Cerca de 80% dos peixes de Manaus vêm dos rios da região
02/04/2013 – Aproximadamente 80% dos peixes consumidos em Manaus têm origem nos rios da região e é a principal fonte de proteína para a população da cidade. Os peixes com escama continuam na preferência do manauara, mas os lisos têm conquistado lugar de destaque, principalmente em forma de filé de dourada.
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O consumo de peixes lisos sempre foi tabu no Amazonas, mas com a chegada de pessoas de outros Estados o cenário tem mudado. Essa é a conclusão do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Efrem Gondim.
Conforme o pesquisador, não há muitas informações sobre a produção de peixe em Manaus. “Trata-se de um gargalo histórico. Alguns dados sempre estão atrelados às pesquisas científicas. Todavia, quando o projeto acaba, o levantamento é encerrado”, salientou. Gondim citou como exemplo as estatísticas sobre a produção de peixe no Estado. Os dados são divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais indicam que os números não estão diferentes de levantamentos feitos há 20 anos.
"Hoje se estima que seja consumido na capital aproximadamente 35 mil toneladas de peixe ao ano. Conforme estudo científico divulgado na revista científica Acta Amazônica, em 1978, o valor estimado era de 30 mil toneladas/ano. A diferença é muito pequena em relação ao aumento do número de habitantes da capital. Será que a produção caiu ou permaneceu igual e a população aumentou? Será que os dados são reais?", questionou Gondim.
Setor pesqueiro
Conforme cálculo feito pelo próprio pesquisador, se a produção de peixe (35 mil toneladas/ano) for multiplicada por apenas 1 dólar o quilo, chega-se a 35 milhões de dólares/ano. Não estão inclusos gastos com combustíveis, gelo, salário de funcionários e/ou armazenamento. "O setor pesqueiro é grande e importante para a economia regional e movimenta mais do que o estimado. Há indústrias no Polo Industrial de Manaus (PIM) que não movimentam esses recursos ao ano", frisou.
Segundo o Gondim, o setor pesqueiro enfrenta problemas de logística. Ele disse que, por ser uma atividade difusa, os pescadores não têm poder de barganha. "Contudo, a criação de peixes em viveiros não tem como substituir a pesca tradicional, por ser uma atividade cara. “A ração animal é cara e não há no Amazonas indústrias voltadas para a produção de ração", disse.
De acordo com Gondim, a cidade não é autossuficiente na criação de peixes em viveiro, uma vez que parte da produção que chega à capital vem de Roraima e Rondônia. Os viveiros em Manaus produzem apenas cerca de 2 mil toneladas/ano. Mas, se a produção de peixes em viveiro fosse maior, os impactos ambientais também seriam.
Hábitos alimentares
Conforme Nilson Carvalho, doutor em Biologia de Água Doce e Pesca Interior do Inpa, o processo de mudança nos hábitos alimentares de uma determinada região não é algo rápido. Normalmente, são necessárias décadas e a mudança é influenciada por questões econômicas (preço, quantidade), demográficas (migração e imigração), sociais e culturais (pessoas oriundas de outros Estados, com costumes diferentes).
Carvalho é proprietário da Delicatessem Pescado, microempresa que recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresas na Modalidade Subvenção Econômica (Pappe/Subvenção).
Em Manaus, atualmente, conforme o pesquisador, nota-se o aumento no consumo de peixes lisos. Ele também afirmou que é normal as pessoas consumirem jaraqui, pacu e branquinha, por exemplo. Antes, era comum apenas o consumo de peixes nobres, como tambaqui, tucunaré e pescada. "O preço do peixe e a vinda de pessoas de outros Estados têm influenciado nos hábitos alimentares. O quilo do peixe custa, em média, R$ 10 (dourada), enquanto a pescada é R$ 32. É preferível comer a dourada por ser mais barata do que a pescada", explicou.
Em relação à qualidade do peixe consumido, o pesquisador afirmou que a rotatividade do produto é alta nas feiras. Dessa forma, não há como o peixe estragar. Normalmente, os feirantes diminuem o preço e salgam o produto para não perder a venda. "Mas, o consumidor precisa ficar atento aos produtos comercializados nos supermercados", disse.
Luís Mansuêto – Agência FAPEAM