Variações de rotavírus são identificadas
Febre alta, vômitos e diarréia intensa. Estes são sinais de gastrenterite aguda, infecção por rotavírus, um dos agentes virais mais associados à diarréia infecciosa aguda entre crianças em todo o mundo. Em Manaus, um estudo realizado no Laboratório de Virologia da Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (CPCS/Inpa) mostrou que este agente viral sofre variações genéticas.
Segundo Cristóvão Alves da Costa, coordenador da pesquisa, essas variações fazem com que haja necessidade de se produzir mais de um tipo de vacina para combater este agente viral. “O rotavírus ainda ocorre com gravidade em crianças da faixa etária de 0 a 3 anos, em toda a cidade, apesar de já existir no Brasil uma vacina para combatê-lo”, explica.
O pesquisador salienta que a vacina existente no mercado imuniza as crianças para um determinado tipo do agente. “O rotavírus tem uma capacidade muito grande de se “rearranjar” e se tornar um novo vírus. Ou seja, ele é capaz de fazer combinações que necessitam de mais de um tipo de vacina para combatê-lo”.
Em março de 2006, o Ministério da Saúde iniciou o fornecimento para as unidades básicas de saúde a vacina G1P8 contra o rotavírus. Desde então, a vacina passou a fazer parte do programa de vacinação das crianças. Ao mesmo tempo o Inpa iniciou o projeto “Epidemiologia molecular das infecções por rotavírus e astrovírus na população infantil da cidade de Manaus-AM”, o qual foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Os estudos renderam dois trabalhos, um deles é a dissertação da estudante Giane Zupellari dos Santos que abordou a incidência de rotavírus na cidade de Manaus. Intitulada “A ocorrência de genótipos com características de rotavírus humano em amostras de fezes diarréicas de crianças atendidas em prontos socorros infantis do município de Manaus – Am”, a pesquisa fez o mapeamento genético do agente viral.
A análise foi realizada pela detecção do genoma viral através das técnicas de EGPA (eletroforese em gel de poliacrilamida), e RT-PCR (reação em cadeia de polimerase associada à reação de transcriptase reversa).
Através do método de EGPA pode-se observar uma positividade de 25% das amostras para rotavírus humano. Todas as demais amostras positivas para rotavírus humano foram identificadas pelo método de RT-PCR com utilização de segmentos específicos para os genótipos G (G1, G2, G3, G4 e G9) e genótipos P (P[8], P[4], P[6], P[9] e P[10]).
“Em 30% das amostras positivas foi detectado o tipo G do agente viral e o tipo P foi encontrado em 44% do material positivo. Como expliquei anteriormente o agente faz combinações entre os genótipos. Sendo assim, 53% das amostras positivas foram associadas às combinações dos tipos G e P”.
Outro aspecto da pesquisa que chama a atenção é o fato de 38% das amostras positivas não apresentarem características para nenhum dos genótipos humanos pesquisados. “Isso também é um indicador da circulação de novos genótipos após a introdução da vacina. A vacina imuniza apenas um tipo desse agente viral, aquele para o qual ela foi desenvolvida, para as combinações do agente ela não imuniza” afirmou.
Segundo o orientador, em média, o vírus pode ser encontrado entre 12 até 40% dos casos. “Isso vai depender de algumas condições que incluem o saneamento da cidade como fator determinante para essas ocorrências”, informou. Ao todo 607 crianças foram amostradas. O material foi coletado no momento em que elas chegaram ao hospital e as análises foram feitas no Laboratório de Virologia do Inpa.
As principais características são o aumento do número de evacuações e a perda de consistência das fezes, que se tornam aguadas. Uma das piores complicações da diarréia é a desidratação. Adultos são mais resistentes, mas bebês e crianças e desidratam-se com facilidade e o risco de haver desidratação grave é maior, o que pode levar à morte, se não houver atendimento adequado e precoce.