Pesquisadora propõe inventário de insetos aquáticos


O título da pesquisa coordenada pela bióloga Neusa Hamada já dá idéia da complexidade do trabalho que será desenvolvido pelas 38 pessoas envolvidas no projeto, aprovado pela Fapeam/CNPq no Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex). “Insetos aquáticos: biodiversidade, ferramentas ambientais e a popularização da ciência para melhoria da qualidade de vida humana no Estado do Amazonas” tem como foco elaborar um inventário de insetos aquáticos tendo como base a classificação, a biologia e a ecologia.

Entre as metas estabelecidas, os pesquisadores querem identificar os insetos aquáticos com uso potencial em medicina legal através de experimentos de campo. Para isso, irão coletar insetos aquáticos sobre carcaça de porcos domésticos de 20 quilos para determinar em que fase de decomposição da carcaça esses insetos ocorrem, e quais as espécies que participam desse processo. O trabalho será desenvolvido na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus, nos dois primeiros anos do projeto, cuja duração é de quatro anos.

Duas coletas de larvas de insetos serão realizadas na estação chuvosa (março/ abril) e duas na estação menos chuvosa (agosto/setembro). Em cada estação sazonal serão conduzidos dois tratamentos: com porco imerso parcialmente e com porco imerso totalmente a um metro de profundidade.

Os porcos serão colocados nos igarapés dentro de gaiolas de ferro revestidas por tela de alumínio. Para o acompanhamento da fauna de insetos adultos no local serão realizadas coletas com armadilhas suspensas (interceptação de vôo), que ficarão instaladas sobre a lâmina d’água. Amostras de imaturos de insetos (larvas maduras e pupas) serão coletadas com auxílio de pinças, pincéis ou pipetas diretamente sobre as carcaças dos porcos.

O projeto, no entanto, não se resume à pesquisa para fins de medicina legal. Além do inventário de insetos aquáticos, o estudo pretende identificar os insetos indicadores de qualidade de água. Outro subprojeto vai trabalhar no desenvolvimento e aprimoramento de técnicas de criação de imaturos (larvas e ninfas de insetos). Esse trabalho pode ser de grande utilidade por outros setores da sociedade, como por exemplo, a piscicultura. Uma das hipóteses dos pesquisadores é que as larvas podem ser usadas na alimentação natural de peixes.

Há também a possibilidade de uso das técnicas de criação de imaturos no controle de insetos transmissores de doenças, como por exemplo, a criação e utilização de Odonata, espécie de inseto predadora de larvas de mosquitos.

O grupo de pesquisa coordenado por Neusa Hamada também se propõe a elabora um livro com todo o resultado da pesquisa realizada ao longo dos próximos quatro anos. O esquema do livro já está pronto, inclusive com a definição dos capítulos.

O estudo dos insetos aquáticos será realizado nos municípios de Manaus, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo, Manacapuru, Novo Airão, Barcelos e Iranduba. Segundo Neusa Hamada, esses municípios, exceto Barcelos, possuem densas redes de igarapés, com diferenças consideráveis entre eles, tanto em relação à forma de suas bacias de drenagem, quanto às suas características químicas e biológicas. Em Barcelos serão estudados igarapés do Parque Estadual Serra do Aracá, onde foram identificados vários ecossistemas, como por exemplo, terra firme, várzea, ilhas, campos de altitude, cordões arenosos, palmeirais, alagados, campinas, zaruzaruzais e outras formações vegetais.

A equipe vai se dividir em grupos e cada subprojeto será executado com metodologia voltada ao inventário dos insetos aquáticos. A partir do material coletado, cada grupo desenvolverá seus estudos nas áreas de taxonomia (classificação), biologia e ecologia que irão subsidiar as pesquisas na área educacional, ambiental e médico-legal. “Os resultados serão integrados para serem publicados e divulgados ao público alvo, nos vários segmentos de ensino, pesquisa e extensão”, promete o projeto.

Além de Neusa Hamada, a equipe conta com nove pesquisadores principais, de diversas universidades do País, cinco pesquisadores colaboradores, 20 estudantes e três técnicos.

A infra-estrutura de laboratórios para as pesquisas reflete o tamanho da equipe e o intercâmbio que o projeto vai proporcionar. Serão utilizados laboratórios do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de São Carlos (Ufscar), Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRS), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa).Todas elas são instituições participantes do projeto.

Valmir Lima – Decon/Fapeam

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