Peças cerâmicas possibilitam descrever o passado das populações Amazônicas
“Estudar o passado para compreender como as populações amazônicas chegaram até aqui”. Essa é a maior importância em se averiguar os vestígios dos povos desta região, segundo o mestrando em arqueologia da Universidade de São Paulo (USP), Márcio Walter Costa. A arqueologia é uma das vertentes do programa que analisa os Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás Natural no Amazonas (Piatam).
Foram identificados até então 70 sítios arqueológicos com média de 90 hectares cada no trecho onde será construído o gasoduto Coari–Manaus. Esse trecho abrange as comunidades de Santa Luzia do Baixio, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré, Bom Jesus, Santo Antônio, Matrinxã, Lauro Sodré, Esperança II e Santa Luzia do Buiuçuzinho.
Esse levantamento se faz necessário para execução das construções do gasoduto, pois quando identificados certos elementos como sítios arqueológicos e árvores centenárias as obras são interrompidas e desviadas para outros locais segundo o fiscal de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) da Petrobras, Willem Wagner, em declaração ao Cadernos Petrobras publicado em dezembro de 2005.
O Projeto Amazônia Central (PAC), coordenado pelo arqueólogo Eduardo Góes Neves, desenvolvido em parceria com o programa Piatam, além de fazer o levantamento dos sítios, faz o monitoramento por meio de escavações e instrui os moradores para educação patrimonial. Estes ações contribuem para que se firme uma identidade cultural na região.
Os comunitários, durante as quatro excursões anuais do Piatam, são instruídos a como agir ao encontrarem uma peça arqueológica. “Era comum chegarmos às residências e identificarmos estas peças sendo usadas como vasos de plantas ou como brinquedos pelas crianças que muitas das vezes pitavam as peças descaracterizando-as”, afirmou o técnico em arqueologia Carlos Augusto.
Como parte do projeto, são realizadas atividades denominadas de Sítios Escolas. Nessas atividades, os moradores interessados pela arqueologia passam a auxiliar voluntariamente os pesquisadores nas escavações, a direcioná-los a locais onde estas peças são encontradas e a orientar os demais comunitários a não retirar estes artefatos dos locais onde são achados.
“É importante identificarmos as peças ainda no solo, pois ela está inserida em um contexto e quando fora dele, é impossível afirmar certos dados necessários para uma catalogação precisa” destacou Márcio Costa.
“A terra preta é um concentrador e conservador de resíduos orgânicos, e por conseqüência um indicador de artefatos arqueológicos como cerâmica, fósseis e carapaça de quelônios. Este tipo de solo torna-se por esta, dentre outras razões, rico para o desenvolvimento de atividades agrícolas”, destacou o especialista em solos, agrônomo Hedinaldo Lima.
Fases da cerâmica encontrada na Amazônia Central
O fator estético, ou seja, as formas como os artefatos estão decorados (tracejados e cores) é o elemento que possibilita diferenciar as fases da cerâmica. Na Amazônia Central, quarto fases estão bem definidas: Açutuba, Manacapuru, Paredão e Guarita. A primeira comprova que esta região é habitada desde o século IV antes de Cristo.
Estas comprovações ocasionam polêmica em torno da comunidade de pesquisadores por colocar em dúvida teorias que até então vinham sendo aceitas. Por observações por meio do uso de uma lupa, Márcio Costa afirma que a pigmentação vermelha presente em artefatos de algumas das fases da cerâmica, não foi feita somente a partir do urucum. Para ele, há elementos minerais empregados para compor a coloração.
O arqueólogo Márcio Costa destacou ainda que “em meio à ausência da informação o mito fica mais forte”, referindo-se a importância destes estudos para desmistificar certas teorias sem fundamentação consistente, apoiadas em crenças mitológicas sobre a origem das populações humanas da Amazônia.
FASES CERÂMICAS DA AMAZÔNIA CENTRAL
Fase
Período Vigente
Açutuba
Século IV a. c ao Século IV d. c
Manacapuru
Século V d. c ao Século IX d. c
Paredão
Século VIII d. c ao Século XIII d. c
Guarita
Século IX d.c ao Século XVI d. c
Cleidimar Pedroso – Decon/Fapeam