Puraquequara: transição do rural para o urbano


 Em pesquisa realizada na UFAM, estudante revela os modos de vida e representações sociais dos moradores do Puraquequara

Aos poucos, as casas de madeira e palha abrem caminho para as moradias de alvenaria. As canoas feitas de madeira são substituídas pelos botes de alumínio e o barco dá lugar aos ônibus. A conversa ao redor da lamparina, ao cair da noite, sofre mudanças com a chegada da energia elétrica.
 
Alterou-se o lugar, da morada de várzea para a terra firme. A economia baseada na agricultura passa a dar lugar às práticas comerciais e às ocupações profissionais próprias do mundo urbano. De modo lento, o Puraquequara viveu a transição do rural para o urbano.
 
Essas são apenas algumas das mudanças identificadas pela assistente social Roberta Ferreira Coelho, na pesquisa “Ribeirinhos urbanos: Modos de vida e representações sociais dos moradores do Puraquequara”.  
 
Realizado para obter o título no mestrado Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o estudo enfoca o conjunto de modificações econômicas, sociais e culturais, desencadeado pela migração dos primeiros habitantes do bairro que mudaram da área de várzea para a terra firme.
 
Os moradores mais antigos relatam que a vida na várzea era cheia de inundações nas casas e perda das plantações. Não era possível a construção de assoalhos mais altos, como é comum em casas localizadas nessa área, pois o banzeiro atingia os pisos e molhava as casas. Eles então, construíam casas de palha em terra firme até o fim do período de chuvas, quando voltavam para suas casas.  
 
Em meados da década de 1970, a transição de várzea para a terra firme foi completa. Após tal mudança, a autora caracterizou os moradores do Puraquequara como “ribeirinhos urbanos”, tais são os paradoxos vividos por eles entre os modos de vida rural e urbano.
 
De acordo com ela, por questões geográficas, os habitantes da Vila do Puraquequara são moradores urbanos, por viverem num bairro de Manaus. No entanto, em boa parte de suas vidas, eles expressam características de uma comunidade rural, tal como comportamento marcado fortemente por laços de solidariedade, cultivo de roças, pesca como atividade de subsistência e utilização de canoas e rabetas como meio de transporte.
 
O bairro também é repleto de contradições, no que se refere à transição entre o rural e urbano. Por muito tempo, por falta de estrada, os moradores do local só dispunham de transporte fluvial para ir até o Centro de Manaus ou outros bairros. Eles iam de barco até o bairro Colônia Antônio Aleixo e de lá pegavam um ônibus.  
 
A ausência de malha viária ligando o bairro ao resto da cidade teve conseqüências mais graves, principalmente em relação à educação. Segundo relatos de moradores entrevistados pela pesquisadora, com a falta de oferta da 5ª a 8ª série e sem recursos para se deslocar até outros bairros, muitas pessoas repetiam por muito anos a 4ª série, só para não ficar sem estudar.
 
“Não há como precisar, exatamente, o limite entre o rural e o urbano no bairro do Puraquequara. Esses dois mundos não são antagônicos, mas complementares”, diz Roberta. Se por um lado é possível perceber a suposta modernidade trazida pela urbanização – ônibus, casas de alvenaria, ensino fundamental e templos – por outro, a pesca, a agricultura, a utilização do lago e de embarcações ainda são características marcantes da vida no Puraquequara.
 

 

SOBRE A PESQUISA:

 

Projeto: Ribeirinhos urbanos: Modos de vida e representações sociais dos moradores do Puraquequara

Bolsista: Roberta Ferreira Coelho

Orientador: Dr. Antônio Carlos Witkoski (UFAM)

Programa: Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM)

Andréia Mayumi – Agência Fapeam

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