Pesquisa aponta estratégias de manejo para cada grupo de espécies arbóreas
São estes anéis que, medidos a cada ciclo de estação climática, indicam o tempo de crescimento das árvores e ajudam a calcular a viabilidade de projetos de manejo florestal. “Conhecendo pelo menos as características das espécies de interesse comercial, é possível fornecer informação para manejar com vistas ao aumento da produção de madeira”, esclarece o pesquisador.
A maior barreira para se medir anéis de crescimento em florestas tropicais, contudo, é que eles são mais visíveis nas regiões em que as estações do ano são bem divididas. A temperatura e as chuvas constantes na floresta Amazônica requerem cuidados especiais antes, durante e depois da medição dos anéis.
Além disso, esses estudos exigem longos períodos de campo, adaptação de equipamentos de medição de temperatura e outros, observação apurada do comportamento da floresta, e, principalmente, que o pesquisador aprenda a conviver com a incerteza em torno dos resultados que vão ser obtidos.
Todos esses desafios fizeram parte do desenvolvimento da tese de doutorado do pesquisador Akira Tanaka, apresentada em 2005 ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais, do convênio entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Akira realizou um campo de três anos no município de Novo Aripuanã, no Amazonas, a 227 quilômetros em linha reta de Manaus, e mais 35 quilômetros de estrada (Coord.geog. S 5o18’,W60o04’).
Trata-se de uma área de difícil acesso, carente de estudos científicos e que sofre alta pressão de desmatamento. “No primeiro ano fiz apenas coletas e testes preliminares. De 2002 a 2003 coletei os dados principais e retornei em 2004 para correções. Mas foi em 2003 que acabei ficando mais de 200 dias dentro da floresta”, lembra o doutor em ecologia.
Na mesma proporção das dificuldades enfrentadas, os resultados obtidos acabaram sendo significativos.
O pesquisador avaliou 226 espécies arbóreas baseando-se nas relações de troca existentes entre as árvores e o meio ambiente. Ele observou, por exemplo, o processo fisiológico das árvores dentro dos períodos de seca e chuva próprios da região e realizou inúmeras medições de anéis de crescimento através de um método conhecido como “marcação do câmbio”. Nesse método o cientista faz inúmeros ferimentos ao câmbio vascular das árvores (cortes na madeira), a fim de poder identificar, medir e comparar os anéis.
Teve, ainda, de adaptar a maioria dos equipamentos utilizados na pesquisa (trado de madeira, lixadeira de mesa com seqüências de número de lixa, macroscópio acoplado com câmera digital…) e até um software para processamento de imagem de corte de madeira para medição dos anéis.
Acima de tudo, precisou contar com a convicção. “Mesmo depois de 2 anos do início do experimento havia o risco de poder falhar tudo; tive de acreditar que a floresta era sensível às variações de chuva, competição, ao conjunto de vida que a mantém complexa, até que comecei, de fato, a enxergar e medir os anéis de crescimento”, explica.
Existem várias metodologias para medir o crescimento de árvores. Há pesquisadores que instalam fitas dendométricas e vão calculando o aumento da biomassa pelo engrossamento do tronco. Nesse campo, em Novo Aripuanã, foi feito o cálculo da distância entre os anéis a cada ciclo de estação chuvosa ou seca. O pesquisador concluiu que há uma alta variação de incremento na região entre espécies e classes diamétricas, ou seja, algumas crescem mais em um determinado tempo. Akira realizou também a marcação do câmbio para diversas espécies ainda não medidas. Como estudou as espécies por comunidade, faz comparações de comportamento por grupo ecológico.
“O grupo das espécies de clímax, daquelas árvores que passam a vida inteira na posição logo abaixo do dossel, como a Eschweilera wachenheimii (matá-matá), o Protium hebetatum (Breu), a Amaioua guianensis (Canela-de-veado), todas de diâmetro maior, crescem mais rápido quanto mais próximas das clareiras abertas na floresta. Ao contrário, as espécies como Virola theiodora (Ucuúba), Iryanthera spp. (Ucuúbarana, Ucuúba-punã, etc.), Inga bicoloriflora (Ingá), de diâmetro menor, não responderam nada em largura de anéis com a proximidade de abertura das clareiras”, exemplifica.
No espaço do estudo também foram encontradas 938 morfoespécies entre 2,82 hectares (no total), incluindo diversas espécies não catalogadas, o que torna esse ecossistema original e rico. Ao mesmo tempo, a região está ameaçada de desmatamento com a entrada de fazendeiros e madeireiras, o que pode acabar afetando o equilíbrio natural.
A floresta observada por Akira está constantemente mudando, substituindo árvores por dentro, mantendo o estrato original, com um tempo de rotação calculado em pelo menos 120 anos. Quanto à concentração de nutrientes, concluiu que a umidade do solo está mais relacionada com o resultado de competição das árvores e variação de estação chuvosa/seca do que propriamente com as clareiras abertas na floresta. Foi realizado, ainda, um levantamento florístico que comprovou a riqueza de diversidade da área.
Dados de Identificação
Tese: Avaliação de Anéis de Crescimento de Espécies Florestais de Terra-Firme no Município de Novo Aripuanã – AM.
Pesquisador: Akira Tanaka. Orientador: Niro Higuchi, da Coordenação de Pesquisas em Ecologia (Cpec/Inpa).
Data de defesa: dia 10 de outubro de 2005 no INPA.
Publicação: Comunicação técnica entregue ao CIFOR (Center for Internacional Forestry Research).
Agências financiadoras: Dois anos iniciais pelo CNPq e dois anos finais pela FAPEAM.