Entrevista Fapeam: Cláudia Cândida Silva, bolsista do DCR


Potencial na área de pesquisa científica e tecnológica, investimentos no setor de C&T e possibilidade de implementar linha de pesquisa na Amazônia são os grandes atrativos do Amazonas para doutores formados em outros Estados, conforme a pesquisadora do DCR

 

Conhecer o Amazonas e verificar as possibilidades de implantar sua linha de pesquisa na região foi o que motivou Cláudia Cândida Silva a deixar o Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, para desenvolver, em 2006, suas atividades de pesquisa no Departamento de Geologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), como bolsista de Desenvolvimento Científico Regional (DCR), programa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mantido no Estado em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

 

 Dois anos após sua mudança, a pesquisadora graduada em Química e doutora em Físico-Química passou a atuar como professora concursada da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), na Escola Superior de Tecnologia (EST), onde lidera dois grupos de pesquisa – Crowfoot de Métodos de Raios-X e Química Aplicada à Tecnologia.
 

Em seu projeto de DCR, submetido através do Edital MCT/CNPq/Fapeam 018/2004, Cláudia pesquisou a cristalografia (estudo do estado sólido da matéria) do zircão presente em grandes rochas de granito da Mina do Pitinga, localizada no município de Presidente Figueiredo (AM), a 250 km de Manaus.

 

O zircão é um mineral que guarda informações químicas e físicas do ambiente em que foi cristalizado. Estudá-lo é uma forma de obter dados sobre outras eras. Assim, as propriedades físico-químicas desse mineral podem ajudar a entender como ocorreu a evolução geológica da Amazônia. Seguir nessa direção, no entanto, já demandaria um estudo em parceria com pesquisadores da geologia, adverte Cláudia.

 

Por enquanto, a química computa as contribuições que sua pesquisa pode gerar para o Amazonas: (a) fortalecimento do grupo de pesquisa em mineralogia; (b) apoio à indústria mineral do Estado; (c) auxílio no desenvolvimento da linha de pesquisa em cristalografia; (d) inserção do grupo de pesquisas no cenário internacional de pesquisa e desenvolvimento na área de mineralogia; (e) aumento da interação entre pesquisadores das áreas de geociências, química, física e matemática da Ufam e da UEA, entre outros; (f) aumento da interação entre os pesquisadores da Ufam e de outras instituições de pesquisa, como Instituto de Química de São Carlos/USP, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Museu Emilio Goeldi.

 

Além de trabalho fixo, a pesquisadora encontrou um motivo a mais para fincar raízes no Estado: casou-se com o também bolsista de DCR Valdir Florêncio da Veiga Junior, igualmente fixado no Amazonas, na Ufam. O Estado agradece.

 

 

Agência Fapeam: Sua pesquisa no DCR é um estudo cristalográfico apoiado na química mineral do zircão em corpos graníticos. O que é cristalografia do zircão dos corpos graníticos e qual é a importância desse estudo para a sociedade?

 

 

Cláudia Cândida Silva: Não é fácil relacionar este tipo de pesquisa com o cotidiano, mas vou tentar. O zircão é um mineral importante porque guarda informações químicas e físicas do ambiente em que foi cristalizado, há várias eras atrás. Desta forma, estudá-lo é uma forma de se obter dados sobre aquela era. Já descobrimos algumas propriedades químicas e físicas do zircão. Essas propriedades estudadas nos ajudam a entender como foi o processo de transformação geológica da Amazônia. Dessa forma, podemos entender porque determinados minerais estão presentes no solo amazônico, porque as águas do Rio Negro são tão diferentes das águas do Solimões, entre outras informações relevantes para a região. Ainda serão necessários vários outros estudos relacionando química, física e geologia, para que se compreenda como, de fato, evoluiu a região amazônica.

 

 

Agência Fapeam: Qual o objetivo de seu estudo e por meio de quais metodologias ele está sendo feito?

