Peixe boi amazônico é tema de discussão nos EUA


O peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) está sendo o tema de workshop internacional sobre a conservação de sirenios (ordem à qual pertence o peixe boi) no Congresso Internacional de Conservação Aquática Making Marine Science Better, evento que acontece até domingo (24/5), em Washington (EUA), numa promoção da Society for Conservation Biology.

A pesquisadora Miriam Marmontel, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM/MCT), apresentará informações sobre os trabalhos de conservação com a espécie nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã (AM), geridas pelo Instituto Mamirauá em parceria com o Governo do Amazonas.

No passado, o peixe-boi amazônico foi vítima de caça comercial intensa que, associada a uma baixa taxa reprodutiva, levou a espécie a ser considerada ameaçada de extinção no país. Atualmente o animal é protegido por três instrumentos da legislação. Entretanto, ainda existe uma pressão de caça ao longo de toda a sua distribuição, principalmente direcionada para subsistência. Além da caça ilegal, outra ameaça à espécie se apresenta na forma de malhadeiras (redes de pesca). As grandes, usadas para capturar peixes como o pirarucu (Arapaima gigas), aprisionam os filhotes de peixes-bois que, ao contrário dos adultos, não conseguem escapar da malha. Os caçadores podem se aproveitar dessa situação, uma vez que a mãe não se afasta do filhote e, assim, capturam os dois. A caça de um animal dessa espécie é muito difícil e pode levar dias, já que o peixe-boi é arisco e se esconde ao ouvir barulho.

O Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos atua há 16 anos nas Reservas Mamirauá e Amanã. Uma das conclusões dos estudos, a partir de pesquisas usando radiotelemetria, é a migração de peixes-bois de Mamirauá – uma região inteiramente composta por várzea (floresta alagada) – para Amanã, área que abrange várzea e terra firme. Há pelo menos um padrão de deslocamento anual, quando os peixes-bois deixam os lagos de várzea de Mamirauá na época em que as águas começam a baixar e refugiam-se durante o período de seca nas águas pretas e profundas do lago de terra firme do Amanã. Com a chegada da enchente, os peixes-bois realizam o movimento de retorno aos lagos de origem. Esse ciclo salienta a importância da manutenção de grandes áreas para preservação da espécie, assim como a existência de uma variedade de ambientes, incluindo canais para deslocamento livres de ameaças.

Desde julho de 2008, o Instituto Mamirauá mantém um centro conservacionista de reabilitação para filhotes de peixes-boi na Reserva Amanã. É o primeiro do Brasil criado dentro de uma unidade de conservação e de base comunitária, uma vez que moradores da reserva são envolvidos nas atividades de conservação. Atualmente, o centro guarda dois filhotes em recuperação. A previsão é devolvê-los ao seu ambiente natural em setembro ou outubro deste ano.

O peixe-boi amazônico é parecido com o marinho (Trichechus manatus). Ambos são parentes, mas o amazônico é menor – pode chegar a três metros -, não tem unhas e apresenta uma mancha branca no peito, cada uma diferente da do outro, como uma impressão digital. Já o marinho pode alcançar quatro metros e tem unhas. Esse último está bem mais ameaçado do que o amazônico e estima-se que existam 500 indivíduos vivendo ao longo da costa brasileira. Não é possível estimar a quantidade de peixes-bois amazônicos, mas é possível afirmar que sejam em número maior, quando comparados aos seus parentes do mar.

Sobre o IDSM

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma Organização Social (OS), supervisionada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Criado em 1999, sua missão é promover a conservação da biodiversidade mediante o manejo participativo e sustentável de recursos naturais. É cogestor das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, duas unidades de conservação com, respectivamente, 1,12 milhão e 2,35 milhões de hectares, reconhecidas internacionalmente pela importância de sua biodiversidade. Tem o apoio do Governo do Estado do Amazonas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), da Petrobras e do Wildlife Conservation Society/Fundação Gordon Moore.

Fonte: Portal do MCT

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *