do Programa Universidade para Todos (Prouni). Nós inclusive aderimos ao programa. Porém, ainda é preciso investir mais em educação. Outra barreira que temos para o acesso ao ensino superior é o nível da educação básica, que precisa de muitos cuidados, e ainda tem de melhorar bastante. Estudos comparativos internacionais de aprendizagem, como o Pisa, mostram que o Brasil está numa situação muito ruim em relação à qualidade de sua educação básica. Portanto, para se crescer na educação superior com qualidade é necessário que antes haja um trabalho da base da educação brasileira.

Agência Fapeam – A senhora consegue identificar se existem diferenças entre o ensino superior público e o particular hoje no país?

Gisélle Lins – O ensino deve ter qualidade quer numa IES pública quer numa privada. Isto vale para educação básica nos seus diversos níveis e para superior, independentemente da natureza jurídica.

Agência Fapeam – A senhora é contra ou a favor das cotas para o acesso às vagas da universidade. Por quê?

Gisélle Lins – Acredito que o problema no Brasil é mais sócio-econômico do que de raça. Acho que políticas afirmativas são importantes, porém, devem ser temporárias. É preciso acabar com a miséria, é preciso dar igualdade de condições a todos. Daí entendemos que as políticas públicas devem ser diferenciadas para corrigir as distorções existentes.

Agência Fapeam – Qual é sua opinião a respeito do fim do vestibular para acesso ao ensino superior?

Gisélle Lins – Na verdade, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB) trocou a palavra vestibular por processo seletivo. Qualquer que seja o nome haverá um processo seletivo. O exame nacional pode ser utilizado para aqueles cursos em que a relação candidato vaga é um para um ou tem mais vagas que candidatos. Porém, nas áreas de alta competitividade, como medicina, terá de haver um processe próprio da instituição para seleção, complementando assim o exame nacional. Acredito que usar somente o exame nacional pode prejudicar os alunos do nosso Estado ou da região.

Agência Fapeam – Qual é o principal desafio do pós-graduação hoje no Nilton Lins?

Gisélle Lins – Captação de recursos humanos qualificados que queiram se fixar no nosso Estado. Creio que todos temos essa dificuldade. O número de doutores é pequeno em algumas áreas. Há um esforço gigante do Nilton Lins para trazer pessoas de fora. Temos obtido bastante sucesso. Hoje a região Norte já tem características que atraem mais esses doutores, em relação a anos anteriores. Nossos mestrados têm contribuído bastante para mudar essa realidade.

Agência Fapeam – Em sua instituição, como é a relação entre pesquisa e extensão com o ensino de graduação?

Gisélle Lins – A Nilton Lins faz muito bem essa tríade pesquisa, ensino e extensão. O nosso aluno da graduação deve passar pela iniciação científica e deve ser experimentado como jovem pesquisador. A Nilton Lins não esta presa aos seus muros, ela leva conhecimento à sociedade e o aplica por meio de várias ações que envolvem as três pró-reitorias.Há uma política interna forte para que haja a mais estreita e fina relação entre as pró-reitorias, isso é sentido facilmente no dia a dia e na sala de aula, pois o aluno é envolvido naturalmente pela pesquisa e extensão em conjunto com a graduação.

Agência Fapeam – Quais são as perspectivas de desenvolvimento para a NL nos próximos anos?

Gisélle Lins – A consolidação da nossa graduação e pós-graduação. Queremos contribuir por meio de nossas pesquisas com o desenvolvimento da região, aumentar nossas parcerias público/privadas. As instituições devem ser co-irmãs em prol de um crescimento mais acelerado e que fortaleça o ensino em nossa região. Nossas pesquisas hoje estão atingindo alto nível, e já temos grandes resultados. Aplicar o conhecimento é necessário para que haja desenvolvimento. Esse é um dos nossos desafios atualmente.

 

 

Ulysses Varela – Agência Fapeam

 

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