Combate à malária pode ganhar novo aliado


 Estudo realizado com a espécie Pothomorphe peltata (conhecida popularmente como caapeba) indica que a substância 4-nerolidilcatecol, presente nas raízes da planta, e seus derivados semi-sintéticos podem ser usados no tratamento da malária. A descoberta é inédita para os derivados e pode se tornar a mais nova arma contra a doença, que atinge milhões de pessoas em todo o mundo.

A tese de doutorado em Biotecnologia de Ana Cristina Silva Pinto, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), contou com a orientação de Adrian Martin Pohlit, pós-doutor em Química Orgânica e pesquisador vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, e co-orientação de Wanderli Pedro Tadei, pós-doutor em Epidemiologia e especialista em Entomologia da Malária, também do Inpa, e de Francisco Célio Chaves, doutor em agronomia, vinculado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A pesquisa foi dividida em etapas. A primeira delas consistiu na observação do desenvolvimento de mudas de caapeba, desde a plantação até a fase adulta, com o objetivo de detectar em que período do ano a planta produzia o princípio ativo 4-nerolidilcatecol. A fase seguinte compreendeu o isolamento dessa substância a partir da raiz, devido ao fato dessa parte da planta ser comprovadamente a maior fonte geradora do 4-nerolidilcatecol. E, por último, ocorreu a preparação dos derivados com base na modificação de parte da cadeia do princípio ativo da planta.

Os testes in vitro, realizados na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), confirmaram que a substância e seus derivados inibem o desenvolvimento de protozoários do gênero Plasmodium, parasitas causadores da malária. "Isso é mais uma prova do grande potencial da flora amazônica quanto ao tratamento de enfermidades", afirma a pesquisadora.

Durante os experimentos, também foi detectado que o potencial anti-malárico dos derivados do  4-nerolidilcatecol é superior a substâncias já usadas no tratamento da doença, como é o caso da cloroquina e quinina. Segundo a pesquisadora, o resultado é de extrema relevância, sobretudo porque a resistência aos medicamentos que contêm substâncias tradicionalmente usadas no combate e/ou profilaxia (procedimentos e aplicação de meios de tratamento) da malária vem aumentando em determinadas regiões.

Pesquisas

A autora afirma ainda que, apesar dos resultados satisfatórios, é preciso dar continuidade aos estudos mediante a realização de uma nova série de experimentos. Um deles seria o teste de toxidade aguda, que permitirá observar as reações em organismos vivos do uso dessas substâncias. "O teste in vivo é um dos requisitos padrão para estudos pré-clínicos e somente depois, será possível decidir a forma de utilização da substância para tratamento da doença", afirma Ana Cristina, ressaltando que espera conseguir apoio financeiro para dar continuidade à investigação.

Fapeam

A pesquisa contou com recursos financeiros da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) por meio do Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (PIPTI) e de Implementanção do Centro de Biotecnologia da Amazônia. O total do recurso foi de R$ 15.950,00.

De acordo com a doutora, o financiamento adquirido por meio do programa foi de fundamental importância, uma vez que possibilitou entre outras ações, a aquisição de equipamentos e material necessários ao desenvolvimento do estudo, que teve parte dos resultados publicada em edição especial da revista especializada, lançada em comemoração ao centenário do Instituto Oswaldo Cruz no ano passado.

Patente

Como forma de proteger os resultados do estudo, a pesquisadora deu entrada, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em processo de registro de Propriedade Intelectual junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), responsável pelo registro de marcas, concessão de patentes e averbação de contratos de acordo com a Lei da Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96).

Conforme Ana Cristina Pinto, o processo já foi avaliado e aprovado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e até dezembro de 2008, deverá ser definido em quais países o INPA irá fazer o depósito. "Provavelmente, a proteção será feita nos Estados Unidos e alguns países da União Européia e Japão", conclui.

 Lisângela Costa – Agência Fapeam

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