Alfredo da Matta avança na área de dermatologia sanitária


13/03/2012 –  Há um ano à frente da Fundação Alfredo da Matta (Fuam), o médico especialista em dermatologia Carlos Alberto Chirano Rodrigues contou que sua história na Fundação começou há 20 anos, quando ingressou na instituição. Pós-graduado na área de oncologia cutânea (câncer de pele), nessa entrevista à Agência de Notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Rodrigues falou sobre os avanços obtidos pela instituição nas áreas de dermatologia sanitária, os projetos sobre hanseníase e os testes rápidos para identificação da carga viral em pacientes soropositivos que moram em municípios do Estado do Amazonas.

 

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Agência FAPEAM – Quais os pilares que norteiam as ações da Fuam?

Carlos Rodrigues – A Fundação trabalha com assistência, ensino e pesquisa. Entretanto, concentramos esforços basicamente na dermatologia sanitária. Além disso, disponibilizamos departamentos e/ou serviços especializados na área de Oncologia Cutânea, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Dermatologia de Interesse Sanitário, na qual estão inseridas todas as dermatoses e a hanseníase. As linhas de pesquisa são sempre voltadas à assistência. Significa que as pesquisas precisam ter desdobramento na assistência ao paciente. 

AF – Como o senhor avalia o papel da FAPEAM no fomento à pesquisa no Amazonas?

/CR – A parceria com a FAPEAM vem desde 2007. A FAP é um divisor de águas no Estado, por atuar como órgão gestor dos recursos para pesquisa científica e identificação das demandas de investimentos. Antes, não víamos trabalhos voltados à assistência ao paciente. Os trabalhos eram mais teóricos e menos práticos. Hoje, existem diversos projetos voltados para aplicação na área de assistência, os quais foram possíveis por meio de programas, como o de Desenvolvimento Científico Regional (DCR – Amazonas) e o de Apoio à Iniciação Científica do Amazonas (Paic). Todavia, temos dificuldade em participar de alguns editais devido ao reduzido número de doutores. Esperamos mudar o quadro com a vinda dos Pesquisadores Visitantes Sêniors (PVS), bem como desenvolver novos procedimentos na área de saúde. 

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Desde o início da parceria com a FAPEAM, já recebemos R$ 330 mil. Os recursos são todos investidos em pesquisa. Atualmente, contamos com 11 bolsas do Paic. Estamos esperando a abertura do novo edital do Pesquisador Visitante Sênior para submetermos uma nova proposta, ligada ao programa de pesquisa voltado para a área de DST. Os investimentos feitos pelo Estado (custeio e manutenção) ou do Governo Federal (Sistema Único de Saúde – SUS) são utilizados na assistência. A vontade do gestor é sempre querer mais para propiciar mais qualidade.

AF – Atualmente, quantos atendimentos são realizados?  

CR – Realizamos cerca de 90 mil consultas ao ano. Durante o mês, são cerca de 300 atendimentos. Todavia, quando o servidor faz o atendimento podemos ter vários desdobramentos, que geram exames, procedimentos, cirurgia, fisioterapia, etc.  

AF – Quais os principais projetos em andamento na Fuam?  

CR – Está em andamento uma pesquisa sobre a resistência da micobactéria responsável pela hanseníase. Os pesquisadores estão investigando por que algumas bactérias apresentaram resistência aos medicamentos utilizados no tratamento, como por exemplo, Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. Verificamos que alguns pacientes tratados não obtiveram cura. Precisamos identificar o que ocorreu e encontrar soluções para o problema. Caso contrário, o paciente retorna todo o tratamento. Ou, então, encontrar outra opção terapêutica, pois as tradicionais não estão resolvendo.  

