Lefran quer inclusão digital com Software Livre
“Fazer algo que contribua para o desenvolvimento da comunidade”, é com essas palavras que Marinaldo de Andrade Agostinho, presidente da Organização Não-Governamental Centro de Popular de Cultura Legião Franciscana (CPC-Lefran), resume a participação da instituição no bairro São Jorge, zona Centro-Oeste de Manaus, ao longo de nove anos. Instalado em nova sede desde a última sexta-feira, o Lefran se volta para um desafio ímpar, se não inédito no Amazonas, de oferecer reforço escolar e aula de informática para crianças e idosos com Softwares Livres de cunho pedagógico.
A reinauguração do Lefran reuniu a direção da ONG, professores e voluntários, muitos deles membros da comunidade. O diretor-presidente da Fapeam, Odenildo Sena, participou do evento."Estou muito sensibilizado em poder participar desse importante momento para o Lefran, mas principalmente com o trabalho que vocês realizam".
O trabalho ao qual Sena se referiu tem modificado a realidade da comunidade do bairro São Jorge. O Lefran oferece serviços complementares à Educação, com ações voltadas para a inclusão digital, social e a formação cidadã. “Todo o foco do nosso trabalho tem a Cidadania enquanto princípio fundamental”, esclarece Marinaldo.
Pelo menos 700 alunos passam pelos cursos de informática básica do Lefran todos os anos, os quais também recebem aula de reforço escolar. Cada estudante paga uma taxa de R$25 e tem acesso um curso de dois meses, com duas horas de aula diariamente. São oferecidas ao menos duas turmas por período, explica o coordenador. “Só conseguimos manter as turmas porque parte dos professores são voluntários, uma vez que os recursos ainda são insuficientes para manter o Lefran funcionando”.
Há dois anos, o Lefran deixou de usar softwares proprietários porque não dispunham de recursos para pagar as licenças. De acordo com o coordenador, a mudança começou quando jovens profissionais das Ciências da Computação passaram a integrar o quadro de voluntários do Lefran. “Eles iniciaram uma espécie de revolução aqui dentro, ao substituir o uso do Windows por softwares livres nas máquinas usadas nas aulas de informática”, conta.
O termo Software Livre refere-se aos softwares que são fornecidos aos seus usuários com a liberdade de acesso ao código fonte, ou seja, permitindo-lhes executar, aperfeiçoar, estudar, modificar e repassar (com ou sem alterações) as ferramentas sem a necessidade de permissão ou pagamento de licença.
Aos poucos, ficou claro que softwares livres melhor se adequavam à proposta do Lefran. “Do ponto de vista ético, os softwares livres são muito mais interessantes para um telecentro com fim de combate à exclusão digital”, diz Romulos Machado, coordenador voluntário da área de informática na organização.
O Lefran construiu toda uma reflexão acerca da questão. “Foi uma ruptura. Entendemos que ao fazer essa escolha, optamos por manter nossa proposta de formação de cidadã, defendendo o direito de todos no acesso à informação. Inicialmente, pensamos que haveria diminuição de alunos, mas não foi o que aconteceu. Ao contrário, houve maior rendimento desde então”, enfatiza Marinaldo.
Os alunos (crianças, jovens e adultos) do Lefran não enfrentaram dificuldades para manusear os novos sistemas, de acordo com os professores, derrubando os paradigmas da facilidade de uso do software proprietário. Em parte, essa facilidade se dá pela situação de exclusão social e digital à qual estavam expostas. "Sem conhecer o software proprietário, os alunos não apresentam resistência ao sistema livre, tornando as aulas muito mais fáceis e práticas para todos”, diz Tiago de Melo, presidente da Comunidade Software Livre, colaboradora do Lefran.
Projeto Pedagógico
Consolidada esta fase, a idéia agora é usar os softwares livres em um novo projeto pedagógico, aliando o uso dessas novas tecnologias à reflexão de uma formação cidadã. “Acreditamos que é com essa fusão entre telecentro comunitário e softwares livres que iremos promover, efetivamente, a inclusão digital”, defende Romulos Machado.
A partir de agora, o Lefran vai usar utilizar, nas aulas de informática, o GCompris é conjunto de aplicativos interdisciplinar que pode ser utilizado nas disciplinas: Língua Portuguesa, Matemática, Educação Artística, Geografia.
Também vão usar o GCompris na educação para o uso racional dos recursos naturais, como gestão de recursos hídricos. Porém, o projeto mais audacioso é a turma de informática para idosos, com o uso desse mesmo sistema. “Essa proposta está gerando muita expectativa, uma vez que é uma experiência inédita, especialmente no caso desse programa”, diz Romulos.
Entre os próximos projetos do Lefran está a realização de uma oficina de texto para crianças, onde elas aprenderão a construir E-books (livros eletrônicos). Ao mesmo tempo em que aprendem a utilizar ferramentas da informática, eles criam textos que serão usados como base para o reforço escolar em Língua Portuguesa. Também há expectativa quanto à implantação de um cyber café popular, para toda a comunidade.
Fapeam
Na ocasião, Odenildo Sena lembrou que o Lefran está apto a participar do edital de incentivo à pesquisa em Software Livre, que terá orçamento de R$700 mil. “Temos interesse em contribuir no desenvolvimento de softwares livres que possam ser rapidamente disseminados e apropriados pela comunidade”, ressaltou.
O Programa de Apoio à Pesquisa – Software Livre (PAPE-SOL), ainda sem data de lançamento, é uma linha de pesquisa destinada a fomentar a geração de novos produtos e serviços de interesse público e que sejam utilizados pelas populações amazônicas. A medida vai ao encontro das demandas do Movimento Software Livre e está dentro das ações da instituição com foco ao incentivo à inovação tecnológica e à geração de empregos no campo da CT&I.