Plantas amazônicas podem ser utilizadas como bioindicadores


A região amazônica é a segunda maior produtora terrestre de petróleo do Brasil. Áreas com este tipo de atividade, como a planície de inundação (várzea) dos rios Urucu e Amazonas, estão em constate risco de acidentes ambientais. Contudo, estudos que avaliem os danos causados à vegetação e aos animais são escassos, e os existentes focam, principalmente, espécies marinhas e salobras.

Na Amazônia brasileira o número de estudos é ainda menor, o que causa grande preocupação já que as várzeas possuem grande diversidade de plantas aquáticas. Elas são responsáveis pela maior parte da produtividade primária desses sistemas, além de serem habitat para diversas espécies de animais.

Caso essas plantas sofram agressão por meio do derramamento de petróleo, uma série de efeitos diretos e indiretos pode modificar todo o ecossistema do local.

A recuperação das áreas danificadas deve ser feita através de processos que não agridam as espécies vegetais predominantes. Métodos químicos e físicos, como solventes e dragas de sucção, muitas vezes podem prejudicar mais que os próprios poluentes.

Na busca de processos alternativos que diminuam estes impactos, como a fitorremediação que utiliza sistemas vegetais (árvores, arbustos, plantas rasteiras e aquáticas) para recuperar águas e solos contaminados por poluentes orgânicos ou inorgânicos, a mestre em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), Aline Lopes, desenvolveu em sua dissertação a pesquisa intitulada Respostas de herbáceas aquáticas amazônicas ao petróleo de Urucu (Coari – AM).

O trabalho foi orientado pela pesquisadora do Inpa, Maria Tereza Fernandez Piedade, e desenvolvido no âmbito do projeto Inpa/Max-Planck, com a colaboração do Programa Piatam (Potencias Impactos e Riscos Ambientais na Indústria do Petróleo e Gás no Amazonas), que cedeu o petróleo utilizado nos experimentos.

O projeto previa determinar os efeitos do petróleo cru de Urucu sobre a vegetação da várzea. Para o estudo foram escolhidas as plantas: canarana (Echinochloa polystachya) e o mureru (Eichhornia crassipes) nas fases de germinação, rebrotamento e desenvolvimento final.

A mestre optou por essas espécies, pois são abundantes na região e têm grande importância para a várzea, por exercerem as funções de ciclagem de nutrientes e armazenamento de carbono.

Desta forma, é possível contribuir para as estimativas de danos causados à várzea e verificar o potencial das espécies para atuar na fitorremediação, tanto nos períodos de seca quanto de cheia.

Foram efetuados quatro experimentos, onde se adicionaram dosagens diferentes do combustível sobre o substrato dos indivíduos, todos jovens. Verificou-se que ambas as plantas são altamente sensíveis ao óleo, porém a canarana apresentou menor resistência que o mureru.

A mortalidade da planta foi observada mesmo em doses baixas como: 1,5 mL de petróleo para 2L de água e, em apenas 4 dias, 50% da população de plantas jovens morreu por toxidez à dosagem de 8,91 mL de petróleo. Portanto, um derramamento de petróleo teria conseqüências catastróficas, dado o papel ecológico fundamental das espécies na ciclagem de carbono e nutrientes da várzea.

Já os experimentos onde a canarana foi plantada em solo já contaminado nas dosagens 0,66 mL de petróleo para 2 metros quadrados de solo (12,5 mL de petróleo em 2 litros de solo), constatou-se que esta tem grande potencial para fitorremediação.

O trabalho continua em andamento para consolidar as informações já obtidas. O objetivo é desenvolver métodos para remediação com baixo custo, pois o plantio da Canarana é feito por meio de pedaços dos talos das plantas adultas, o que dispensa a produção e estoque de mudas.

Ascom do Inpa

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