Ensino no Brasil deve respeitar as diferenças culturais
A formação do professor e o exercício da profissão frente aos desafios pedagógicos da atualidade na região foram tema de debate na mesa-redonda “Formação e prática do educador no ambiente de diversidade amazônica”, realizada na manhã desta sexta-feira (21), no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
O diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Odenildo Sena, doutor em Lingüística pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), participou da mesa-redonda para compartilhar sua experiência como professor de Língua Portuguesa.
Também participaram da mesa o professor da disciplina matemática do Instituto de Ciências Exatas (ICE), da Ufam, Domingos Anselmo Moura da Silva, e a coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais (NPCHS), do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Ana Carla Bruno, antropóloga.
O eixo principal do debate se deu em torno da complexidade do ensino frente à diversidade brasileira, em especial, a amazônica, e sobre a necessidade de se estabelecer diálogos entre educação e cultura. “A língua, muito mais do que estrutural, é ação. Nunca é propriamente dada, pois está permanentemente em construção”, disse Odenildo Sena.
Ana Carla Bruno alertou os mestrandos quanto ao papel desempenhado pelo professor na Amazônia, com tamanha diversidade lingüística. “Para ser professor na Amazônia, o profissional deve compreender a diversidade lingüística e cultural da região”, explicou.
Anselmo de Moura exemplificou o problema. Ao atuar como professor no município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus, em linha reta), se deparou com alunos de oito etnias em sala de aula. “Como professor, acredito que o desafio é reconhecer cada aluno como um indivíduo. Não existe um padrão de professor, mas ele tem de estar atento e reconhecer esta diversidade”.
Para Odenildo Sena, parte do problema está na condição dominante da Língua Portuguesa e no papel dos professores enquanto cultuadores de um padrão de ensino. “O padrão têm uma política. Os professores trazem o domínio cultural e não percebem o que esse padrão representa na sociedade”, disse.
A força desse padrão se torna notória no tratamento dedicado aos alunos em sala de aula, de acordo com Odenildo, em crítica ao despreparo quanto ao diálogo com a diversidade. “Os professores recebem os alunos como se fossem todos iguais”.
Debate
Além dos mestrandos do curso sediado em Manaus, o debate contou com a presença de acadêmicos roraimenses, beneficiados pelo acordo de cooperação interinstitucional firmando entre o Programa de Pós-Graduação em Educação da Ufam e a Universidade Federal de Roraima (UFR) e o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Roraima.
O professor indígena da etnia Macuxi, Celino Raposo, questionou os membros da mesa sobre o papel da língua nos conflitos inter-étnicos e nas fronteiras. “É importante pensar na pesquisa para solucionar problemas lingüísticos”, disse, referindo-se à dificuldade comunicação entre diferentes povos.
A pesquisadora Ana Carla Bruno, que realiza estudos fonológicos, defendeu o reconhecimento do caráter político da língua, concepção importante para todos os povos. “Não dá para negar, por exemplo, que a escolha do material didático não é política. O desafio do ensino interdisciplinar não exclusivo pode ter como base o respeito efetivo pelos diferentes povos, respeitando a diversidade cultural e lingüística da nossa região”, afirmou.
O debate foi realizado no âmbito das disciplinas Seminários de Pesquisas e “Desafios Amazônicos”, com a presença dos professores Ana Alcídia Moraes, José Silveiro Horta e Rosa Helena Dias da Silva.