Parasitas afetam comércio de peixes


Estudo analisa aspectos ligados à reprodução, manejo em cativeiro, técnicas de cultivo e aspectos sanitários e fisiológicos de peixes com potencial para aqüicultura e piscicultura
Mudanças no meio ambiente que propiciem condições nas quais parasitos (carga parasitária) se multipliquem podem elevar a ocorrência de doenças entre populações de peixes e quelônios de importância econômica para o Amazonas. Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) busca encontrar referências para o diagnóstico dessas doenças e facilitar a criação das espécies em ambientes artificiais.

O estudo, “Aspectos ecofisiológicos e parasitológicos de peixes e quelônios de importância econômica para a Amazônia”, é desenvolvido, desde abril de 2005, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR), da Fapeam em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e conta com apoio financeiro de R$ 80 mil.  

O pesquisador Marcos Dias, vinculado ao Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no município de Coari (AM), elegeu para o estudo espécies comercializadas em todo o rio Solimões, capturadas em pesca extrativista, mas com potencial pra piscicultura e aqüicultura. “As espécies apresentam grande potencial, mas necessitam de estudos sobre reprodução, produção de alevinos, manejo em cativeiro, técnicas de cultivo e aspectos sanitários e fisiológicos, para viabilizar seu uso na aqüicultura”, diz ele.

Exemplo dessa viabilidade são os bagres do gênero Pseudoplatystoma (caparari e pintado), conhecidos, popularmente, como surubins, que são exportados do Amazonas para o Peru e Bolívia, na forma congelada, enquanto o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum) é exportado na forma filé.

Em canais de igarapés da região do Tarumã-Mirim, em Manaus, as condições sanitárias já afetam a prevalência e a intensidade de parasitos em peixes, especialmente no fator de condição do matrinxã (Brycon amazonicus), mesmo os de área de cultivo.

As condições sanitárias dos canais de igarapé, o manejo dos peixes e os parâmetros físico-químicos da água foram monitorados. De 150 peixes examinados, 25% estavam parasitados pelo protozoário Ichthyophthirius multifiliis (18%) e por sanguessugas Placobdella sp. (7%). As sanguessugas Placobdella sp. ocorreram somente em um dos canais de igarapé.

“Condicionados à flutuação do nível da água, estas espécies podem ter desenvolvido estratégias fisiológicas adaptativas para se ajustar a tais oscilações sazonais. Além disso, as populações naturais poderão refletir comportamentos fisiológicos distintos que dificilmente podem ser identificadas em espécimes provenientes de regiões impactadas ou mantidas sob confinamento”, explica Dias.

Para ele, a conservação da ictiofauna (fauna de peixes) nativa depende de pesquisas que aumentem os conhecimentos sobre a biologia das espécies, principalmente os peixes da bacia Amazônica.

“Na natureza, os peixes podem albergar uma variedade de parasitos que raramente são fatais, isso quando a quantidade desses parasitos (carga parasitária) é mantida controlada pelo sistema imunológico do hospedeiro. Normalmente em equilíbrio com o hospedeiro (peixe), se houver uma multiplicação fora do normal pode-se levar à ocorrência de doenças em uma população”, avalia.
 
Continuidade

Dias reconhece que grande parte do estudo só foi possível com a participação de acadêmicos, com bolsas de iniciação científica financiadas pela Fapeam. “O projeto teve a participação de cinco alunos de graduação dos cursos de Biologia e Engenharia de Pesca e um aluno de Pós-Graduação em nível de Mestrado do Programa Diversidade Biológica, todos da Ufam”, acrescenta.

O projeto inicial deu origem a um segundo estudo a ser desenvolvido no âmbito do programa DCR, destinado a estudar os parasitos e a hematologia (campo da biologia que estuda o sangue), por hora, de sete espécies de importância para a pesca comercial na região de Coari, a 363 quilômetros de Manaus.

“Posteriormente, a expectativa é que estes estudos sejam estendidos para outras 10 espécies, também identificadas com potencial para a piscicultura”, explica o pesquisador.

Ainda de acordo com o pesquisador, o estudo também fornecerá subsídios para auxiliar no diagnóstico de doenças – no sangue -nestas populações naturais. “A falta desses estudos sobre as espécies de peixes da região dificultaria o desenvolvimento de conhecimentos acerca dos indicadores de saúde delas quando em ambiente artificial (cativeiro)”, ressalta ele.
 
Espécies estudadas

A pesquisa realizou estudos dos parasitos de matrinxã, tambaqui (Colossoma macropomum) e pirarucu (Arapaima gigas) em condições de cultivo; além de parasitos de peixes ornamentais da bacia do Rio Negro, como o cardinal (Paracheirodon axelrodi), rosa-céu (Hyphessobrycon copelandi), peixe-borboleta (Carnegiella strigata e martae), bodó (Ancistrus hoplogenys), peixe-lápis (Nannostomus eques e Nannostomus unifasciatus) e acará-bandeira (Pterophyllum scalare).      

Foi estudado, também, o sangue de pirarucus criados em tanques-rede, de recém-eclodidos e adultos de tartarugas (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis) e iaçá (Podocnemis sextuberculata), todos oriundos de rios e lagos da Reserva Biológica do Abufari, no Rio Purus.

Outras espécies também são apontadas pelo projeto como alvo da pesca extrativista, tendo potencial para comercialização: curimatã (Prochilodus nigricans), cuiu-cuiu (Oxydoras niger), aruanã, jaraqui escama-fina (Semaprochilodus taeniurus), jaraqui escama-grossa (Semaprochilodus insignis), pacu (Mylossoma duriventre), pirapitinga (Piaractus brachypomus) e, acara-açú (Astronotus crassipinis).


Michelle Portela – Agência Fapeam

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