Alimentos regionais são substituídos por industrializados, em Parintins
25/03/2013 – Os hábitos alimentares da população do município de Parintins, localizado a 315 quilômetros de Manaus, estão passando por um processo de mudança. Alimentos típicos da região, como caça, mandioca, peixe, camburi e mucambu, estão sendo substituídos por produtos industrializados (calabresa, salsicha, enlatados e frangos congelados). A mudança deve-se ao fato de muitas famílias de produtores rurais e ribeirinhos migrarem das áreas de várzea para morar na área urbana, devido à falta de mão de obra para trabalhar na lavoura, dificuldades logísticas e infraestrutura.
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As informações fazem parte da tese de doutorado da professora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) Alem Silvia Marinho dos Santos. Ela desenvolveu a pesquisa ‘Segurança alimentar no ritmo das águas: mudanças na produção e consumo de alimentos e seus impactos ecológicos em Parintins – AM’, que contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Contemplado pelo Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH Institucional – Fluxo Contínuo), o trabalho teve início em dezembro de 2008 e foi concluído em dezembro de 2012.
A pesquisa foi realizada em área de várzea, nas comunidades Santa Rita do Boto e São Sebastião do Boto, e em mais dez bairros da área urbana de Parintins. O levantamento envolveu entrevistas e a aplicação de mais de 400 questionários para identificar os hábitos alimentares da população. O resultado demonstrou que, inicialmente, as comunidades eram autossuficientes, pois tinham condições de se manter com o que era produzido (mandioca, hortaliça, lavoura, caça, arroz) e o excedente era comercializado nas feiras locais. Hoje, a situação é diferente.
Conforme Santos, com o aumento da concorrência houve a diminuição da produção local, uma vez que é mais fácil comprar os alimentos no mercado do que plantá-los. Ela explicou que muitos entrevistados apontaram problemas de escoamento, infraestrutura, mão de obra, domínio da técnica, e o pouco que é produzido é vendido para intermediários. "Há incentivo do governo estadual, mas os produtores não conhecem os trâmites legais para buscar recursos. Os professores da universidade têm discutido alternativas para solucionar o problema da calamidade na produção rural", salientou.
Alimentação parintinense
Em relação à alimentação tradicional paritinense, Santos informou que ela é oriunda, primeiramente, da cultura indígena, depois se constitui caboclo-ribeirinha com utilização dos derivados da mandioca, como as farinhas amarela e de tapioca, dos frutos silvestres, do pescado, da caça e do pequeno cultivo agrícola. Contudo, com a vivência na cidade, houve a exclusão do peixe do cardápio. A pesquisa demonstrou que 31% e 35,4% dos domicílios urbanos e rurais, respectivamente, gastam mais de 60% de seus rendimentos com compra de alimentos, pois a maioria ganha entre um e dois salários mínimos.
"Durante o período da cheia, os caboclos migram para a área urbana. Consequentemente, muitos bairros do município também surgiram nesse período. Enquanto na zona rural os ribeirinhos consomem pescado sete dias na semana, por exemplo, na urbana e nas vilas o consumo cai para quatro dias e, na cidade, para dois dias. O alimento é substituído por calabresa, salsicha, ovos, frangos congelados por serem mais baratos. Outro ponto é que quando eles saem do interior passam a depender exclusivamente da renda. Não têm como pescar o peixe na beira do rio", lamentou.
A mudança nos hábitos alimentares, de acordo com a pesquisadora, está refletindo na tradição cultural. Os mais jovens, por exemplo, desconhecem o caburi e o mucambu, bebidas feitas à base de mandioca. Ela disse que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam a diminuição tanto do peixe quanto da farinha de 46 kg/ano para 26 kg/ano.
Produção de farinha
Conforme Santos, a farinha virou artigo de luxo na mesa dos ribeirinhos e caboclos, principalmente devido ao aumento do preço. Além disso, à medida que mais agricultores familiares se encarregam de plantar juta e deixam de produzir farinha, o excedente alimentar necessário para suas trocas e vendas para a cidade cessa. "A produção de farinha em Parintins vem sendo abandonada. Alguns relataram que deixaram, inclusive, de produzir até para o autoconsumo, pois o trabalho com as fibras é dispendioso", afirmou.
RH Institucional – Fluxo contínuo
O Programa concede bolsas de doutorado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em Programa de Pós-Graduação recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em outros Estados da Federação, que não tenha similar no Estado ou se houver que tenha conceito superior ou disponível no Estado.
Luís Mansuêto – Agência FAPEAM