Fragmentos do passado
As comunidades indígenas que habitaram a Amazônia Central nos quase dois milênios que antecederam a chegada dos europeus eram formadas por grupos que se fixavam por dezenas a centenas de anos próximos às margens dos rios e já não perambulavam tanto pela floresta em busca de alimentos.
Em uma forma inicial de agricultura, cultivavam mandioca, milho e possivelmente outras plantas domesticadas na Amazônia – como o abacaxi ou a pupunha. Também pescavam e caçavam pequenos animais no alto das árvores, uma vez que por ali ainda hoje são raros os bichos no nível do chão.
Com interrupções mais ou menos breves, grupos de quatro culturas indígenas se sucederam em comunidades que, nos períodos mais prósperos, chegaram a reunir alguns milhares de pessoas. Nessa época sobre a qual não há registros históricos, o grau de organização social dos grupos indígenas era bastante variável, como se pode inferir das escavações iniciadas em 1995 pela equipe de Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).
É certo que as culturas pré-coloniais que viveram entre 2.300 e 500 anos atrás na Amazônia Central, região que abrange os principais afluentes do rio Solimões no estado do Amazonas, jamais atingiram a estrutura e a sofisticação de outras civilizações contemporâneas como a maia e a asteca, na América Central, ou a inca, na cordilheira dos Andes, dizimadas pelos conquistadores espanhóis e pelas doenças que trouxeram para as Américas.
No coração da Amazônia brasileira, nem sempre as comunidades indígenas se constituíam segundo um padrão de complexidade crescente – bandos, tribos, cacicados e civilizações –, proposto há mais de 50 anos por um ramo da antropologia norte-americana chamado neoevolucionismo, que via na civilização ocidental seu mais alto grau de desenvolvimento.
“Há sinais de que nesses dois milênios existiram por ali tribos e possivelmente cacicados, em que um líder exerceria poder sobre várias aldeias”, diz Neves. Na Amazônia Central, essa complexidade variou segundo a época. Alguns grupos cresceram e atingiram certo grau de organização, mas, próximo à chegada dos colonizadores, começaram a diminuir até quase desaparecer.
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