Também estamos investigando os casos de clamídia de mulheres assintomáticas, ou seja, que não apresentam nenhum sintoma, algumas ficam estéreis e não sabem o porquê. O trabalho tem demonstrado que é uma população jovem, com idade entre 14 e 16 anos. A pesquisa pretende verificar qual o perfil dessas mulheres e como podemos elaborar políticas e programas para diminuir as sequelas. O trabalho é coordenado pela pesquisadora Adele Benzaken. Iremos utilizar dados da rede municipal de saúde, por isso, estamos aguardando autorização para dar início ao levantamento. Estamos tendo esse cuidado porque envolvem menores e há questões éticas.  

AF – Quais as ações para promover a qualificação dos profissionais que atuam na assistência? 

CR – Atualmente, temos o convênio de cooperação técnica com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A parceria permite aos estudantes de graduação fazer as atividades práticas na Fundação, com viés dermatológico, uma vez que a Fuam é referência nessa área. O convênio com a Ufam é tanto em nível de graduação quanto de especialização, pois eles fazem o treinamento dos residentes na área de dermatologia. Contamos com o programa de residência médica, o qual é reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e pela Sociedade de Dermatologia. A coordenação é local e nacional. Além disso, atuamos na capacitação dos servidores da rede municipal de saúde. Isto é, preparamos o pessoal do Programa Saúde da Família e os técnicos que fazem assistência na área de hanseníase, DST e dermatologia sanitária. Realizamos entre 20 e 30 treinamentos ao longo do ano.  

AF – Como o senhor avalia as mudanças ocorridas no perfil da Fundação, agregando além dos serviços, a pesquisa e o ensino? 

/CR – Algumas instituições saíram na frente, por exemplo, a Fundação de Medicina Tropical (FMT), pois realiza pesquisa há mais tempo. A visão que tínhamos das nossas ações era voltada para a assistência. Não pensávamos em pesquisa. Há pouco tempo começamos a colocar em prática a visão de que a Fundação poderia avançar na pesquisa dermatológica e tornar-se um centro de referência. Em nossa história, a Alfredo da Matta tinha essa preocupação, o que se nota pelas publicações já realizadas. Com a universidade capacitando seus alunos aqui, percebemos que tínhamos um campo de pesquisa grande e a FAPEAM ajudou na concretização da ideia. Projetos de pesquisa trazem fomento e insumo que também auxiliam na assistência e os resultados influenciam diretamente no atendimento ao paciente.  

AF – Quais as perspectivas e metas que a Fuam possui na área da pesquisa?

CR – O objetivo da Fundação é concluir o trabalho em andamento sobre a resistência da micobactéria responsável pela hanseníase. Pretendemos iniciar o trabalho a respeito dos casos de clamídia. Na área de HIV e Sífilis, estamos participando de um projeto de validação de um teste rápido para identificação da carga viral dos pacientes – o qual é utilizado como metodologia, o CD4. A meta é utilizar o método em áreas de difícil acesso no Amazonas. Atualmente, encontramos dificuldade para fazer o transporte do sangue de pessoas soropositivas, pois as empresas que fazem esse trabalho têm demonstrado resistência. Outro problema é a locomoção dessas pessoas para a capital. A tecnologia é mais apurada e tem um custo mais baixo. O trabalho é coordenado pela pesquisadora Adele Benzaken. Na área de capacitação, pretendemos fechar uma parceria com a Universidade Federal do Pará em nível de mestrado e doutorado. Hoje, a Fundação conta com 284 funcionários, sendo três doutores, uma doutoranda, 15 mestres, 44 médicos e os outros servidores das atividades administrativas.  

Doenças

Clamídia – é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que afeta os órgãos genitais masculinos ou femininos. A clamídia é um parasita intracelular e pode produzir esporos, o que torna sua disseminação mais fácil.  

Hanseníase – causada pelo bacilo de Hansen, o Mycobacterium leprae, um parasita que ataca a pele e nervos periféricos, mas pode afetar outros órgãos como o fígado, os testículos e os olhos. Não é uma doença hereditária.

Luís Mansueto – Agência FAPEAM

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