Pesquisa sobre insetos aquáticos avança
Meta do núcleo de pesquisa é lançar um catálogo com o inventário completo de insetos aquáticos da Amazônia, iniciativa inédita que resultará na primeira referência bibliográfica produzida sobre a área no País. Uma equipe de pesquisadores coordenada pela doutora em entomologia Neusa Hamada, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), concluiu a primeira fase de coleta de material para o trabalho de levantamento de insetos aquáticos da Amazônia. A intenção dos pesquisadores é elaborar um inventário e produzir um catálogo com os insetos aquáticos da região.
De acordo com Hamada, não há no Brasil nenhum trabalho de identificação e descrição dos insetos que vivem em ambiente aquático. O livro mais usado pelos estudiosos da entomologia (ciência que estuda os insetos) no País foi feito nos Estados Unidos na década de 1970. “Todos os livros que temos para identificação de insetos aquáticos são da América do Norte ou de outros países da América do Sul. Não temos um texto que possa ser utilizado pelos estudantes da graduação e pesquisadores para identificar esses insetos e até famílias, que é o nível básico de identificação”, disse.
A equipe, formada por 15 pesquisadores de diversas universidades do País e 20 estudantes de graduação e pós-graduação, trabalhou nos últimos 12 meses na coleta de insetos em igarapés dos municípios de Novo Airão, Manacapuru, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo, Iranduba e Manaus. Um grupo pretende concluir a coleta em Barcelos, onde serão estudados igarapés do Parque Estadual Serra do Aracá. Nessa região, foram identificados vários ecossistemas, como terra firme, várzea, ilhas, campos de altitude, cordões arenosos, palmeirais, alagados e campinas. “Nessa expedição em Barcelos esperamos encontrar bastantes espécies novas, porque é uma área bem diferente da região do entorno de Manaus”, afirmou Hamada.
O projeto é um dos quatro selecionados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e aprovados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), em 2007, e têm duração de quatro anos, com investimento de R$450 mil em auxílio-pesquisa.
Além do livro para estudos acadêmicos, a equipe de pesquisadores pretende elaborar material didático com o objetivo de popularizar a ciência, como prevê o título do projeto: “Insetos aquáticos: biodiversidade, ferramentas ambientais e a popularização da ciência para melhoria da qualidade de vida humana no Estado do Amazonas”.
A pesquisadora Ranyse Querina, doutora em entomologia e participante do projeto, afirma que além do público que precisa de informações científicas, existe outro maior que precisa entender a importância dos insetos para a vida humana e para o meio ambiente. “O desafio é também mostrar essas informações que são produzidas na academia para um público leigo. Precisamos adaptar essas informações para uma linguagem que a população em geral conheça”.
Como os pesquisadores pretendem fazer isso? Hamada explica: “A popularização inclui produtos mais voltados para alunos do ensino médio e fundamental. Pretendemos fazer vídeos da biologia dos bichos e de como é o trabalho de um entomólogo no campo; também queremos fazer jogos interativos, para que eles apreendam, brincando, a importância dos insetos no ambiente. Se for possível, também queremos fazer alguns livros ou cartilhas de divulgação mais popular dos insetos aquáticos”.
Esses produtos, no entanto, ainda vão demorar a chegar ao público alvo, porque a pesquisa está no início. Depois da coleta, feita em 60 igarapés (dez em cada município), a equipe precisa separar os insetos dos demais organismos. “Durante a coleta, não é possível selecionar só os insetos. Esse é um trabalho monstruoso que precisamos fazer no laboratório, com a ajuda de microscópios”, explica Hamada.
Antes que alguém questione a importância de um trabalho como o que a equipe vem desenvolvendo, a Ranyse Querina avisa: “Sem os insetos os seres humanos não sobreviveriam na terra”. A frase pode parecer exagero, mas não é. “Os insetos têm importância biológica, ecológica, alguns estão associados a problemas de saúde humana. Temos outros grupos extremamente importantes, que são os que polinizam as plantas. A maioria das plantas cultiváveis é polinizada por insetos. Eles têm importância fundamental para o equilíbrio do meio ambiente. O problema é que sempre se pensa neles de forma negativa”.
Ranyse Querina aponta três aspectos da pesquisa: o conhecimento dos insetos ou da biodiversidade; a aplicação desse conhecimento como ferramenta para compreender o meio ambiente; e a popularização do conhecimento, tornando-o acessível às pessoas que não são do meio acadêmico/científico.
Nesse trabalho, a equipe pretende catalogar uma série de novos insetos, até então desconhecidos da ciência. “Ainda não é possível afirmar quantos insetos iremos catalogar nem quantos novos insetos serão descritos, mas não temos dúvidas de que muitos insetos encontrados ainda não têm descrição na literatura”, afirmou Hamada.
Valmir Lima – Agência Fapeam