Poluição de igarapés causa desaparecimento de peixes
27/09/2012 – A variedade de peixes encontrados nos leitos dos igarapés de Manaus e os impactos causados pelo desmatamento foi a tônica das discussões do “Ciência às 7 e meia”, cujo tema foi “Peixes de igarapés de Manaus: belos, desconhecidos e ameaçados”.
O encontro foi realizado na última quarta-feira (26/09), no Teatro Direcional do Manauara Shopping. Promovido pelo Museu da Amazônia (Musa), o evento acontece toda última quarta-feira do mês e tem como objetivo apresentar ao público os resultados de pesquisas desenvolvidas em instituições locais.
O palestrante foi o biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Jansen Zuanon, que explicou que os igarapés são importantes para a manutenção do microclima de uma região, pois ajudam a drenar as águas pluviais que caem sobre a floresta e alimentam todo um ecossistema. Ele disse que os igarapés sempre fizeram parte do cotidiano dos habitantes da Amazônia, seja como fonte de água de boa qualidade, local de pesca para subsistência e ambiente de lazer. Todavia, apesar dessa proximidade histórica e íntima com a população, eles continuam desconhecidos do ponto de vista ecológico e passam despercebidos pela maioria da população.
Igarapés são ambientes extremamente vulneráveis a impactos ambientais, conforme Zuanon, e encontram-se sob ameaça constante de perturbações por desmatamento, construção de estradas, expansão urbana desordenada, represamento, assoreamento e poluição. “A degradação de igarapés pode comprometer a comunidade de organismos aquáticos, ocasionando até mesmo a extinção de espécies ainda desconhecidas, o que reforça a necessidade e a urgência de estudos sobre esses ambientes”, pontuou.
Doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Zuanon destacou que, hoje, é muito caro recuperar os igarapés urbanos e não se tem certeza de que as águas terão a mesma qualidade. Ele afirmou que se tivéssemos uma cidade com águas com uma qualidade mínima viveríamos em uma Veneza. “Contudo, normalmente, as pessoas tiram toda a mata ciliar (vegetação que fica às margens de rios e igarapés), coloca cimento e poluem tudo. O resultado é um ambiente quente com águas sujas e mal cheirosas. Com 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial daria para solucionar o problema dos esgotos mundiais. Não tem como cuidar dos igarapés de Manaus se não tiver tratamento de esgoto”, avisou.
Em relação ao crescimento da cidade de Manaus, Zuanon disse que a expansão foi muito rápida, à base de invasões e sem planejamento urbano. Em 1960, havia aproximadamente 173 mil habitantes. Em 2007, já eram mais de 1,8 milhão de pessoas vivendo na capital. O resultado foi a fragmentação das áreas de florestas e, consequentemente, alterações físico-químicas nas características das águas dos igarapés. Além disso, há outras perturbações como estradas e represamento de igarapés que são fontes de perturbações e causam a perda da biodiversidade.
Perda da fauna de peixes
Segundo o pesquisador, as características físico-químicas das águas dos igarapés determinam as cores delas, por exemplo, há águas claras, pretas e avermelhadas. Isso se deve também ao tipo de solo onde estão situados e a decomposição de matérias orgânicas que são depositadas nos leitos deles. Entretanto, as alterações causadas pelo homem têm modificado esses cursos d’água e podem causar o desaparecimento de espécies. É o caso do peixe-camaleão (Ammocryptocharax elegans), uma espécie de piaba que tem aproximadamente cinco centímetros, mestre na arte de se camuflar, mas que está desaparecendo.
“Essa espécie é chamada popularmente de peixe-camaleão porque fica parado em meio às plantas submersas, e tem a capacidade de mudar de cor conforme o tipo de ambiente e as variações de luz no igarapé, como tática de defesa e, principalmente, de caça”, explicou o pesquisador.
O peixe-camaleão utiliza modificações na ponta das nadadeiras para agarrar-se às plantas. Ele fica parado em locais de correnteza relativamente forte. Associando sua cor a da planta, ele fica imperceptível aos predadores que caçam orientados principalmente pela visão e, ao mesmo tempo, permite que ele se aproxime de suas presas sem ser notado.
As espécies acará-anão (Apistogramma hippolytae) e tetra beija-flor (Poecilocharax weitzmani) também estão se tornando raras nos ambientes aquáticos dos igarapés devido à poluição e a retirada das matas ciliares. O acará-anão é um parente próximo do tucunaré, mas tem em torno de cinco centímetros. Com coloração avermelhada, detalhes em azul, o tetra beija-flor tem potencial para ser utilizado como peixe ornamental, mas vive em um ambiente pouco acessível.
Zuanon salientou que a maioria dos igarapés tem água clara e fundo de areia. Parece até que não há vida nos igarapés, mas estão cheios de peixes, resta apenas preservá-los.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam