Pesquisa estuda diversidade genética de pimentas da Amazônia


Combinando diferentes cores, formatos e sabores, as pimentas da Amazônia carregam consigo uma longa história como parte de costumes e tradições das populações tradicionais. Desde os Andes até a bacia amazônica, elas permanecem até hoje como um dos principais ingredientes da culinária de populações urbanas, ribeirinhas e indígenas da região. O pesquisador da Embrapa Roraima, Francisco Joaci Freitas Luz, pesquisa as pimentas amazônicas da espécie Capsicum chinense e na sua tese de doutorado desvendou um pouco da biodiversidade genética das pimentas dos grupos murupi, olho de peixe e pimenta-de-cheiro, as mais utilizadas na culinária regional.

As pimentas pesquisadas são provenientes de coleção da Embrapa Roraima, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Boa Vista (RR). O objetivo da análise foi obter informações detalhadas das pimentas, contribuindo para seu uso em programas de melhoramento genético, com vistas a aumentar a produção e a diversidade de cultivares disponíveis aos produtores da região amazônica.

Sob o colorido das pimentas vermelhas, amarelas e verdes, existe uma diversidade genética que, passando a ser mais conhecida, abre oportunidades para o melhoramento genético e uso sustentável de variedades da espécie.

Para aprofundar o conhecimento sobre essa diversidade, o pesquisador Joaci Freitas Luz realizou a caracterização com descritores morfológicos e marcadores moleculares em 58 acessos de pimentas.
"Acessos" são amostras do recurso genético, obtidas de diferentes localidades, no caso, áreas rurais e comunidades indígenas de Roraima.

As análises para o doutorado foram realizadas nos Laboratórios de Bioquímica de Microorganismos e Plantas do Departamento de Tecnologia e de Micropropagação do Departamento de Produção Vegetal, com material vegetal oriundo de plantas cultivadas em casa de vegetação na horta do Setor de Olericultura e Plantas Aromático-Medicinais da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (UNESP-FCAV), Campus de Jaboticabal , em São Paulo.

Com uso da técnica fAFLP, a análise com os marcadores moleculares utilizados apontou uma média de dissimilaridade de 22% entre os acessos, enquanto na análise dos descritores morfológicos a média de dissimilaridade foi acima de 70%. Essas informações revelam que embora haja uma grande variedade morfológica nas cores, formatos, níveis de pugência (sabor picante) e arquitetura de plantas, as pimentas mantiveram grande parte de seu reservatório genético na fase de domesticação em que se encontram atualmente.

O pesquisador explica que esse processo ocorre eventualmente na domesticação de plantas cultivadas em que mudanças morfológicas ocorrem sem mudar substancialmente o reservatório genético das culturas. Assim, ao longo dos anos, os povos tradicionais da região foram selecionando as plantas com as melhores características que atendessem seus interesses de consumo. Com a pesquisa científica, Joaci pretende aproveitar as características vantajosas diferenciadas que a diversidade de pimentas oferece e a partir delas fazer cruzamentos para desenvolver cultivares para cada grupo de pimentas de cheiro, murupi e olho-de-peixe.

Em relação às técnicas utilizadas – descritores morfológicos e marcadores moleculares fAFLP – o pesquisador afirma que ambas foram úteis e necessárias na caracterização dos acessos e serviram para revelar informações importantes nas estratégias de conservação e uso das pimentas da Amazônia.

Para ganhar o mercado, porém, há ainda um longo caminho e muitas possibilidades. O pesquisador Joaci Freitas cita que o Brasil é habitat natural de várias espécies silvestres de pimentas do gênero Capsicum, mas há pouco aproveitamento das espécies. De acordo com o pesquisador, são necessários pelo menos 15 anos de estudos e cruzamentos para gerar uma variedade nova dessas pimentas, que são ainda pouco conhecidas. Mas de imediato, é necessária a conservação do recurso genético ao mesmo tempo que se aprofunda o seu conhecimento.

Curiosidades

Apesar do nome fazer alusão à China, a espécie C.chinense é reconhecida pela ciência como tendo sua origem na Amazônia. O continente americano é reconhecido como centro de origem das pimentas e a bacia amazônica como provável centro de diversidade da espécie C.chinense. Os registros arqueológicos sugerem que pimentas já eram consumidas pelas populações pré-colombianas entre 8.500 e 5.600 anos a.C nas regiões andinas do Peru e 6.500 a 5.500 anos a.C no México. Em sua longa trajetória, as pimentas estão presentes na cultura, não apenas na culinária, mas também com usos medicinais e, no passado, já fizeram parte de sistema monetário e de rituais religiosos. Em Roraima, as pimentas são um elemento forte na cultura regional. Um dos pratos mais típicos, herdado da cultura indígena, é a damurida, uma sopa ou caldo, preparado com peixe ou carne de caça, cozida com diversos tipos de pimenta e suas folhas.

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