Pesquisa aponta propostas para o manejo eficiente da floresta
Propor uma forma de exploração com impacto reduzido e que leve em conta o crescimento natural da floresta. Foi com esse objetivo que o engenheiro florestal Celso Paulo de Azevedo desenvolveu a tese “Dinâmica de Florestas Submetidas a manejo na Amazônia Oriental: Experimentação e Simulação”, no Programa de Doutorado em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná.
De acordo com o pesquisador, que recebeu bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) para cursar o doutorado, apesar do avanço das pesquisas na área de manejo, ainda é preciso, no âmbito das políticas públicas, estabelecer medidas de exploração que sejam economicamente viáveis e ecologicamente aceitáveis.
“Isto é determinado pelo ritmo de crescimento de cada espécie, que depende da biologia, da fotossíntese, da abertura de clareiras devido à exploração e da dinâmica do povoamento em área sob manejo florestal sustentável”, afirma Azevedo, que é pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus.
Azevedo explica que desenvolvimento sustentável ocorre em três dimensões: eqüidade social, eficiência econômica e conservação ambiental. “Quando temos apenas eqüidade social e eficiência econômica, ocorre à degradação ambiental. Quando temos apenas eqüidade social e a conservação ambiental, ocorre a ausência de realismo econômico. E, finalmente, quando ocorre somente conservação ambiental e a eficiência econômica, temos a pobreza e a desigualdade social”, destaca.
Mas o desenvolvimento sustentável do setor florestal na Amazônia evoluirá gradualmente ao longo do tempo, acredita o pesquisador. Segundo ele, estudos apontam que essa evolução será marcada por cinco níveis de reconhecimento do valor da floresta: a escassez de madeira; o valor do material até então desperdiçado no instante da derrubada; a necessidade de um maior espaço de tempo para intercalar uma retirada de uma madeira e outra; produtos florestais não madeireiros – óleos, resinas e fibras; e serviços não-comerciais prestados à sociedade – estocagem de carbono, manutenção hidrologia, entre outros.
Um manejo menos técnico
O pesquisador reporta que, na década de 90, com o advento da certificação florestal, surgiu a necessidade de traduzir o conceito de “manejo florestal sustentável” para algo mais prático. “Nasceu, então, o termo ‘bom manejo florestal’, que representa melhores práticas de manejo, capazes de promover a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais, por considerar a viabilidade econômica e o estado da arte do conhecimento científico e tradicional”, observa.
De acordo com Azevedo, manejo florestal passou a ser entendido dentro do contexto da “Agenda 21”, que trata da implementação de um novo modelo de desenvolvimento sustentável com vistas à preservação da biodiversidade, equânime e justo tanto nas relações econômicas entre os países como na distribuição da riqueza nacional entre os diferentes segmentos sociais, economicamente eficiente e politicamente participativo e democrático.
“Não basta, portanto, no manejo florestal, um fluxo contínuo de produtos através dos tempos. Além disso, todas as instituições da sociedade, principalmente as empresas, devem adotar códigos de ética sérios para seu progresso, dentro do contexto de sociedade decente e princípio de responsabilidade”, conclui o pesquisador.
A tese de Azevedo faz parte do experimento “Determinação da intensidade ideal de exploração para fins de manejo policíclico da floresta úmida densa”, do Projeto Técnicas de Manejo para Florestas Tropicais Úmidas da Amazônia (Projeto Bom Manejo), desenvolvido pela Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA). Este experimento foi iniciado há mais de 20 anos em uma área de floresta densa, na Companhia Florestal Monte Dourado (Jarí), na localidade Morro do Felipe, município de Vitória do Jarí, Estado do Amapá.