Amazônia deve dialogar com o mundo, diz diretor da Finep
Em 24 de julho deste ano, Eduardo Moreira da Costa assumiu a Diretoria de Inovação para o Desenvolvimento Econômico e Social da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, agência de fomento vinculada ao Ministério da Ciência e Tenologia (MCT). Nesta entrevista à Agência Fapeam, ele fala sobre a importância das parcerias com as FAPs e diz que o Brasil e principalmente a Amazônia precisam estabelecer um relacionamento mais “maduro” com outros países para se firmar no cenário mundial.
A política de descentralização dos investimentos em pesquisa e inovação tecnológica surgiu como uma grande esperança para estados de grande potencial nessas áreas como o Amazonas. De que maneira o senhor avalia o desenvolvimento dessa política, nos últimos anos, para o Brasil e para os Estados da Amazônia?
Eduardo Moreira – O Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), tradicionalmente, lançava os editais para poder selecionar projetos em nível nacional. Há cinco anos, o volume de recursos que o MCT obtinha era muito pequeno. Operava-se com um total de 300 milhões de reais ao ano. Atualmente, esse volume de recursos quase multiplicou por dez. No ano que vem, a Finep vai operar um orçamento de 2,8 bilhões de reais. Então, nesse contexto, faz muito sentido atuarmos de forma descentralizada, em parceria com os estados. Ao mesmo tempo, isso é também uma necessidade, uma vez que a Finep não consegue operar sozinha um orçamento desse tamanho.
Quais são os principais parceiros da Finep, hoje?
E.M. – Para cada programa nós temos um parceiro diferente. Os principais são os fundos de amparo à pesquisa, as secretarias de ciência e tecnologia, e estamos atuando também com as incubadoras, com o Instituto Euvaldo Lodi, da Federação das Indústrias, com os governos estaduais, com as prefeituras e as universidades. Estamos trabalhando muito com esse conceito de formação de redes, em que uma entidade mais desenvolvida pode tomar conta de uma região maior. Por exemplo, o Amazonas poderia trazer para o nível de desenvolvimento que tem aqui, as fundações de amparo a pesquisas e incubadoras da região amazônica.
Quais ações devem ser incentivadas pela Finep em 2008?
E.M. – Nós precisamos aumentar a ação estadual no sentido da formação de empresas. É importante essa decisão do estado de formar novas empresas porque, no contexto das universidades, o cenário para o investimento em pesquisa já está bem armado. Praticamente no Brasil inteiro você tem universidades federais e estaduais bem montadas, mas do lado da formação de empresas é preciso uma ação mais decidida. Já nesse trabalho das incubadoras, no trabalho do crédito estadual, na simplificação dos processos de abertura e fechamento de empresas, ainda tem muito a ser feito. Os Estados que saíram na frente nesse capítulo vão ter excelentes oportunidades.
As universidades federais ainda constituem a base de produção de conhecimento científico no Brasil. Como elas podem vir a contribuir com esse processo?
E.M. – As universidades federais ainda têm de se aproximar mais da sociedade. A ligação que existe entre as universidades e as empresas, nas regiões mais desenvolvidas, é muito grande. Nas regiões menos desenvolvidas é menor. Existem universidades federais que são como uma ilha dentro da cidade. É como se a cidade não existisse; não há ligação com ninguém e isso tem de mudar. Agora, se começam a se formar empresas a partir do conhecimento na Universidade e essas empresas desenvolvem produtos para a população, aí todo mundo fica sabendo.
Qual é o maior empecilho para que isso ocorra?
E.M. – A mentalidade. Nós ainda temos de parar com essa idéia colonial de ter medo dos Estados Unidos, como se eles fossem o bicho-papão e nós os coitadinhos. Temos de ter um relacionamento mais adulto com os outros países, abrir a cabeça, enviar mais pesquisadores para estudar fora do país, levar empresas para firmas no exterior, aumentar o volume de bolsas de mestrado e doutorado no exterior. Se alguns ficarem por lá, paciência, mas muitos voltarão e o país vai ganhar com isso. Quando se fala em Amazônia essa disposição para dialogar com o mundo globalizado deve ser ainda maior, pois a biodiversidade aqui é algo tão fora dos padrões comuns que faz crescer os olhos estrangeiros. Aqui há um campo muito aberto para o desenvolvimento de novos produtos, mas o investimento é muito menor que o potencial.
Elizabeth Cavalcante