O ensino de ciências para além dos muros


Dissertação de mestrado apoiada pela Fapeam sugere qualificação dos professores para associar o conhecimento à vida dos estudantes do Ensino Fundamental

“Nós constatamos que, apesar dos recursos disponíveis nos dias de hoje, o ensino de ciência é feito como há três décadas”. A frase é usada pela pesquisadora Rosa Oliveira Marins Azevedo para resumir a conclusão da pesquisa “Ensino de Ciências e Formação de professores: diagnóstico, análise e propostas”, e mostrar que, nem sempre, o acesso às novas tecnologias garante a qualidade do ensino oferecido aos estudantes do Ensino Fundamental da rede pública de ensino.

Realizada no Programa de Pós-graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade do Estado Amazonas (UEA), Rosa contou com auxílio do Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) para o desenvolvimento do estudo.

Para realizar a dissertação, Rosa buscou conhecer o cenário do ensino de Ciências, visitando escolas de Ensino Fundamental de Manaus para, ao final, propor alternativas para um resultado mais eficaz no ensino de ciências para crianças e apresentar um projeto pedagógico de um curso de especialização em ensino de ciências e novas tecnologias a ser oferecido pela UEA.

A pesquisadora percorreu caminhos que compreenderam a trajetória do ensino de ciências e a sua importância para os estudantes do ensino fundamental (1ª a 4ª séries) e o processo de ensino aprendizagem dos conceitos científicos, e a utilização de novas tecnologias (computador e internet) como recurso pedagógico. Além disso, procurou identificar o processo de formação e conhecimento dos professores envolvidos com a disciplina, além da infra-estrutura, do material e dos métodos utilizados em sala de aula para o aprendizado dos alunos.

De acordo com Rosa, o acesso às novas tecnologias não foi suficiente para incentivar professores à mudança pedagógica. O ensino de ciências se mantém voltado para o acúmulo de conceitos pelos estudantes, normalmente, assimilados por meio da memorização, sem o real interesse pelo tema ou a compreensão de conceitos importantes para vida dessas crianças.

“Não houve superação por parte dos professores, que tratam a matéria exclusivamente como uma descrição teórica e experimental, afastando-a de seu significado ético e das relações com o mundo do estudante”, explica Rosa, que se interessou em estudar o tema após oito anos atuando como professora do ensino fundamental e dezesseis anos como formadora de professores.

A esta “visão simplista do ensino de ciências”, como descreve a pesquisadora, soma-se a falta de propostas efetivas de investimento para formação de professores da área, de infra-estrutura adequada, com laboratórios e equipamentos nas escolas, para agravar o quadro.

Diante desse cenário, a pesquisadora formulou uma proposta pedagógica completa de um curso de especialização em Ensino de Ciências que, entre seus objetivos, visa transpor os entraves para o aprendizado dos estudantes e os limites da prática docente por meio de uma formação direcionada.

“No início do trabalho, pensava apenas em propor uma metodologia que contribuísse para otimizar o ensino de ciências com o uso de novas tecnologias, como atividades inovadoras que redimensionassem a prática educativa. Porém, a ausência de propostas para formação de professores para a disciplina, assim como a necessidade de transpor limites didático-pedagógicos teve um peso maior, evidenciando a necessidade de se investir num modo mais incisivo de formação dos professores”, destaca a pesquisadora.

Curso

Com a conclusão do mestrado, a expectativa de Rosa é que a proposta seja implementada pelo próprio Programa de Pós-graduação em Educação em Ensino de Ciências da UEA, oferecendo doze disciplinas, com carga horária total de 400 horas.

De acordo com a pesquisadora, o projeto pedagógico contendo a justificativa, objetivos, conteúdo programático e o ementário completo das disciplinas, além de sugestão do corpo docente, já foi apresentado e aprovado, na íntegra, pelo colegiado da UEA. Também já foi encaminhado à Pró-reitoria de Pós-Graduação e deve oferecer 35 vagas, com primeira turma iniciando em 2009.

Segundo Amarildo Menezes Gonzaga, orientador da dissertação, o trabalho de Rosa Azevedo é inovador, pois foi além da pesquisa e resultou num resultado prático. “Nós entendemos que, por fazermos parte de um mestrado profissional, nossa função é propor resultados para a sociedade”, avalia o professor, ressaltando que, além do curso de especialização, outros alunos apresentaram resultados práticos, como uma cartilha sobre ciências, um software direcionado a alunos com deficiência auditiva, jogos educativos.

Ainda como resultado da dissertação, está sendo estudada a elaboração de uma publicação a partir da dissertação e a utilização da proposta do curso de especialização por uma instituição particular de ensino superior também em Manaus.

Ulysses Varela – Agência Fapeam

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