Redator-chefe da National Geographic concede entrevista à Agência Fapeam


Para Matthew Shirts, tornar o jornalismo ambiental e científico “gostoso de ler e assistir” é o principal desafio dos jornalistas dessas áreas Na última semana, cerca de 70 jornalistas brasileiros e estrangeiros se reuniram em Manaus para discutir a cobertura jornalística sobre a Amazônia, no Fórum Latino-Americano Amazônia, Sustentabilidade e Imprensa, organizado pela Revista Imprensa. Entre eles, o jornalista norte-americano Matthew Shirts, 50, redator-chefe da edição brasileira da National Geographic, revista criada por sociedade norte-americana de mesmo que se dedica há mais de cem anos à difusão do conhecimento geográfico sobre o planeta. Morando no Brasil há 25 anos, Shirts atua no jornalismo ambiental e científico há dez anos. Nesta entrevista, ele fala da cobertura jornalística nesses setores, em especial, na Amazônia. Para ele, identificar as ameaças aos ecossistemas e à biodiversidade e ao mesmo tempo tornar o jornalismo ambiental e científico “gostoso de ler e assistir” é grande desafio dos jornalistas dessas áreas.

 

Agência Fapeam: A Revista National Geographic atua com jornalismo ambiental e difusão da ciência há mais de cem anos. O que mudou no jornalismo científico e no jornalismo ambiental desde o surgimento da revista?
Matthew Shirts: O que existia antes era a exploração, no sentido de descobrir ambientes novos, saber o que havia nas florestas, nos desertos, em cima das montanhas, nas profundezas do mar. Isto ainda faz parte do jornalismo ambiental e científico, claro, mas menos. Hoje o desafio é detectar as ameaças aos ecossistemas e animais.

Agência Fapeam: Os problemas ambientais entraram na pauta das discussões da sociedade. Pressionados pelos ativistas, os países ricos e as grandes corporações tentam encontrar formas de causar menos impacto ao planeta. Nesse cenário quais são os desafios do jornalismo ambiental e do jornalismo científico?
Matthew Shirts: Eu acho que o grande desafio do jornalismo ambiental e científico é se tornar gostoso de ler e assistir. Já sabemos que existem ameaças sérias ao ambiente. A questão é como levar os leitores, telespectadores, ouvintes e internautas a se interessarem por tantas más notícias.

Agência Fapeam: O ativismo político confunde-se hoje com o ativismo ambiental, haja vista que a exploração dos recursos naturais e a degradação do planeta decorrem, em grande parte, das demandas de produção e consumo da sociedade capitalista. Em que medida a cobertura do jornalismo ambiental também não se tornou um novo modo de fazer política?

Matthew Shirts: Acho que existe o perigo de confundir ativismo e jornalismo. O resultado costuma resultar em textos e pautas chatos e imagens medíocres e desinteressantes. O efeito político acaba saindo pela culatra.

Agência Fapeam: A Amazônia figura hoje como grande preocupação mundial. Ao mesmo tempo, não é simples fazer a cobertura jornalística da região. Quais são os problemas que a National Geographic enfrenta para realizar suas reportagens sobre a região?
Matthew Shirts: O maior problema que a National enfrenta ao cobrir a Amazônia é o tamanho da região. Sua grandeza torna a abordagem difícil e cara. Há também ameaça físicas, como gente armada e aviões que caem.

Agência Fapeam: Pesquisa realizada pela Revista Imprensa/Mídia B divulgada no início da semana em Manaus, revelou que o desmatamento é o principal assunto coberto pelas agências de notícia no Brasil e no exterior quando a pauta é a Amazônia. Em sua avaliação, por que este ainda é o assunto que chama mais atenção dos jornalistas?

Matthew Shirts: O desmatamento está na pauta porque corremos o risco de acabar com a floresta e também porque dá para denunciá-lo sem sair da cidade ou mesmo da redação. Mas é preciso ir além disso, saber descrever isto de maneira a provocar mais interesse e indignação pelo fenômeno.

Agência Fapeam: O segundo assunto de maior cobertura é a questão da soberania na Amazônia. De alguma forma este resultado reflete o discurso político corrente sobre a internacionalização da região?

Matthew Shirts: Os militares receavam perder a Amazônia por falta de povoamento na região. Agora a aflição se dá por motivos inversos.

Agência Fapeam: A cobertura de todo setor do jornalismo oferece perigos e encantamentos. Quais são os atrativos e as dificuldades mais freqüentes na prática do jornalismo ambiental e do jornalismo científico?
Matthew Shirts: Descobrir e entender fenômenos antes desconhecidos.

 

Agência Fapeam: Que formação e habilidades o jornalista precisa ter para atuar nesses setores?

Matthew Shirts: Precisa escrever bem e ler muito. Ou fotografar bem e ler muito. Ler muito, sempre.

Mirna Feitoza – Agência Fapeam

 

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