Prevalência de hepatite C é maior entre alcoólatras, afirma estudo


25/09/2013  – Abandonar o alcoolismo não é fácil, segundo o Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, de 2005. O tratamento dura, pelo menos, um ano e meio em sua fase mais intensiva e tem índice de recaída de cerca de 50% nos primeiros 12 meses. A doença atinge cerca de 5,8 milhões de pessoas no País e, em sua fase crônica, pode causar sérias complicações ao dependente químico. Mas será que existe alguma relação entre pessoas que consumiram álcool por um período prolongado de tempo e a infecção pelo vírus da hepatite C, visto que essa doença tende a levar ao desenvolvimento de cirrose hepática e câncer de fígado, em sua fase crônica?

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Foi com este questionamento em mente que um grupo de pesquisadores da Fundação Hospital Adriano Jorge (FHAJ), coordenado pela cientista Cristina Melo Rocha, analisou a prevalência de hepatite C entre os Alcoólicos Anônimos (AA) na cidade de Manaus. O resultado demonstrou que a incidência da infecção pelo vírus da hepatite C, em pacientes alcoólatras, é maior que na população em geral e sofre influência da epidemiologia local, que é bastante variável no País, assim como no restante do mundo, conforme Rocha.

Pesquisadores durante levantamento sóciodemográfico.

Pesquisadores durante levantamento sócio-
-demográfico. (Foto: Divulgação)

Denominada ‘Prevalência de Hepatite C entre os Alcoólicos Anônimos (AA)’, a pesquisa contou com o apoio do Governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Iniciado em agosto de 2012, o levantamento está sendo feito pelos estudantes de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Universidade do Estado do Amazonas, Ana Beatriz Figueiredo e Andrio Portilho, respectivamente, ambos bolsistas do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic/FAPEAM).  

Durante a pesquisa, foi verificado que 2,75% dos entrevistados eram positivos para hepatite C. “São números que por si só chamam a atenção e identificam uma população mais vulnerável à infeção viral”, ressaltou Rocha. Ao todo, foram entrevistados 111 voluntários entre os grupos de AA espalhados pela capital. Em Manaus, há 63 grupos, dos quais foram selecionados indivíduos levando-se em consideração a acessibilidade.

Por sua vez, Figueiredo disse que a intenção é que o projeto seja expandido e que o número de entrevistados aumente. Ela também explicou que os participantes foram todos voluntários. “Não houve restrição quanto ao sexo, etnia ou religião. A faixa etária dos participantes foi a partir dos 18 anos, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os entrevistados responderam a um questionário sociodemográfico e a perguntas sobre o estado de saúde”, pontuou.

Complicações à saúde

Doutora em Ciências pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Rocha explicou que a partir do contágio com o vírus da hepatite C, as chances de cura espontânea da infecção são menores no alcoólatra, quando comparada a um indivíduo saudável. Ela disse que uma vez portador crônico da infecção viral, há dois agentes agressores ao fígado: o vírus e o álcool. Consequentemente, a evolução da doença hepática é mais acelerada, com maiores riscos de complicações, como o aparecimento de cirrose e câncer hepático.

A maior dificuldade na associação dessas doenças está em convencer o paciente sobre a necessidade da abstinência alcoólica, de acordo com Rocha. Isso se deve porque o tratamento atual da hepatite C, seja aguda ou crônica, é baseado no uso de medicações com sérios efeitos adversos. “O tratamento exige monitoramento por meio de consultas e exames laboratoriais e o consumo de bebidas alcoólicas acarreta a baixa adesão ao tratamento antiviral e, consequentemente, poucas chances de cura da infecção pelo vírus da hepatite C”, alertou. 

 Hepatite C

A hepatite C é causada por um vírus transmitido principalmente pelo sangue contaminado, mas a infecção também pode passar através das vias sexual e vertical (da mãe para filho). O portador do vírus da hepatite VHC pode desenvolver uma forma crônica da doença que leva a lesões no fígado (cirrose) e câncer hepático. Não há vacina contra a doença.

Luís Mansuêto – Agência FAPEAM

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