Estudo abre caminho para nova droga contra Chagas
Em busca de um novo fármaco para o tratamento da doença de Chagas, pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, têm se dedicado a estudar uma enzima conhecida como glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH) – essencial para a sobrevivência do parasita Trypanosoma cruzi no organismo humano.
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Durante o doutorado de Gustavo Fernando Mercaldi, foram identificados ao menos 10 compostos químicos capazes de inibir a ação da enzima e matar o parasita com eficiência comparável à da principal droga hoje usada na clínica: o benzonidazol. A pesquisa contou com Bolsa da Fapesp e foi orientada pelo pesquisador Artur Torres Cordeiro, do LNBio.
Mercaldi tenta agora – durante estágio que realiza na Universidade de Dundee, na Escócia, também com apoio da Fapesp – entender como esses inibidores se ligam à enzima-alvo e desvendar a estrutura tridimensional do complexo formado por essa ligação.
Os primeiros resultados da investigação, conduzida em Dundee sob a supervisão do professor Willian Hunter, já renderam ao brasileiro a indicação para o prêmio David Blow Memorial, concedido anualmente pela Associação Britânica de Cristalografia (BCA, na sigla em inglês).
“Esses compostos capazes de inibir a ação da G6PDH podem servir de inspiração para o desenvolvimento de uma nova droga antichagásica, mas antes é preciso entender de que forma se ligam à enzima. Se conseguirmos desvendar a estrutura tridimensional, poderemos desenhar moléculas com ação potencializada”, explicou Mercaldi.
No T. cruzi, a G6PDH está envolvida no metabolismo de glicose. Dados da literatura científica indicam que, quando a enzima é inibida, o parasita torna-se mais suscetível a morrer em decorrência do estresse oxidativo – condição em que ocorre um aumento nos níveis de espécies reativas de oxigênio que danificam moléculas importantes para o funcionamento das células.
Em estudos anteriores, Cordeiro havia testado um grupo de inibidores pertencentes à classe dos esteroides. Mas, como esse tipo de substância interfere no equilíbrio hormonal humano, poderia desencadear efeitos colaterais indesejáveis. Por esse motivo, durante o doutorado de Mercaldi, o grupo decidiu realizar uma triagem de compostos pertencentes a outras classes químicas.
Por um método conhecido como high throughput screening (triagem automatizada em larga escala), os pesquisadores testaram in vitro – colocando apenas a enzima e o candidato a inibidor para interagir – cerca de 30 mil compostos. Os mais promissores foram testados em culturas do parasita. Foram selecionadas 32 moléculas pertencentes a duas classes químicas: tienopiridinas e quinazolinonas.
“Cerca de 10 dessas moléculas, em especial entre a quinazolinonas, mostraram atividade equivalente à do benzonidazol, que é o composto de referência para o tratamento da doença de Chagas. O caminho até chegar a um novo fármaco ainda será longo, mas comprovamos que é possível matar o parasita ao inibir a enzima G6PDH”, avaliou Mercaldi.
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Fonte: Agência FAPESP, por Karina Toledo