Descoberta nova maneira de detectar a doença de Chagas em crianças
A novidade, que representa boa economia quando comparada com métodos tradicionais, poderá facilitar a obtenção de diagnósticos e o tratamento da doença em comunidades mais pobres. A doença, que afeta estimadas 16 milhões de pessoas na América Latina, mata na região mais do que qualquer outra causada por parasitas.
O estudo foi coordenado por Michael Levy, do Centro Internacional Fogarty dos Institutos Nacional de Saúde dos Estados Unidos. De acordo com os autores, programas de controle para a doença de Chagas tradicionalmente se baseiam mais na interrupção da transmissão do Trypanosoma cruzi por meio de medidas de controle do vetor, como o uso de inseticidas, do que na detecção ativa dos casos e no tratamento específico de indivíduos infectados.
Segundo eles, embora as medidas de controle tenham reduzido o alcance geográfico e a prevalência dos principais vetores – o inseto conhecido como barbeiro –, sem a devida atenção ao rápido diagnóstico dos infectados “a janela de oportunidade para o tratamento efetivo, como a prescrição de drogras antiparasíticas, será perdida”.
“Um importante motivo para as baixas taxas de tratamento é que os serviços de saúde e os programas de controle na América Latina não contam com recursos suficientes para que sejam feitos exames de sangue compreensivos e o tratamento supervisionado na maior parte das áreas afetadas”, destacaram.
Os pesquisadores fizeram exames de sangue em crianças de 2 a 18 anos que vivem na periferia de Arequipa, no Peru, onde uma campanha para controle de vetores está em curso com bons resultados, tendo conseguido diminuir a transmissão do T.cruzi.
Mas o estudo identificou que 5,3% das crianças já estavam infectadas no momento em que suas casas receberam aplicação de inseticida. Também foi verificado que as residências com crianças afetadas estavam significativamente próximas umas das outras.
Em seguida, o grupo de Levy combinou os dados conseguidos no local com outros coletados durante a campanha de controle de vetores realizado pelo governo peruano. Concluíram que tal combinação era capaz de identificar mais de 83% dos casos de crianças infectadas a partir do teste sorológico de apenas 22% delas – devido ao agrupamento derivado da proximidade das casas.
Ou seja, dados coletados facilmente durante uma campanha de aplicação de inseticidas seriam extremamente valiosos para identificar os locais em que estão as crianças com mais risco de estar com a doença.
Segundo os autores, o estudo é o primeiro a descrever a transmissão do T. cruzi em um ambiente urbano e apresenta evidências de que a transmissão pode ser epidêmica em Arequipa.
Em comentário na mesma edição da revistas, Ricardo Gürtler, da Universidade de Buenos Aires, especialista em doença de Chagas, destacou a importância do estudo.
“A abordagem mais comum para detecção de casos ativos exige que se investigue por completo a população em risco, o que é algo trabalhoso e caro. Nesse contexto, o trabalho de Levy e colegas ganha elevada relevância pela perspectiva de detecção em massa e do conseqüente tratamento de crianças infectadas em áreas pobres de recursos”, disse.
O artigo Targeted screening strategies to detect Trypanosoma cruzi infection in children, de Michael Levy e outros, pode ser lido livremente no site da PloS Neglected Tropical Diseases em www.plosntds.org.