Manejo e proteção de áreas alagáveis no Amazonas
A equipe da pesquisadora Maria Tereza Fernandez Piedade pretende investir a maior parte dos recursos (R$ 450 mil) do projeto selecionado para o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) no trabalho de campo, em excursões multidisciplinares de pesquisadores envolvidos. Intitulado “Caracterização, classificação e avaliação do potencial de uso como base para uma política do manejo sustentável das áreas úmidas do Estado do Amazonas”, o projeto coordenado por Fernandez Piedade é ambicioso: propõe-se a analisar as calhas dos rios Amazonas, Solimões, Negro, Madeira e Purus (estes dois últimos por serem os focos atuais de migração) e a estabelecer uma classificação e formas de manejo e proteção para as áreas alagáveis.
O Pronex é um programa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Um dado destacado na proposta de Fernandez Piedade a respeito do uso da terra no Amazonas para justificar a pesquisa é que cerca de 80% da população rural concentra-se em áreas alagáveis, das quais derivam os mais importantes produtos que suportam boa parte da economia local: agricultura, silvicultura, extrativismo madeireiro, pesca e pecuária. No entanto, essas áreas utilizadas para a atividade econômica são pouco conhecidas. Estima-se que 20% a 25% da Amazônia pertencem a categoria de áreas úmidas, mas não existe levantamento detalhado nem classificação destas áreas. “Pelo fato das áreas alagáveis serem distribuídas em faixas relativamente estreitas ao longo dos rios da região e por sua dinâmica natural de cicatrização, devido ao crescimento rápido da vegetação, os impactos de desmatamento e desagregação tendem a ser, perigosamente, subestimados”, justifica a pesquisadora.
Uma das razões para essa sub-estimativa está no fato de que as técnicas de sensoriamento disponíveis são inadequadas para oferecer um retrato mais realista de suas áreas de cobertura e impactos já existentes. Nesse sentido, um dos aspectos inovadores do estudo está na adequação destas técnicas, juntamente com os esforços de campo, para estabelecer as diferentes tipologias das áreas alagáveis. Os resultados do estudo vão compor um banco de dados das diferentes tipologias, servindo de modelo para a tipificação de toda a bacia amazônica.
A equipe de pesquisadores pretende produzir mapas dos tipos de florestas alagáveis e fazer um inventário com as características de todas as espécies de árvores nos diferentes tipos florestais em relação à inundação.
Outra meta do estudo é compreender a relação custo-benefício das características funcionais das áreas de floresta, ou seja, identificar a madeira que pode ser explorada comercialmente. Esse trabalho visa contribuir para o melhor aproveitamento de madeiras da região, através de manejo florestal sustentável.
A equipe também se propõe a fazer um levantamento das formas de uso das madeiras exploradas comercialmente no Amazonas, dos produtos não-madeireiros, e das espécies potencialmente exploráveis, para que se possa atingir para cada região o aumento do rendimento econômico dessas espécies, por meio do seu uso sustentável a longo prazo.
Por fim, os pesquisadores querem analisar os índices de diversidade da flora nas áreas classificadas como potencias para atividades agronômicas, agroflorestal, florestal (extração de madeira de área manejadas), extrativismo (frutos, óleos, resinas, entre outros), pesca e piscicultura e ecoturismo.
Entre os impactos esperados pelos pesquisadores destacam-se a formação de recursos humanos especializados para estudos em áreas alagáveis; a produção de subsídios para políticas públicas de áreas alagáveis amazônicas; e uma tipologia ao Estado do Amazonas de áreas alagáveis de seu território para nortear políticas publicas estaduais e nacionais.
Para realizar essa tarefa, a equipe de Fernandez Piedade conta com a colaboração de 17 pesquisadores, a maioria com larga experiência científica na Amazônia. A equipe já desenvolve 13 projetos de pesquisa, a maioria na região, através do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Valmir Lima – Decon/Fapeam