“O foco do laboratório é explorar a biodiversidade amazônica para desenvolver produtos”, diz pesquisador beneficiado com recursos do governo do Estado para estudos na Amazônia
Em entrevista à Agência FAPEAM (AF), o pesquisador destacou detalhes do universo científico, resultados já obtidos e projetos de pesquisa para o futuro
A região amazônica é um celeiro de grandes descobertas e tem atraído o olhar de diversos cientistas pelas peculiaridades e riqueza natural e com o doutor em Farmácia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor associado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Emerson Silva Lima não foi diferente. Desde 2005, o pesquisador tem desenvolvido projetos com o apoio financeiro do governo do Estado via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Nesse intervalo de 10 anos, sete projetos foram aprovados junto à Fundação. Em entrevista à Agência FAPEAM (AF), o pesquisador destacou detalhes do universo científico, resultados já obtidos e projetos de pesquisa para o futuro, dentre eles, dois que foram classificados e ficaram entre as 80 melhores ideias que concorreram ao Programa Sinapse da Inovação. Confira a entrevista:
AF: Em que consiste a sua ideia inscrita no Programa Sinapse da Inovação?
Emerson Silva: Duas propostas foram inscritas e foram submetidas por alunos do laboratório. As propostas incluem o desenvolvimento de um desodorizante de ambiente e um cosmético. Seria um repelente feito a partir de óleos essenciais da região amazônica, mostrando que esses óleos têm efeito larvicida e adulticida, dentre outras atividades que poderiam ser exploradas.
AF: Quais os resultados alcançados com o estudo sobre plantas amazônicas com efeito inibitório sobre enzimas-chave na hipertensão e diabetes?
Emerson Silva: Este estudo vem dentro de uma linha que nosso laboratório já vem realizando, por meio da qual pretendemos utilizar as plantas da Amazônia para o desenvolvimento de futuros medicamentos e para o tratamento de doenças relacionadas à síndrome metabólica e, dentro da síndrome, a hipertensão, a diabetes e a obesidade são questões importantes. Várias espécies vêm sendo trabalhadas nos últimos anos, podemos citar, por exemplo, o jucá, a insulina vegetal, o crajiru, o mulateiro e a sara-tudo. A gente tenta reproduzir, de certa forma, o que a população utiliza, aproveitamos o conhecimento popular do uso dessas espécies e tentamos mostrar cientificamente que essas plantas têm valor farmacêutico. Um dos resultados mais promissores que já obtivemos, por exemplo, é o caso do jucá que demostrou, assim como o maracujá-do-mato, resultados positivos em animais de laboratório. A nova etapa será a de testes clínicos em pacientes humanos.
AF: Quantos projetos de pesquisa foram desenvolvidos por você com o apoio da FAPEAM?
Emerson Silva: Eu tenho aprovado projetos na FAPEAM desde 2005, são 10 anos. Pelas minhas contas, aprovei cerca de sete projetos diferentes. Como falei anteriormente, o foco principal do laboratório é explorar a biodiversidade amazônica no sentido de desenvolver produtos que sejam aplicados tanto na parte farmacêutica, cosmética, bem como de alimentos funcionais. Nos projetos mais recentes, a gente, cada vez mais, está afunilando, no sentido de ter mais produtos desenvolvidos. No último projeto, por exemplo, já temos contrato de desenvolvimento de produtos com empresas, tentando colocar os produtos no mercado e o apoio da Fundação tem sido fundamental para que possamos desenvolver esses estudos.
AF: As pesquisas científicas podem se tornar negócios de sucesso?
Emerson Silva: Sim, claro. É lógico que esse é um caminho difícil e, às vezes, não é rápido, como muita gente imagina ou como a sociedade espera. Nessa área de fármacos, por exemplo, a gente tem um prazo de 10 anos entre começar uma pesquisa científica até que se torne um medicamento. Não é um tempo longo demais, é um tempo necessário para ter um produto com segurança e eficácia comprovadas. Eu acho que o investimento em formação de empresas ligadas aos laboratórios e universidade, o fortalecimento das startups e iniciativas como a do Sinapse, podem estimular e acelerar o surgimento de empresas a partir de pesquisas. É importante também estimular os pesquisadores a patentearem suas ideias.
AF: Qual sua opinião sobre o cenário atual da pesquisa científica no Amazonas?
Emerson Silva: O Amazonas é um estado em que a pesquisa científica ainda é incipiente, ou seja, temos grupos muito jovens, a nossa pós-graduação é jovem, quando você compara, por exemplo, com a do Sudeste, que tem grupos que possuem de 30 a 40 anos fazendo pesquisa. A pesquisa se desenvolveu, de fato, nos últimos 10 anos e o papel da FAPEAM foi fundamental para isso. Acredito que é necessário existirem focos mais claros e direcionados das agências de fomento. Polos como biodiversidade, turismo, minérios, por exemplo, seriam áreas bem direcionadas e que poderiam fortalecer os grupos de pesquisa.
AF: Qual a sua opinião sobre os próximos anos de pesquisa no Estado?
Emerson Silva: O País passa por um momento que não é bom, então, eu acredito que a quantidade de recursos para as pesquisas irá diminuir nos próximos anos, é um tendência. Uma forma de tentar resolver isso seria abrir mais os grupos de pesquisa e instituições para a iniciativa privada, como na Europa e nos Estados Unidos. Deixar a iniciativa privada também participar de forma mais direta e mais simples, desburocratizar a participação de empresas dentro da universidade, por exemplo. Talvez o cenário nos próximos cinco ou dez anos não seja muito positivo, mas, na crise, achamos estratégias para o crescimento e talvez uma das possibilidades seja a abertura das instituições para a iniciativa privada, permitindo que o dinheiro privado também possa ser revertido em pesquisa.
AF: Quais estudos o senhor pretende realizar no futuro ?
Emerson Silva: Vamos continuar estudando a biodiversidade da região com o desenvolvimento de fármacos, fitoterápicos, cosméticos e alimentos funcionais, estudando frutos e plantas. Recentemente, temos trabalhado no sentido de identificar e isolar moléculas encontradas em plantas e frutos, que serão modificados quimicamente, a fim de gerar novas moléculas com potencial para o desenvolvimento de fármacos. Uma das necessidades da indústria é de ter uma molécula protegida por patente. Então, uma das abordagens que temos é de pegar e sintetizar novas moléculas a partir de protótipos naturais e testar as atividades biológicas, sempre relacionadas a doenças crônicas como diabetes, hipertensão, obesidade, processos inflamatórios e câncer. A outra abordagem é no sentido de desenvolver formulações, a partir das pesquisas básicas, para poderem ser testadas em ensaios pré-clínicos, para mostrar segurança e, futuramente, aprovarmos testes clínicos em pacientes. São duas abordagens que o grupo pretende fazer nos próximos anos.
Francisco Santos /Agência Fapeam
Fotos: Érico Xavier /Agência Fapeam