Livro mostra crescente processo de medicalização da gestação entre os índios Munduruku


A pesquisa durou dois anos, entre 2009 e 2011, e resultou na tese que mostrou a etnografia das práticas de autoatenção relativas à gestação, ao parto e ao pós-parto entre os índios Munduruku

Livro mostra crescente processo de medicalização da gestação entre os índios Munduruku

Fruto de uma pesquisa de doutorado entre os índios Munduruku feita pela pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) Raquel Dias-Scopel, o livro “A cosmopolítica da gestação, do parto e do pós-parto: práticas de autoatenção e processo de medicalização entre os índios Munduruku”, lançado pela editora Paralelo 15, foi agraciado com o 4º Prêmio da ABA-GIZ, edição 2014.

A pesquisa durou dois anos, entre 2009 e 2011, e resultou na tese que mostrou a etnografia das práticas de autoatenção relativas à gestação, ao parto e ao pós-parto entre os índios Munduruku da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, no município de Borba, no interior do Amazonas.

Com recursos do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a pesquisa de doutorado de Raquel Scopel teve como tema central “Gênero e Povos Indígenas na Amazônia” e foi realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Após oito meses de pesquisa de campo realizando observação participante, entrevistas, coletas de narrativas e dados secundários, a autora concluiu que há um processo crescente de medicalização da gestação, parto e pós-parto entre as populações indígenas.

Esse processo de medicalização tem avançado nas aldeias, apesar das iniciativas dos movimentos sociais e governamentais para a humanização do parto e nascimento em âmbito mundial e nacional, e apesar das práticas indígenas Munduruku no trato à gestação, parto e pós-parto continuarem intensamente ativas.

Raquel Dias-Scopel observou que as mulheres Munduruku têm articulado as práticas biomédicas com as práticas indígenas apesar das diferenças radicais entre o modelo médico oficial e os saberes indígenas de atenção à saúde.

Elas têm participado do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, por meio das consultas de acompanhamento pré-natal, ao mesmo tempo em que consultam parteiras, pajés e as mulheres mais velhas da família extensa para pegar barriga, puxar a mãe do corpo, fazer banhos, além de seguirem uma dieta alimentar e cumprirem um conjunto de prescrições e proibições acerca das atividades diárias de trabalho e de lazer.

A etnografia apontou que, para os Munduruku, a gestação, o parto e o pós-parto não são estados fisiológicos peculiares às mulheres apenas, mas, sim, processos de caráter social, que envolvem relações entre homens, mulheres e demais seres que habitam o cosmo.

A pesquisa mostrou ainda que entre os Munduruku também os homens podem vivenciar a gestação, por meio de diversas mudanças socialmente percebidas em seus corpos e comportamentos e eles têm um papel muito importante no cumprimento do resguardo de pós-parto, contribuindo para preservar e manter a saúde, a vida e o bem-estar da mãe e do recém-nascido.

A etnografia destacou a construção social do corpo do bebê no interior de relações afetivas inerentes ao grupo primário, através de esforços coletivos e individuais de cuidado e apoio mútuo. Essas atividades estão inseridas em um campo cosmopolítico, cujo contexto histórico, geográfico e social é caracterizado pela pluralidade médica, pelas relações cosmográficas e interétnicas, as quais comportam subjetividades e intencionalidades diversas.

 Leia a matéria completa

Fonte: Fiocruz Amazônia

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *