Pesquisa analisa sistemas agroflorestais na várzea
A falta de compreensão dos mecanismos sociais e culturais da produção agrícola familiar na Amazônia tem levado os órgãos de desenvolvimento regional à formulação de propostas e uso de sistemas agrícolas ecologicamente inadequados às condições ambientais do Trópico Úmido. Isso tem conduzido ao uso destrutivo dos recursos, principalmente, pelos grandes projetos agropecuários, por meio do desmatamento e pelas queimadas de florestas densas para introdução de atividades agrícolas e pecuárias.
Com o objetivo de identificar os procedimentos organizativos e técnicos adotados no manejo e gestão dos recursos do sistema de produção agroflorestal, descrevendo os mecanismos de conhecimento, seleção e percepção utilizados na produção e conservação dos recursos vegetais, a agrônoma Rosana Antunes Palheta desenvolveu o estudo “Agricultura familiar ribeirinha: estratégias de produção e conservação em Sistema Agroflorestal no Município de Parintins/AM”, que resultou em sua tese no Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
“A intenção é de caracterizar os mecanismos de manejo e gestão que facilitem a otimização do trabalho físico humano e a utilização sustentável dos recursos”, diz Rosana. A relevância da proposta, segundo a pesquisadora, está na avaliação de preceitos e técnicas culturais tradicionalmente utilizados na produção agrícola e na conservação dos recursos naturais, o que permitirá melhorar a compreensão dos mecanismos sócio-culturais necessários de serem levados em conta em políticas públicas agroflorestais na região amazônica.
De acordo com a pesquisa, a diversidade ambiental manejada pela agricultura familiar está presente em áreas do território amazônico. Ela corresponde à diversidade sócio-cultural que imprime marcas, diferenças e especificidades nas formas de organização social, ocupação territorial, usos e gestão dos recursos e padrões de vida. As características ecológicas e a fragilidade dos ambientes de várzea são favoráveis à produção agroflorestal, principalmente as florestas alagáveis de água branca – várzea. Estas florestas são adaptadas à inundação anual.
“Nas áreas de várzea, região alvo da pesquisa, a intervenção na natureza foi, num primeiro momento, marcada pelo extrativismo, passando em seguida por um progressivo processo de transformação, incorporando a natureza ao cotidiano do homem como meios de subsistência e produção, ou seja, alimentos, fibras como juta, e a malva, moveis, cerâmicas etc.”, afirma.
A sistematização de partes desses conhecimentos, de acordo com a pesquisadora, fornece uma caracterização das agriculturas familiares nas várzeas do rio Amazonas, atenuando a invisibilidade a que estão sujeitos os povos da várzea.
Rosana analisou dados sobre as estratégias de produção e conservação dos recursos naturais em três localidades: Comunidade São Jose – Paraná do Limão, Comunidade Vila Nova do São Lázaro – Localidade Vila Nova, Comunidade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – Paraná de Parintins.
Nessas áreas, as principais atividades desenvolvidas são as práticas correlatas ao sistema tradicional de produção agroflorestal. Essas atividades são efetuadas pela mão de obra familiar em áreas de várzeas. “O que permite concluir que esta é uma característica de Agricultura Familiar Ribeirinha”, avalia.
Para Rosana, a unidade agrícola de exploração em áreas de várzeas é resultado do processo social de produção de grupos de atores sociais ligados por relações de parentesco. “Tem velada dentro de si a condição futura de refletir as características que a criou, isto é, a reprodução dos próprios grupos, permanecendo desta maneira essencialmente familiar e nas unidades de paisagem de várzeas”, explica.
De acordo com a pesquisadora, a compreensão das estratégias de produção e conservação nas três comunidades pesquisadas no município de Parintins (a 325 quilômetros de Manaus via fluvial), busca contribuir para um melhor entendimento do sistema de produção agroflorestal tradicional das várzeas amazonenses, e ainda mais contribuir também para a implantação de políticas públicas que favoreçam a família ribeirinha.