Relações entre arte e ciência dominam a manhã em simpósio do Flifloresta


A discussão aconteceu na abertura do Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia, que integra a programação acadêmica do Festival Literário Internacional da Floresta – Flifloresta, em palestra de Marilene Corrêa

Por que a ciência é carente de estética? De que modo as narrativas da explicação, tais como a ciência, podem se apropriar das narrativas da ficção, como a literatura, e vice-versa? As relações entre arte e ciência deram o tom das discussões realizadas na manhã chuvosa desta segunda-feira (17), em Manaus, no Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia, que começou nesta segunda e vai até quarta-feira (19), no auditório da reitoria da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), como parte da programação acadêmica do Festival Literário Internacional da Floresta – Flifloresta, cuja programação literária inicia-se nesta quarta-feira (19), no Parque dos Bilhares.

A discussão foi suscitada pela palestra da professora e socióloga amazonense Marilene Corrêa, reitora da UEA, intitulada “Amazônia – entre a invenção e a realidade”. Pesquisadora da Amazônia há 20 anos, Marilene Corrêa desenvolveu o tema traçando um diálogo entre a literatura, a filosofia e a ciência na representação do conhecimento sobre a região, partindo do escritor argentino Jorge Luis Borges, quando ele diz não haver livro perdurável que não inclua o sobrenatural, e recorrendo à filosofia dos quatro elementos (terra, água, fogo e ar) do filósofo francês Gaston Bachelard.

Conforme a pesquisadora, a realidade e a imaginação incorporam todas as dimensões da Amazônia, uma região em que a cultura imaginativa dá curso ao pensamento e à cultura. Ao mesmo tempo, segundo ela, a oposição entre invenção e realidade serve às falsas representações do pensamento. “A arte é uma forma de conhecimento. Ao mesmo tempo em que a literatura inventou a sociedade brasileira, a sociedade brasileira inventou a literatura”, destacou.

Refletindo sobre a não distinção entre filósofos, artistas e cientistas, Marilene Corrêa questionou-se sobre a carência de estética na ciência, encontrando a resposta nos processos de institucionalização da ciência. “A exigência da burocratização, de atestados e laudos com créditos de autoria levam ao lado árido da ciência, tirando a sua beleza. No discurso científico, quanto mais seco é o argumento, maior é o seu poder de convencimento”, disse.

No entanto, conforme a pesquisadora, a poética da ciência está resguardada nos processos criativos dos cientistas, explicitados, sobretudo, na formulação das hipóteses. “A exigência da demonstração e dos processos de institucionalização da ciência tiraram a poesia da ciência, mas não tiraram da formulação da hipótese”, enfatizou.

As discussões do simpósio seguiram na manhã desta segunda-feira com a palestra “Natureza e desenvolvimento na Amazônia”, tendo como mediador o professor Marcelo Seráfico e como debatedores Violeta Loureiro e Armando Mendes. À tarde, foram realizadas a palestra “O imaginário amazônico, do professor João de Jesus Paes Loureiro, e a mesa temática “Os índios na Amazônia – Dominação e Reconhecimento”, tendo como mediador o professor Ademir Ramos e como debatedores os escritores Márcio Souza e Daniel Munduruku.

Com 400 inscritos, entre estudantes, professores, pesquisadores, escritores e outros intelectuais, o Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia termina nesta quarta-feira (19) pela manhã no município de Presidente Figueiredo (AM), na Cachoeira da Onça, onde será lida a Carta da Floresta, que será redigida pelos palestrantes e demais convidados do evento. Os inscritos no simpósio poderão seguir até o município, em ônibus fretado pelos organizadores.

O Flifloresta é uma realização do Instituto Nacional Valer de Cultura (INVC), Serviço Social do Comércio (Sesc-AM), Câmara Amazonense do Livro e Leitura (Call), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect), Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), Rede Amazônica de Televisão, Prefeitura Municipal de Manaus e parceiros.

Outras informações sobre o Flifloresta no site: http://www.flifloresta.com.br

Mirna Feitoza – Agência Fapeam

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