Investimento em ciência e tecnologia é a saída para tirar a Amazônia da condição de periférica
BELÉM – O investimento em ciência e tecnologia e a união de competências atuantes dos Estados do Amazonas e do Pará são a saída para desenvolver a Amazônia e tirá-la da condição de “periférica” a que ficou submetida historicamente no cenário nacional. Nessa perspectiva, o governador Eduardo Braga (AM) e a governadora Ana Júlia Carepa (PA) assumiram publicamente o compromisso de unir forças para promover ações na área de C&T que venham trazer mais qualidade de vida para as populações amazônicas, respeitando a diversidade cultural e observando as necessidades específicas da região.
Braga e Carepa participaram nesta segunda-feira, 9, da mesa-redonda “C&T na Amazônia”, no primeiro dia da 59ª. Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), em Belém. Ambos fizeram uma exposição das principais ações de seus governos no âmbito da C&T e salientaram que, durante anos, a região ficou dependente de programas nacionais na maioria das vezes pautados por interesses que não convergiam com as demandas locais.
“Uma das maiores lacunas que abriu diferença entre as regiões no Brasil foi a formação intensa de mestres e doutores no Sul e no Sudeste e que não se repetiu no resto do país. Hoje, querem comparar a Amazônia com as regiões que receberam uma quantidade de recursos muito maior, mas é uma comparação absurda”, afirmou Braga. “É importante a construção de políticas de inclusão para a democratização do poder. As diferenças são históricas, mas é possível minimizá-las com políticas públicas sérias e que promovam a inclusão social, para que haja a democratização do poder”, completou Carepa.
Braga lembrou que, nos tempos da borracha, o Amazonas respondia por 40% do PIB nacional e, atualmente, representa apenas 2%. “O que aconteceu com a riqueza gerada pelo Amazonas? Serviu para financiar a indústria que gerou o investimento em C&T no Brasil, nas regiões Sul e Sudeste, resultando nas desigualdades que temos nos dias de hoje”, salientou. Em sua exposição, ele falou sobre os esforços para mudar esse cenário e atribuiu à criação da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Sect) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) os avanços em C&T no Amazonas.
“Conseguimos implantar um sistema que tirou o Amazonas de uma situação deficitária na formação de recursos humanos e na transposição do conhecimento para benefícios à nossa população. A Fapeam é uma instituição estratégica para a oferta de recursos financeiros que estão potencializando a pesquisa, a inovação e a formação de recursos humanos”, disse Braga. Cientistas, estudantes e autoridades presentes ficaram surpresos quando o governador revelou o total de investimentos executados pela Fapeam no período de 2003 a 2006, de R$ 70,5 milhões.
Para a governadora do Pará, um país com dimensões continentais como o Brasil depende muito dos Estados para avançar cada vez na C&T. “Mas, para isso, é fundamental a união de interesses, ainda mais no caso da Amazônia, que sempre foi tratada de forma desigual, sem que fossem respeitadas as suas necessidades específicas. Unindo forças, nós poderemos dar respostas, mostrando que aqui, na nossa região, existem competências”, afirmou Carepa. Ela disse que uma possível rivalidade entre Pará e Amazonas – fruto da “miopia política do passado” – não existe mais.
Endossando o discurso da governadora, Braga disse que o Amazonas, que já avançou um pouco mais em ciência e tecnologia, está à disposição do Pará e dos demais estados do Norte para interagir e contribuir com a formulação de políticas públicas que de fato venham promover o avanço e a melhoria da qualidade de vida das populações amazônicas e também na luta para mostrar ao Brasil que a Amazônia é estratégica, não podendo mais ficar na “periferia”.
O governador do Amazonas encerrou sua participação na mesa-redonda convidando Ana Júlia Carepa e todos os governadores do Norte, bem como as instituições de ensino e pesquisa, para um grande encontro em Manaus, no mês de agosto, a fim de que possam debater sobre as necessidades da região e as ações futuras no âmbito da C&T. “Nós devemos aproveitar o momento político, já que o Governo Federal tem, de fato, um olhar diferenciado para a Amazônia”, finalizou Braga.
Fapespa – A governadora Ana Júlia Carepa anunciou, durante sua exposição, a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa) e sua efetiva implementação em 2008. Aprovada recentemente pela Assembléia Legislativa do Pará, de acordo com Carepa, a Fapespa era uma reivindicação antiga da comunidade científica paraense e um pleito encampado pelo Conselho Federal das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).
“Sem dúvida, é um salto para a ciência na Amazônia. A criação da FAP do Pará era uma luta nossa, do Confap, e foi essa luta que nos motivou a trazer a reunião para Belém, onde está reunida a comunidade científica brasileira. Eu posso dizer que sairemos daqui vitoriosos, com a sensação de dever cumprido. Deu certo”, declarou Odenildo Teixeira Sena, presidente do Confap e diretor-presidente da Fapeam. A 59ª. Reunião Anual da SBPC está sendo realizada no Hangar Centro de Convenções e termina na sexta-feira.
Ana Paula Freire – Decon/Fapeam