Estudantes de Humaitá participam de curso na SBPC
BELÉM – Três estudantes do município amazonense de Humaitá participaram do curso “Construindo experimentos de Física e aprendendo Física Térmica”, oferecido na quarta-feira, pela SBPC-Jovem, que ocorre em paralelo à 59a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, em Belém. Eles participam do projeto Casa da Física, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e estão se preparando para a Olimpíada Brasileira da Física 2007, cuja primeira fase será em agosto.
Márcio de Jesus Pimenta de Almeida, 16, Marcelo Prata da Costa, 17, e Wanessa Lucena do Nascimento, 16, foram destaque na Olimpíada em 2006 e receberam, como “prêmio”, a participação na SBPC. Eles viajaram a Belém com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa de Apoio à Participação em Eventos Científicos e Tecnológicos (Pape).
“Nós conseguimos as passagens aéreas com a Fapeam e recebemos uma verba da Prefeitura de Humaitá para a estada dos meninos em Belém”, disse o professor Epaminondas de Oliveira Barba, responsável pelos estudantes na viagem. Formado em Ciências Naturais pela Ufam, onde também se especializou em Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, Epaminondas conta que os desafios para ensinar física nas escolas da rede pública, principalmente no interior do Estado, são enormes, mas não o suficiente para desistir.
“É muito difícil, porque a maioria dos alunos chega ao último ano do ensino médio sem base. Então, somos obrigados a rever conteúdos de primeiro ano, voltar a conceitos básicos que eles deveriam ter aprendido lá atrás. Porém, percebemos que muitos já têm predisposição para a física, talvez para a matemática, e isso se reflete no desempenho deles na Olimpíada, por exemplo”, diz o professor de 32 anos, 11 de magistério, sendo os dois últimos na Escola Estadual Oswaldo Cruz, onde estudam Márcio e Wanessa.
Na Olimpíada passada, Márcio obteve o primeiro lugar entre os estudantes da 1a. série do ensino médio no Estado e Wanessa, o segundo. Marcelo, da Escola Estadual Álvaro Maia, obteve a segunda colocação na categoria dos finalistas (3a série). Os três participaram, no ano passado, da II Semana da Casa da Física, em Manaus, e tiveram a oportunidade de assistir a palestras de professores da Ufam, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de outras instituições brasileiras. Um dos palestrantes foi o presidente da Olimpíada, José Davi Viana, sua presença foi uma atração à parte no evento, segundo depoimento dos estudantes.
“Sair de Humaitá para eventos como o de Manaus e como esse, que é maior ainda, é um privilégio. As palestras, as experiências, os jogos que vimos aqui são e serão muito importantes ao longo de nosso estudo”, diz Wanessa. “Saio daqui maravilhado com a SPBC, com o Hangar e com as experiências que realizei”, completa Marcelo. Márcio também volta a Manaus com um outro olhar sobre ciência: “Não imaginava que seria assim, vi um pouco de tudo, cursos, palestras e até exposição”, afirmou, referindo-se à ExpoT&C, que ocorre paralelamente à Reunião da SBPC.
Multiplicadores – Para o professor Epaminondas, os resultados obtidos por Márcio, Wanessa e Marcelo motivaram os colegas, ainda mais com a premiação com essa viagem a Belém. “A física é um bicho de sete cabeças e nós, professores, temos que torná-la mais atraente, temos que ser criativos, a aula deve ser um espetáculo. Nesse sentido, temos que reconhecer e valorizar o mérito do professor Pedro (José Pedro Cordeiro, coordenador da Casa da Física), que é incansável, um entusiasta do ensino da física. Ele é o nosso mentor, mobiliza os alunos para um mundo muito além daquele em que vivemos em Humaitá. E os resultados já começam a aparecer, como ocorreu na Olimpíada”, observa.
Casa da Física – Criada em 2004 com o objetivo de estimular estudantes, fundamentalmente do ensino público, a se interessar pelo estudo da física, a Casa da Física funciona no mini-campus da Ufam e é coordenada pelo professor José Pedro Cordeiro, do Departamento de Física. É o piloto para um projeto muito maior, a Estação Ciência, que abrigará a Casa da Química e outros espaços destinados a disseminação da ciência. É lá que os alunos têm oportunidade de conhecer um pouco mais sobre essa disciplina, sobre matemática e, mais recentemente, astronomia.
Atualmente, 1.350 alunos de 5a série do ensino fundamental à 3a. série do ensino médio freqüentam a Casa da Física aos sábados, para aulas com monitores voluntários, – “porque lá todos somos voluntários”, salienta Cordeiro –, dos quais 99% são de escolas públicas. De 2004 até hoje, mais de seis mil alunos já passaram por lá. Há mais três “braços” no Estado, um em Parintins (quase 200 alunos), um em Humaitá (cerca de 180) e outro em Coari (pouco menos de 60). O professor Cordeiro conta que os alunos atuam como monitores em eventos acadêmicos e científicos, como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que acontece anualmente em outubro.
“Eles são estimulados de várias maneiras, inclusive com cursos paralelos de produção textual, uma das dificuldades encontradas por quem é da área de Exatas. E quem trabalha na Casa da Física, como monitor, faz porque gosta, pois não há remuneração. Por isso, as aulas são aos sábados, quando temos tempo livre. O mais importante é perceber que, com todas as dificuldades e limitações, estamos tendo bons resultados: na Olimpíada, o rendimento melhorou e, no vestibular, tivemos mais alunos aprovados na UEA (Universidade do Estado do Amazonas) e na Ufam, alguns até em cursos concorridos como Medicina e Odontologia. É um trabalho de formiguinha”, relata, emocionado, o professor Cordeiro.
Ele faz questão de dizer que a Fapeam tem sido “primordial” no apoio ao desenvolvimento da ciência no Amazonas. “Não fosse a Fapeam estaríamos a 300 anos-luz do que estamos hoje”.
Olimpíada Brasileira da Física
A Olimpíada da Física possui três fases: prova objetiva, prova discursiva e prova discursiva com experimento. É organizada pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) e os nove melhores colocados se classificam para as edições ibero-americana e internacional.