Dissertação analisa formação de professores Sateré-mawé


As histórias e dificuldades na formação acadêmica de professores indígenas da etnia Sateré-mawé, que trabalham em escolas na região do Marau, território demarcado dos Saterés no município de Maués, foi o tema da dissertação de mestrado de Elciclei Farias dos Santos. Ela cursou o mestrado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e, munida da boa idéia que é mostrar a história de professores indígenas que trabalham para a educação do próprio povo, conseguiu uma bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

A dissertação de Elciclei foi batizada de “Contando Histórias de Formação de Professores(as) Sateré-Mawé: um estudo a partir da experiência docente em áreas indígenas”. Os primeiros passos da pesquisa foram dados ainda em 2001, quando Elciclei era acadêmica do curso de Pedagogia, na Ufam. Naquele ano, ela ingressou, através de uma indicação de sua professora-orientadora no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), no projeto “Formação de professores indígenas na perspectiva do Estado: o caso do projeto Pira-Yawara”, da Secretaria Estadual de Educação do Amazonas (Seduc-AM). O Pira Yawara foi um programa para formar professores indígenas no Amazonas.

Elciclei trabalhou como professora de indígenas que, na prática, já eram ‘professores’ em suas comunidades, pois lecionavam para os outros índios Sateré-mawé. Ela assumiu duas turmas de Ensino Médio – Magistério Indígena – e deparou com a realidade de que ainda há escassez de especialistas com experiência na formação de professores para o campo da educação escolar indígena.

Para Elciclei, é urgente a necessidade de investimentos públicos em uma política de formação de professores indígenas na perspectiva intercultural, no sentido de proporcionar uma formação mais ampla, articulando os saberes indígenas com os dos ‘brancos’ na construção de novos conhecimentos que promovam a justiça social, a conquista da autonomia e a continuidade da vida. Dessa forma, de acordo com Elciclei, é necessário que se invista na qualificação de formadores que atuem diretamente com os professores indígenas.

Essa opinião é reforçada pelo fato de que, todos os professores indígenas entrevistados por Elciclei afirmaram que, no início da formação deles, precisaram sair de suas comunidades para serem alfabetizados, enfrentando dificuldades com a língua, costumes e preconceito do ‘homem branco’. A nova cultura, inclusive, atrapalhou o retorno desses indígenas para suas comunidades. Alguns dos entrevistados por Elciclei continuam com dificuldades para dominar novamente a língua materna, após passar anos sem praticá-la.

Flávia Mendonça

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