Devastação e soberania são temas mais recorrentes no jornalismo ambiental, aponta pesquisa


Levantamento realizado de maio a julho deste ano pelo grupo Mídia B — que atua no segmento de estudos de mídia no Brasil —, revelou que, de 34 temas tratados por jornalistas ambientais em todo o país, o desmatamento foi o mais recorrente durante o período.

A pesquisa foi coordenada por Alexandre Martins, integrante do Mídia B, que se utilizou da técnica de análise de conteúdo para fazer a avaliação nos 90 dias em que o material foi apurado. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, no Studio 5 Festival Mall, zona Sul de Manaus. O evento foi organizado pelo Portal Imprensa, que edita a revista Imprensa, de circulação nacional.

Em segundo lugar, dentre as temáticas mais observadas em termos de matéria na mídia, ficou a questão da soberania da Amazônia, seguida por assuntos referentes ao Ministério do Meio Ambiente e sobre o etanol. “A diversidade de assuntos demonstra o interesse da mídia pela Amazônia”, descreveu Martins, o qual foi apresentado a jornalistas de Manaus, São Paulo e Roraima, além de estudantes da UniNiltonLins e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Ao todo, 316 matérias postadas nas agências G1, EFE, Agência Estado, France Press, Reuters, BBC, de maio a julho de 2008, foram estudadas para que se verificassem as freqüências com que diferentes temas eram tratados no âmbito do jornalismo ambiental brasileiro. Além de “devastação” e “soberania”, segmentos como “desenvolvimento sustentável”, “extrativismo vegetal” e “Fundo Amazônia” foram citados pelo Mídia B como temas bem explorados pelos meios de comunicação de massa no país.

A pesquisa, porém, foi alvo de críticas por parte de repórteres locais, que se sentiram excluídos do levantamento. Este foi o caso de Elaíze Farias, da equipe de A Crítica, e Elendrea Cavalcante, do Em Tempo, jornais impressos de circulação diária em Manaus, no Amazonas, que buscam dar tratamento à questão ambiental de forma diferenciada.

“Minha crítica é que eles (do Portal Imprensa) chamaram pouquíssimos profissionais da Amazônia para discutir os dados, ponderar sobre eles. A discussão foi centrada a partir de profissionais do Sul e Sudeste, somente”, afirmou Elendrea, que, neste ano, foi finalista do Prêmio Embratel, categoria Regional, justamente com uma reportagem ambiental especial sobre a situação dos índios de fronteira no Alto Rio Negro (AM). 

“Faltou mais diálogo eqüitativo entre os profissionais, senão fica um debate muito vertical. Além disso, os povos amazônicos não devem ser esquecidos, caso contrário se torna um debate ‘biologizante’, como dizem os antropólogos”, disse Elaíze, jornalista que atualmente faz especialização Lato Sensu em “Etnodesenvolvimento”, pelo Departamento de Antropologia da Ufam, e já atuou em diversas atividades relacionadas ao indigenismo na Amazônia.

Um dos casos citados como recorrente por parte da mídia nacional e internacional, em relação ao jornalismo ambiental na Amazônia foi a atividade supostamente ilegal que o sueco Johan Eliasch desenvolve em Manicoré (a 333 km de Manaus), ao sul do Estado do Amazonas. Segundo o grupo Mídia B, o milionário e seus negócios no interior amazonense ocuparam mais espaço nos meios de massa brasileiros que a questão arqueológica, por exemplo.

O Fórum Latino-Americano sobre Jornalismo Ambiental se encerra nesta quarta-feira no Studio 5.

Para mais dados sobre a pesquisa, ver site http://portalimprensa.uol.com.br/forumamazonia.

 

Renan Albuquerque – Agência Fapeam

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