SEMINÁRIO DISCUTE VALORIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS


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Parintins – Cerca de 200 pessoas, entre professores, comunitários, alunos,
pesquisadores e lideranças indígenas participaram do II Seminário Jovem
Cientista Amazônida – Regional Parintins, encerrado semana passada (14 e 15) em
Parintins. O evento teve como objetivo avaliar os nove projetos de
pesquisa desenvolvidos no Município, em Barreirinha e Maués, pelo Programa
Jovem Cientista Amazônida (JCA), apoiado pela Secretaria Estadual de
Ciência e Tecnologia (SECT), através da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Amazonas (FAPEAM). O Programa tem como alguns dos objetivos interiorizar
ciência e tecnologia, aumentar a competência científica no Estado e
promover a inclusão social em áreas rurais e indígenas. Para tanto, a
FAPEAM dispõe de mais de R$ 1,5 milhão para financiar projetos de pesquisa
cujos temas prioritários sejam relacionados às populações tradicionais do
Amazonas.

Uma das grandes contribuições para a população sateré-maué da região é a elaboração de uma gramática pedagógica na língua sateré. Coordenado pela professora
Dulce Franceschini, o projeto vai trazer resultados significativos para
os cerca de 8,5 mil indígenas que moram em Barreirinha, Maués e
Parintins, pois vai sistematizar graficamente a língua materna, que por
enquanto só possui registros orais. A pesquisa conta com professores
indígenas bolsistas e voluntários que optaram por fazer uma gramática
descritiva, que respeite as diferenças do idioma nas várias comunidades
indígenas.

Os educadores indígenas afirmam que o projeto vai fortalecer a língua
materna e é fundamental pois muitas palavras e termos foram perdidos no
tempo pela falta de uso. "Nós sabemos falar mas não sabemos fazer a
escrita e essa é importante para que nossos filhos e netos continuem o
nosso trabalho", afirma Damácio Viana, professor sateré. Uma das funções
dos jovens cientistas é entrevistar os mais idosos da comunidade e
resgatar palavras pouco usadas ou esquecidas pela parcela mais nova da
população. "Nós não podemos perder a nossa língua, nenhuma nação pode perder o idioma
materno", declara Donato Lopes da Paz, tuxaua sateré. Num discurso
emocionado, o líder fala em sateré sobre a importância cultural da
gramática, como símbolo de resgate e valorização da cultura indígena.

Ainda relacionado aos sateré-maué, o projeto "Individualização e
determinação das condições produtivas, sociais e legais para a plena
valorização do guaraná dos Sateré-Mawé como produto típico e de
excelência", pretende recuperar a cultura do guaraná entre o povo que por
muitos séculos deteve a exclusividade no seu cultivo. "O processo de
recuperação nesse caso assume o lado econômico e cultural, pois o projeto
pretende também trabalhar com a auto-estima dessa nação", afirma o
coordenador Raimundo Nonato Pereira.

A antropóloga Alba Figueroa explica que o monopólio do fruto saiu das mãos
dos indígenas na virada do século XIX quando o período áureo da borracha
começou a entrar em decadência. Ela diz que com a diminuição da exportação
do látex, os trabalhadores do Amazonas tiveram que buscar outros produtos
para comercialização, sendo o guaraná um deles.
Um dos projetos apresentados no encerramento do Seminário trata do
monitoramento de ninhos do gavião real, que recentemente saiu da lista do
IBAMA de animais correndo risco de extinção, embora permaneça nesse
enquadramento em listas internacionais, segundo a coordenadora da
pesquisa, professora Tânia Sananiotti. A ave se reproduz de três em três
anos, ficando o filhote sob a tutela dos pais durante dois anos, período
em que a família fica suscetível à caça e à captura para fins de tráfico
de animais selvagens. Esses fatores, aliados ao desmatamento que destrói o
habitat do gavião real, constituem nas principais ameaças à espécie, de
acordo com Sanaiotti. O projeto está sendo desenvolvido no assentamento
Vila Amazônia por alunos do ensino fundamental, de graduação e de
pós-graduação.

Uma das características do projeto é propor alternativas econômicas
sustentáveis que se contraponham à captura do animal, seja para fins de
consumo já que em certas regiões ele é fonte de proteína animal ou para
tráfico. A pesquisa sugere em curto prazo o desenvolvimento de sistemas
agroflorestais, viveiros, mudas e criação de abelhas melíponas (sem
ferrão).

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