Artigo: Ponto e contraponto


13/03/2012 – Os tempos são modernos. E de muita, muita velocidade. As coisas acontecem com tal celeridade, que nos deixam entontecidos diante do volume de informações a circular em todas as mídias. Dizem até alguns especialistas que caminhamos para sermos criaturas de um mundo em que muito se absorve e pouco se analisa. Por trás disso, a insinuação de que, a cada dia, se esfarela o espírito crítico e o lugar comum assume a hegemonia em nossas relações. Confesso que não tenho ainda opinião formada sobre o tema. Por via das dúvidas, vou empreendendo um grande esforço pra nada deixar passar impunemente pelo meu crivo de leitor e ouvinte.

Siga a FAPEAM no Twitter e acompanhe também no Facebook

Nesses dias, por exemplo, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) estabeleceu normas complementares para avaliar o desempenho dos nossos pesquisadores. Dentre elas – e essa me chamou atenção em particular –, a que estabelece o compromisso dos nossos doutores de compartilhar com a sociedade aquilo que fazem no cotidiano dos laboratórios e das pesquisas de campo. Isso se traduzirá em organização de feiras de ciências, promoção de palestras em escolas, artigos e entrevistas concedidas à imprensa. O propósito do CNPq é ampliar a difusão da ciência e popularizar suas ações junto à sociedade.

De minha parte, nada mais justo, por duas razões principais: a primeira apoia-se no fato de que, no Brasil, 90% dos investimentos em pesquisa básica e aplicada saem dos cofres públicos, portanto vejo nisso uma forma de prestar contas aos cidadãos; a segunda, consequência natural da anterior, tem um efeito extremamente benéfico para a própria pesquisa. Quanto mais sabedora do quanto a ciência faz parte de seu cotidiano, da enorme influência que ela tem em todos os aspectos de sua vida, mais a sociedade exigirá dos gestores públicos política de estado para a área.

Na semana passada, por outro lado, passou praticamente despercebida a notícia de que a Petrobras, associando-se ao Programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal, irá investir algo em torno de R$ 320 milhões para especializar 5 mil brasileiros no exterior em áreas de seu interesse de atuação: indústria do petróleo, gás natural, energia e biocombustíveis. Bem que a iniciativa deveria ter merecido manchetes. Afinal, nunca antes na história do País se deu tal feito.

Respeitada a grandiosidade dessa gigantesca empresa, fico aqui trocando ideias com meus botões sobre o avantajado salto científico e tecnológico que o País poderia dar na formação de capital intelectual se muitas de nossas empresas, dentro de suas possibilidades, apadrinhassem a formação de meia dúzia de pesquisadores em áreas estratégicas e de futuro para seus próprios negócios e para o Brasil. Seria uma demonstração de grandeza e de notório espírito nacionalista.

É, começo acreditar que essa história de muita informação para muito pouco tempo de digestão é verdadeira. Fico devendo contraponto a um monte de outros assuntos que foram notícia e que estão quentinhos aqui em minha cachola.

* Odenildo Sena é secretário de Ciência e Tecnologia do Amazonas e presidente do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti). Este artigo foi publicado simultaneamente no jornal Diário do Amazonas, Portal D24AM e Portal Amazônia de 13/03/2012.

Veja mais notícias >>

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *