Fungos amazônicos: potencial econômico para a região


Pesquisar a biodiversidade da floresta amazônica para desenvolver tecnologia e criar oportunidades de negócios para a população. Com esse objetivo, professores do Programa de Mestrado em Biotecnologia e Recursos Naturais (MBT) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) estão pesquisando enzimas com aplicação industrial oriundas dos fungos amazônicos.

O coordenador do programa, Ademir Castro e Silva, explica que estão sendo desenvolvidas, atualmente, duas linhas de pesquisa em fungos: "Biotransformações Usando Fungos da Amazônia” e "Enzimas de Fungos da Amazônia. “Estamos pesquisando fungos deterioradores de madeira e os endofíticos (fungos que vivem dentro das plantas de forma simbiótica, não perceptíveis a olho nu) com grande potencial para aplicabilidades industriais”, explica.

A idéia é pesquisar quais enzimas ou proteínas são produzidas por esses fungos em seus processos biológicos naturais e quais utilidades práticas essas podem ter para fins industriais. O grupo de fungos deterioradores de madeira, por exemplo, produz um conjunto de enzimas denominado Lacase, interessante para a área de biorremediação de solos, no caso, o tratamento de solos contaminados com organismos biológicos.

Por sua capacidade natural de quebrar estruturas moleculares do tecido da madeira, esses fungos podem ser aplicados em solos contaminados por hidrocarbonetos, quebrando a estrutura molecular deles em moléculas menores e, conseqüentemente, diminuindo a toxidade do solo. “Estamos quebrando paradigmas, uma vez que os fungos que deterioram madeiras são vistos como destruidores, ou seja, estamos dando utilidade industrial para esses fungos”, aponta o professor Silva.

Além disso, as enzimas produzidas por esses fungos também podem vir a ser utilizadas na indústria de celulose, por meio do processo de biopolpação (tratamento da madeira com organismos biológicos para a produção de pasta celulósica), e nas indústrias de cosméticos, detergentes e produtos de limpeza.

A exo-beta-glucanase, também produzida por fungos amazônicos deterioradores de madeira, é uma enzima com grande potencial industrial na área da agricultura, uma vez que pode ser utilizada na produção da ração animal diminuindo os custos com produção. “Pode-se criar uma bioindústria de produção de ração para granjas e essas poderão comercializar seus produtos a um preço bem menor do que os encontrados atualmente no mercado”, diz Silva.

Ele cita a pesquisa do estudante Dany Cristhann da Silva Carvalho, que tem a perspectiva de produzir proteínas singulares utilizando fungos amazônicos. Funciona assim: por meio de um processo no qual a madeira é utilizada como substrato, é possível induzir os fungos a produzirem proteínas unicelulares que podem ser utilizadas na alimentação humana. Se o pesquisador conseguir produzir uma proteína compatível com os parâmetros da produção internacional, esses fungos passarão a ter aplicações na indústria alimentícia.

foto_fapeam_205 “Já existem fungos com esse tipo de utilização na indústria internacional, estamos apenas procurando fungos amazônicos que possam ser utilizados na produção dessas enzimas e proteínas”, ressalta Silva, o coordenador do programa.

Para ele, a criação de biondústrias não é uma realidade distante. “Temos também o trabalho do aluno Epitácio Cardoso Dutra e Silva, que está desenvolvendo pesquisas buscando substância a partir de fungos para a produção de carrapaticidas bovinos, o que, no futuro, poderá baratear o custo desse material. A produção e a aplicação de carrapaticidas para bois têm alto custo em todo o país, não apenas aqui. Se um trabalho desses se concretiza, a criação de uma bioindústria vira uma realidade e uma grande oportunidade”, acredita o professor.

Por considerar o mercado de aplicação industrial de fungos completamente inexplorado no Amazonas, Silva tem procurado incentivar o empreendedorismo entre seus alunos de modo a aplicarem dos trabalhos de pesquisas que eles desenvolvem no MBT. Com esse intuito, foi realizado recentemente o workshop “Geração de Negócios a partir de Pesquisas Acadêmicas”, coordenado por Ewerton Lary Ferreira, gerente da Incubadora de Negócios de Base Tecnológica do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). O evento contou com a parceria do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES/FGV-SP).

“Incentivamos nosso alunos para pensarem nesse sentido: montarmos bioindústrias que ajudem a desenvolver o Estado do Amazonas”, afirma Silva. Para ele, as perspectivas de implementação desses negócios são as melhores possíveis. “Atualmente, verifica-se intenções nesse sentido à medida que o Estado consolida uma agência de fomento, como a Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), ou participa da criação de um centro de biotecnologia, como o CBA, e também estamos ansiosos pelas diretrizes da nova administração da UEA no que diz a respeito à biotecnologia”, observa.

Silva é otimista quanto à aplicação dessas pesquisas. “A área de biotecnologia é multidisciplinar e aberta para pesquisa. Hoje, estamos trabalhando com fungos, mas pense nas milhares de espécies de animais que ainda não foram estudadas. Precisamos quebrar paradigmas, deixar de pensar que a biotecnologia atua apenas na área de biologia molecular”, afirma.

Para o professor, atualmente a maior necessidade para a pesquisa no Estado não são os recursos financeiros ou a tecnologia de ponta – “nisso a Fapeam tem tido uma importante atuação”, mas sim recursos humanos preparados para pensar e desenvolver pesquisas na área. Com essa mentalidade empreendedora, as pesquisas em biotecnologia podem vir a trazer grandes benefícios para a sociedade amazonense.
Hemanuel Jhosé – Decon/Fapeam

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