 

 

Cláudia Cândida Silva: Os zircões que estudamos são encontrados em grandes rochas de granito. Corpos graníticos é o nome correto. Cristalografia é o estudo do estado sólido da matéria. Portanto, não precisamos dissolver o zircão ou fazer qualquer outro tipo de transformação química neste mineral para obter os dados de nosso estudo. Os métodos que utilizamos para a obtenção são a difração de raios-X, a fluorescência de raios-X, a microscopia eletrônica de varredura e a microssondagem eletrônica. As análises do material coletado na Mina do Pitinga são realizadas na Ufam, parte no Laboratório de Análises e Pesquisa em Combustíveis (LAPEC), do Departamento de Química, e parte no Laboratório de Raios-X do Departamento de Geociências, ambos do Instituto de Ciências Exatas da Ufam. Outras análises são realizadas em parceria com a UFPA e o Museu Emilio Goeldi (PA).

 

 

 

Agência Fapeam: Quais são os resultados já alcançados?

 

 

Cláudia Cândida Silva: São muitos os resultados alcançados até o presente momento. Sabemos que os grãos de zircão possuem uma fina capa de óxido de disprósio à sua volta, o que não nos permite estudar sua estrutura por difração de raios-X por monocristais, mas sabemos que suas celas unitárias variam dependendo do corpo granítico de onde foram extraídos. Isso indica uma alteração na sua composição química, o que é confirmado pela fluorescência de raios-X. Estamos acabando de realizar cálculos químico-quânticos para a simulação das celas unitárias. Já foram realizadas as análises por microscopia eletrônica de varredura e os estudos com microssonda eletrônica estão sendo refeitos.

 

 

 

Agência Fapeam: Quais são as contribuições que sua pesquisa pode trazer para o Estado?

 

 

Cláudia Cândida Silva: Dentre os vários benefícios esperados no desenvolvimento deste projeto estão: (a) fortalecimento do grupo de pesquisa em mineralogia; (b) apoio à indústria mineral do Estado; (c) auxílio no desenvolvimento da linha de pesquisa em cristalografia; (d) inserção do grupo de pesquisas no cenário internacional de pesquisa e desenvolvimento na área de mineralogia; (e) aumento da interação entre pesquisadores das áreas de geociências, química, física e matemática da Ufam e da UEA, entre outros; (f) aumento da interação entre os pesquisadores da Ufam e de outras instituições de pesquisa, como Instituto de Química de São Carlos/USP, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Museu Emilio Goeldi.

 

 

Agência Fapeam: O DCR é um programa voltado à fixação de doutores no Estado do Amazonas. O que a motivou a participar do programa?

 

 

Cláudia Cândida Silva: A motivação principal foi a possibilidade de conhecer o Estado do Amazonas e saber quais as reais possibilidades de me fixar nesta região. Assim, eu teria um prazo de três anos para conhecer a realidade local e saber se me adaptaria às suas condições.

 

 

Agência Fapeam: Em sua avaliação, quais são os atrativos que o Estado do Amazonas oferece a pesquisadores de outros Estados?

 

 

Cláudia Cândida Silva: O Estado do Amazonas possui um vasto potencial na área de pesquisa científica e tecnológica, mas possui poucos doutores, em todas as áreas. Assim, existe uma grande possibilidade de um recém-doutor implementar sua linha de pesquisa aqui, qualquer que seja ela. Também contamos com muito investimento do Governo do Estado, facilitando assim a equipagem dos laboratórios de pesquisa. No âmbito nacional, o CNPq tem destinado parte de seus investimentos para a Região Norte. Este também é um grande atrativo para a fixação de doutores no Amazonas.

 

 

Agência Fapeam: A questão pessoal pesa na hora de se deslocar e se fixar no Amazonas?

 

 

Cláudia Cândida Silva: Este é o ponto mais importante quando se pensa em fixação no Estado do Amazonas, para quem vem da Região Sudeste, como eu. Deixar pais, amigos, profissionais de sua área com quem se possa discutir propostas e projetos e mudar para um lugar onde o número de doutores é pequeno, e a possibilidade de ter alguém de sua área é mínima, assusta. Mas as recompensas para quem se arrisca a vir são muito maiores do que se pode prever.

 

 

Mirna Feitoza – Agência Fapeam

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