Bolsistas da Fapeam apresentam resultados de pesquisas em área de assentamento na SBPC
BELÉM – Dois estudantes da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que desenvolveram pesquisas no assentamento Tarumã-Mirim, próximo a Manaus, participaram, nesta quarta-feira, da sessão de pôsters da 59a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), que está sendo realizada no Hangar Centro de Convenções, em Belém. Silvana Mota, 32, e Márcio Robson da Silva, 28, são finalistas do curso Normal Superior e apresentaram, respectivamente, os trabalhos “Literatura Infantil: círculo de leitura e debates estimulando a leitura e a produção de textos” e “O lúdico contribuindo nas leituras de mundo de duas comunidades rurais de Manaus”.
O assentamento Tarumã-Mirim fica na margem esquerda do Baixo Rio Negro, a seis quilômetros de Manaus por via fluvial. Silvana trabalhou com 40 crianças da Comunidade Nossa Senhora do Livramento e Márcio Silva, com esta e com a Comunidade Nossa Senhora de Fátima. Os dois são bolsistas do Programa de Apoio à Iniciação Científica do Amazonas (Paic), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
As duas pesquisas são desenvolvidas com estudantes das séries iniciais do ensino fundamental. A de Silvana tem como objetivo estimular, por meio da literatura infantil, a leitura e a prática textual na fase inicial da aprendizagem formal. “A literatura foi o recurso que escolhemos para incentivar a leitura e compreender melhor como se dá a educação na área rural”, afirma.
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A estudante contou que a experiência na comunidade começou em 2004, com apenas dez crianças. Na época, ainda voluntária, ela percebeu um certo “estranhamento” por parte dos alunos e de seus familiares, mas, aos poucos, os pesquisadores foram conquistando a confiança de todos.
“À medida que foram nos conhecendo, e a pesquisa foi se desenvolvendo, as crianças foram se soltando, ficaram mais receptivas e o grupo foi aumentando. Agora, nós vemos até mesmo alguns professores que moram nas comunidades, bastante resistentes no início, aderindo à nossa prática. Eles perceberam a desenvoltura das crianças”, conta Silvana.
Segundo ela, o trabalho começa com a obra “A turma do Zezé na Amazônia”, de Elson Farias, para valorizar a literatura regional. Depois, já iniciadas na prática da leitura, é que as crianças passam a conhecer os clássicos da literatura infantil, como "A bela adormecida" e as fábulas dos irmãos Grimm. Silvana diz que o resultado supera as expectativas: “elas ficam encantadas e começam a responder a esse estímulo com novas leituras, inclusive incentivando os familiares”.
O projeto é desenvolvido em parceria com a Associação dos Cientistas Sociais do Amazonas (Acisam) e essa união possibilitou a construção de uma biblioteca na comunidade. Silvana vai a cada 15 dias e, nos intervalos, monitores da Acisam fazem esse trabalho, dentro do projeto “Água e Cidadania”.
“Os monitores vão nas casas das crianças que não sabem ler para começar o trabalho de educação para a leitura. Os pais, que acompanham esse processo, acabam se interessando e com isso dão mais atenção às atividades escolares dos filhos. Alguns, inclusive, se animam e voltam a estudar. E isso é muito gratificante para nós”, conclui Silvana.
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Aprender brincando – A pesquisa de Márcio Silva começou em 2005 e tem como objetivo estimular as crianças a ler e a expressar sua leitura de mundo por meio de desenhos, de histórias contadas por elas mesmas e brincadeiras que contribuam para que elas assimilem com mais facilidade os conteúdos escolares. Segundo Márcio, esse estímulo à desenvoltura se dá de forma bastante agradável.
“Elas aprendem brincando. Realizamos todo tipo de brincadeira, utilizamos jogos educativos, sempre na perspectiva de estimular a leitura à desenvoltura. Essa desenvoltura faz com que elas se expressem de modo mais espontâneo, desinibido. Em suas histórias, elas passam o seu olhar das comunidades onde vivem e, com isso, a gente também acaba conhecendo muito mais da realidade das comunidades ribeirinhas de Manaus”, conta Márcio.
Ele explica que a adesão ao projeto é maior na Comunidade Nossa Senhora do Livramento, mais distante, sem energia elétrica e com acesso limitado às embarcações. “O fato de serem mais carentes desperta neles mais interesse e mais necessidade de conhecer coisas novas. Tanto é assim que temos mais crianças no projeto lá – quase 40 – do que na Comunidade de Fátima, que tem apenas 25. Passada a fase do estranhamento, vêm confiança e amizade e com isso a pesquisa se desenvolve”.
Márcio também vai a cada 15 dias às comunidades, em alternância com o projeto “Água e Cidadania”, da Acisam. Nos encontros, ele realiza oficinas, cursos, jogos educativos e outras brincadeiras. Em alguns intervalos, os monitores da Acisam promovem o Cineclube, com sessões de filmes temáticos sobre meio ambiente, saúde e educação. Todas essas atividades, de acordo com Márcio, acabam estimulando a prática da leitura e proporcionando uma nova leitura de mundo.
“É gratificante percebermos o quanto essas crianças respondem aos nossos estímulos. E por causa desse estímulo nós acabamos conquistando também os pais, os familiares, porque eles percebem os resultados. Eu me sinto muito feliz com esse trabalho por isso quis dividi-lo aqui, na SBPC, com pessoas de outras regiões, muitas das quais não têm a menor idéia do que é a Amazônia”, finaliza. Márcio Silva e Silvana Mota forma orientados pelo professor José Vicente de Souza Aguiar, historiador, mestre em Sociedade e Cultura pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Ana Paula Freire – Decon/Fapeam